EDUARDO BATISTA
Doutorando em teologia pastoral pela PUC-Rio e coordenador dos cursos de história e sociologia da EAD UniCesumar

Neste ano, a cidade do Rio de Janeiro se tornou o palco central de um dos encontros mais aguardados: o G20, que reúne os líderes das principais economias mundiais. Em meio a um cenário global repleto de desafios, como crises humanitárias, mudanças climáticas e desigualdades crescentes, uma proposta emergiu como destaque da cúpula esse ano: a criação de uma “Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza”. A ideia – ambiciosa e urgente – busca mobilizar esforços internacionais para combater a pobreza extrema, que ainda afeta cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, segundo o Banco Mundial.

Será que estamos diante de um marco histórico na luta contra a desigualdade, ou este será apenas mais um documento diplomático que se perderá em meio às burocracias e disputas de interesse?

A pobreza é um problema estrutural que não se limita à falta de recursos financeiros. Ela reflete a ausência de acesso a direitos básicos, como saúde, educação e moradia digna. No entanto, combater a pobreza em escala global exige mais do que boas intenções: é necessário enfrentar sistemas econômicos que perpetuam desigualdades e revisar a forma como os recursos são distribuídos.

A proposta apresentada no G20 promete a criação de um fundo multilateral, financiado por contribuições de países ricos e emergentes, além de uma reforma nas políticas de dívidas externas dos países em desenvolvimento. A ideia é promissora, porém sua viabilidade prática encontra obstáculos. Historicamente, compromissos internacionais semelhantes foram sufocados por interesses nacionais, burocracias institucionais e a falta de mecanismos de cobrança efetiva.

Os países que compõem o G20, responsáveis por mais de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) global, têm uma responsabilidade ética e política no combate à pobreza. No entanto, é contraditório que as mesmas nações que se comprometem com uma “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza” financiem políticas protecionistas ou permaneçam inertes frente ao impacto das mudanças climáticas, que agravam a situação de comunidades vulneráveis.

Além disso, a retórica sobre a necessidade de crescimento econômico inclusivo muitas vezes ignora um fato essencial, que o crescimento, por si só, não garante a redução da pobreza. A experiência de economias emergentes, como o Brasil e a Índia, comprova que o crescimento econômico pode coexistir com desigualdades sociais extremas, a menos que sejam adotadas políticas públicas específicas para redistribuir renda e oportunidades.

Enquanto os líderes globais discutem estratégias, a sociedade civil desempenha um papel crucial para garantir que essas promessas sejam mais do que palavras vazias. Organizações não governamentais, movimentos sociais e acadêmicos têm a responsabilidade de monitorar os compromissos assumidos, cobrar transparência e pressionar por ações concretas.

No caso do Brasil, anfitrião do encontro, o desafio é ainda maior. Apesar dos avanços significativos nas últimas décadas, a pobreza voltou a crescer nos últimos anos, impulsionada principalmente pela crise econômica. O país, ao sediar essa discussão global, tem a oportunidade de se posicionar como líder no debate, mas também enfrenta a pressão de demonstrar resultados dentro de suas próprias fronteiras.

A “Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza” é, sem dúvida, uma ideia carregada de esperança. Porém, o sucesso dessa iniciativa dependerá de mais do que promessas bem elaboradas. É preciso coragem política para enfrentar as desigualdades sistêmicas, compromisso financeiro para sustentar programas de longo prazo e uma verdadeira parceria global que transcenda interesses individuais.

Se o G20 realmente deseja transformar a Cidade Maravilhosa no berço de uma nova era na luta contra a pobreza, será necessário agir com urgência, responsabilidade e transparência. Caso contrário, corremos o risco de testemunhar mais um momento de oportunidade perdido, enquanto milhões continuam a sofrer em silêncio.