Suspeita de infecção de macacos por febre amarela no Norte de Minas amplia o foco de atenção para a doença no estado. Foram encontrados na região sete animais mortos, cujas vísceras foram encaminhadas para análise laboratorial em dezembro do ano passado. Na quarta-feira, no outro extremo do estado, foi confirmado o primeiro caso de contaminação humana pela enfermidade em território mineiro em 2025. O paciente é um morador de Camanducaia, no Sul de Minas. Também nessa região, dois municípios foram considerados área de epizootia. Os macacos não transmitem a doença aos humanos, mas são considerados “sentinela” da circulação do vírus. Mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes são os principais vetores no país.
No caso do Norte de Minas, os macacos mortos foram encontrados na zona rural dos municípios de Coração de Jesus e São João do Pacuí, em ação de investigação e controle de febre amarela realizada pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros. As vísceras dos animais foram encaminhadas para o laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte no fim do mês.
O Estado de Minas entrou em contato com a Funed e com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais para saber se as análises já foram concluídas. A pasta não respondeu, enquanto o laboratório afirmou que não pode dar informações sobre resultados de exames “por motivo de confidencialidade e em observância à Lei Geral de Proteção de Dados.
Os último dados publicados pela pasta em seu site sobre suspeitas e confirmações de primatas não humanos (PNH) contaminados pela febre amarela na temporada 2024-2025 – para a febre amarela, o Ministério da Saúde considera o calendário epidemiológico entre junho de um ano e julho do seguinte – são de 4 de setembro, quando havia quatro epizootias em investigação, 57 indeterminadas e 24 descartadas. Consultada, a assessoria da SES não informou se dispõe de alguma atualização.
Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que, no ano passado, foram confirmados sete casos de febre amarela em macacos. No entanto, o órgão não detalhu quando e em que municípios mineiros foram registrados os casos.
Na quarta-feira, a SES confirmou que um homem, de 65 anos, está fbre amarela, configurando o primeiro caso da doença em Minas neste ano. O morador de Camanducaia está internado em um hospital de São Paulo, onde faz tratamento oncológico para tratar um linfoma, mas não corre risco de morte.
Em nota ao Estado de Minas, a Prefeitura de Camanducaia informou que as equipes das Estratégias de Saúde da Família (ESF’s) já iniciaram o plano de ação contra a febre amarela na região. O Executivo municipal afirmou também que a vacinação, que está disponível durante todo o ano, “está sendo realizada imediatamente para todos os que ainda não foram imunizados”.
De acordo com a SES, a suspeita é de que a contaminação do paciente tenha ocorrido no sítio dele, localizado perto de Itapeva, município no Sul de Minas classificado como “área de epizootia”, devido ao surto da doença entre animais. Na mesma região de Itapeva, que integra a Unidade Regional de Saúde de Pouso Alegre, o município de Ipuiúna registrou outras duas epizootias para febre amarela neste período sazonal (2024/2025).
Vacinação na vizinhança
Na segunda-feira, o Ministério da Saúde entregou 100 mil doses extras de vacina contra a febre amarela para São Paulo, que faz divisa com Minas, após registros de casos da doença em macacos. Na mesma data, a Secretaria de Estado de Saúde paulista confirmou que exames realizados em quatro primatas do câmpus da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, testaram positivo para a doença.
Embora os mamíferos não transmitam a doença ao homem, a contaminação é um indicativo da circulação do vírus. Por isso, na cidade, a campanha de imunização foi intensificada. Segundo a administração municipal, equipes da Vigilância Epidemiológica da cidade iniciaram, na última sexta-feira (3/1), a aplicação de doses em pessoas que moram ou trabalham no câmpus e que nunca receberam a vacina.
Transmissão
No Brasil, o ciclo da doença atualmente é silvestre, com transmissão por meio dos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos de febre amarela urbana – transmitida pelo Aedes aegypti – foram registrados no país em 1942. A enfermidade é endêmica na região amazônica, mas, de tempos em tempos, emerge em outros pontos. O padrão é sazonal, com a maior parte dos casos ocorrendo entre dezembro e maio. Surtos acontecem quando o vírus encontra condições favoráveis para a transmissão, como altas temperaturas, baixas coberturas vacinais e alta densidade de vetores (os mosquitos) e hospedeiros (macacos e seres humanos).
Entre 2014 e 2023, foram registrados 2.304 casos de febre amarela em humanos, com 790 óbitos. Em Minas, o pior período ocorreu entre 2016 e 2018, quando o estado passou por duas epidemias consecutivas da doença, com um total de 1.006 infectados e 340 mortos. No ano passado, houve uma morte provocada por febre amarela em Minas, em Monte Sião, na Região Sul.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho