Vinte e um ano depois de lançar o Fome Zero, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma a prioridade de retirar milhões de brasileiros da situação de insegurança alimentar e fome extrema. Em todo o Brasil, no passado, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome. Entretanto, 2,5 milhões ainda estão em insegurança alimentar severa. Eram 17,2 milhões de brasileiros.


A insegurança alimentar severa caiu de 8,5%, no triênio 2020-2022, para 6,6%, no período 2021-2023. Em números absolutos, isso significa que 4 milhões saíram da insegurança alimentar severa. Esses resultados fazem parte do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (Sofi 2024), divulgado na quarta-feira. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil, Wellington Dias, anunciou que o governo trabalha para que o Brasil deixe o Mapa da Fome até 2026.


O relatório foi apresentado durante as reuniões do G20, no lançamento da Aliança Global contra a Fome. Essa é a grande aposta do Brasil na presidência rotativa do grupo formado pelas 19 maiores economias do planeta mais União Europeia e União Africana. O objetivo é promover a cooperação financeira e técnica entre os países para erradicar a fome no mundo.


Em países de dimensões continentais ou em situação de risco, devido a guerras ou eventos ambientais extremos, por exemplo, a questão alimentar é um problema a ser enfrentado permanentemente. O Brasil havia conseguido deixar o Mapa da Fome em 2014. Porém, a insegurança alimentar aumentou ao longo dos anos. O bom resultado obtido em 2023 deve-se a políticas públicas voltadas para o combate à pobreza, como Bolsa Família, Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos.


Temos expertise para liderar um projeto como esse — de sair do Mapa da Fome em menos de dois anos —, mas precisamos fazer o dever de casa simultaneamente. Houve um grande retrocesso durante os últimos anos devido à pandemia e à desarticulação das políticas públicas de combate à pobreza pelo governo passado.


A agricultura brasileira, hoje, é uma das mais produtivas do mundo, somos grande produtor de grãos e proteína animal. Entretanto, é preciso que o sucesso do nosso agronegócio de exportação tenha como contrapartida, também, uma agricultura diversificada, voltada para o abastecimento da população.
Na Câmara Federal, o recente debate sobre a inclusão ou não da carne na cesta básica — ou seja, a proteína animal — mostrou que o acesso à alimentação de qualidade não é uma questão apenas de cultura alimentar, mas também sobre a necessidade de erradicar privilégios e desconcentrar a renda.


Também não se pode ser indiferente ao que acontece no mundo. As perspectivas não são boas. Para 2030, estima-se que 582 milhões de pessoas ainda enfrentarão desnutrição severa, mais da metade na África. Insegurança alimentar e o acesso desigual a recursos para custear as dietas saudáveis estão entre os principais motivos. Sem fontes privadas para enfrentar o problema, os recursos públicos são insuficientes.
Há um norteador definido na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em setembro de 2015. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda mundial para acabar com a pobreza e as desigualdades, um pacto que envolve os 193 estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e que deve ser cumprido até 2030.