Os incêndios florestais em Pacific Palisades e Altadena, que atingem o condado de Los Angeles, na Costa Oeste dos Estados Unidos, foram descritos como apocalípticos pelas autoridades e ainda estão, nesta quinta-feira (9/1), fora de controle e “zero por cento” contidos, foi o que relatou à AFP o chefe dos bombeiros do condado Anthony Marrone. De acordo com a agência de notícias, se contabilizam, até o momento, cinco mortes na cidade.
Ainda na noite de terça-feira (7/1), Hisrael Passarelli, de 28 anos e natural de Itaocara, no interior do Rio de Janeiro, percebia a gravidade do cenário. O doutorando em demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi para a Universidade da Califórnia (Ucla, University of California, em inglês) para realizar um intercâmbio, o chamado “doutorado sanduíche”, pelo programa Fulbright.
O bolsista, que está por lá desde setembro do último ano, relata que notou os primeiros focos de incêndio na última terça-feira (7/1), em que houve, ainda, queda de energia em alguns bairros de West Hollywood, onde mora. Na manhã de quarta-feira (8/1), ele chegou a considerar ir até a Ucla para trabalhar, mas deparou-se com um fumaceiro no caminho e a qualidade do ar em níveis alarmantes, “como eu nunca tinha presenciado antes”, destacou.
Mesmo sem energia elétrica, resolveu voltar para casa. Hisrael conta que monitorava a situação por meio de um aplicativo e, no fim daquela tarde, soube que o fogo atingia Hollywood Hills, área conhecida pela Calçada da Fama e relativamente próxima ao seu bairro. Ele narra que, enquanto insistia pelo olhar de soslaio no aplicativo, organizava seus pertences e documentos importantes, em caso de evacuação.
“Felizmente, alguns amigos que vivem em regiões não afetadas pela queda de energia se ofereceram para me receber, caso eu precisasse recarregar os meus dispositivos eletrônicos para manter contato com outras pessoas”, expõe. Segundo o estudante, os ventos acabaram cessando, o fogo não avançou tanto e ele pôde permanecer em casa, porém, com a rotina ao avesso.
“Desde terça-feira, não tenho ido à universidade. Meu departamento cancelou seminários e outras atividades presenciais que estavam programadas no campus. Atualmente, toda a equipe está trabalhando remotamente”, ele explicou.
Difícil de respirar
Mesmo um pouco distante do epicentro do problema, Vanuza Carvalho, de 33 anos, está em Playa Vista a passeio e confirma que não recebeu alerta de evacuação. Mas descreve que é impossível não perceber a paisagem cinza alaranjada que acompanha as fuligens por todo o lado. “Na terça-feira (7/1) de manhã estavam umas nuvens bem grandes. A qualidade do ar piorou bastante”. Ela, que é mineira de Belo Horizonte, conta que é difícil de respirar, mesmo em um bairro da cidade distante dos que estão acontecendo os incêndios.
“Estou no meio de tudo, mas não chegou para gente ainda, espero que não chegue, e se precisar sair não sei para onde ir”, diz e menciona que as cidades são próximas de carro, “como BH e Nova Lima”, mas que a preocupação paira da mesma forma.
Hisrael confessa que até chegou a arrumar suas coisas, cogitou ir a San Diego, que fica a cerca de duas horas e trinta minutos de carro de onde mora. Conforme o fluminense, o fogo está mais estável em seu bairro, pois equipes de bombeiros e emergências conseguiram conter o incêndio batizado como "Sunset". Ele assegura que a cidade toda segue em alerta, mas que, por ser uma metrópole, cada bairro segue recomendações diferentes.
“Em áreas fora de perigo imediato, os comércios continuam funcionando normalmente. Uma das grandes preocupações era a previsão de ventos fortes nos próximos dias, o que poderia agravar os incêndios”, aponta e diz, também, que a situação sobre o abastecimento de água segue incerta.
A magnitude dos ventos de Santa Ana, tradicionais na Califórnia nesta época do ano, somado à seca atípica dos últimos meses, criou um cenário de pesadelo para os bombeiros, é o que sugerem especialistas ouvidos pela AFP. O desafio foi tamanho que vários hidrantes secaram em meio à luta contra as chamas.
O doutorando reitera que os danos causados são uma tragédia para a cidade, para além das paisagens, parques e biodiversidade local, mas também para famílias atingidas.
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Os incêndios são frequentes no Oeste dos Estados Unidos, mas, ainda conforme divulgado pela AFP, cientistas alertam que a mudança climática, causada pela ação humana, altera os padrões e cria climas extremos, com secas mais prolongadas e intensas, e incêndios vorazes propagando-se rapidamente.