O Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) alertou nesta quinta-feira (9) sobre a ameaça que poderia representar para o funcionamento do observatório Paranal, no norte do Chile, a construção de um projeto para produzir hidrogênio e amoníaco verdes, devido à poluição luminosa.

Os cientistas acenderam o alerta diante do início da tramitação ambiental de um "megaprojeto" para produzir hidrogênio e amoníaco verdes por parte da empresa chilena AES Andes.

O projeto estaria localizado em Taltal, na região de Antofagasta, a entre cinco e 11 quilômetros de distância de Paranal, que abriga o Very Large Telescope, um dos instrumentos óticos mais poderosos do mundo. Junto dele está sendo construído o Extremely Large Telescope, com capacidade ainda maior.

"As emissões de poeira durante a construção, o aumento da turbulência atmosférica e, especialmente, a poluição luminosa, terão um impacto irreparável nas capacidades de observação astronômica", advertiu o diretor-geral do ESO, Xavier Barcons, em comunicado.

Paranal foi inaugurado em 1999 e fica em pleno deserto de Atacama, o mais árido do mundo e lugar ideal para a observação astronômica por seu clima seco, grande altitude e ausência de nuvens e chuva.

O complexo é parte da rede de observatórios astronômicos que estão situados no Chile, entre eles o radiotelescópio Alma e o telescópio ótico de La Silla.

No fim de dezembro, a companhia AES Andes informou que o projeto inclui "a produção de hidrogênio e amoníaco verde, bem como o desenvolvimento de energia solar, eólica e de armazenamento em baterias", em linha com o objetivo do Chile de ampliar a origem renovável de sua matriz energética.

A AES Andes foi procurada pela AFP, mas não fez comentários.

Para Itziar de Gregorio, representante do ESO no Chile, "é crucial considerar localidades alternativas para este megaprojeto que não coloquem em perigo um dos tesouros astronômicos mais importantes do mundo".

Em outubro de 2024, entrou em vigor no Chile uma nova regra de luminosidade para proteger lugares próximos aos observatórios, mas também a saúde de pessoas e animais.

A normativa estabelece limites de luminosidade, horários máximos de funcionamento de telões publicitários, além de promover a transição para o uso de luz quente, que produz menos luminosidade.

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