Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

O Natal oferece à humanidade a límpida e inesgotável fonte do amor de Deus. E a humanidade precisa ser banhada por esse amor maior – necessidade tão forte e evidente que a liturgia da Igreja celebra anualmente o Natal de Jesus, celebração vivida fortemente por vários dias, com seus ritos, silêncios, proclamações e interpelações, capazes de contribuir para que todos alcancem o sentido da salvação: o Filho de Deus se dignou a vir e a tornar-se o Emanuel, Deus Conosco. O ato de amor de Deus é desconcertante. O Verbo Eterno, Jesus Cristo, filho amado de Deus-Pai, entra na carne humana, para alargar e iluminar o horizonte novo da humanidade. Garante, assim, a salvação do mundo, ameaçada pelos limites do próprio ser humano. Santo Agostinho diz, com sabedoria: “Ele vem a nós pelo que assumiu de nós e nos salva pelo que manteve de si mesmo”. Há de se reconhecer o lastro destrutivo da fraqueza humana, desarrumando vidas, estreitando horizontes, adoecendo e dizimando, conforme mostram os cenários de pobreza, de guerras e exclusões. O Natal anuncia a graça da indispensável renovação da vida de cada um, por uma humanidade restaurada nos parâmetros do amor maior.

Celebrar o Natal é convite-convocação para superar a fraqueza humana diante da missão de se fazer o bem. Essa fraqueza descompassa a vida com escolhas que estão na contramão do equilíbrio ecológico, humano, social, econômico e político. O Natal é a experiência renovada para que os cristãos retomem o caminho da salvação, com suas dinâmicas próprias, renovando e fortalecendo a identidade daqueles que acolhem a missão insubstituível de seguir o Salvador do mundo, Jesus Cristo, o Menino-Deus que vem ao encontro de todos. E seguir Jesus pede o abandono de tudo o que, internamente, gera incapacidade para amar, fixando o olhar em Cristo, deixando-se impactar pela simplicidade de Jesus – o modo como Deus entra nas condições humanas. O exercício desse desapego alarga horizontes, dissipa sombras que envolvem a existência humana, possibilitando um caminho luminoso, livre de estreitamentos doentios. Faz prevalecer a força do amor, capaz de transbordar solidariedades e fraternidade, essenciais às mudanças que todo ser humano deve almejar.

Ensina bem a mística oriental o quanto importa o esforço para cumprir os mandamentos de Deus, o amor maior, Aquele que primeiro amou. Aqueles que verdadeiramente se esforçam e cumprem os mandamentos recebem de Cristo o verdadeiro troféu. Por isso mesmo, Natal é tempo de pedir, insistentemente, a sabedoria essencial ao exercício da misericórdia e ao reconhecimento da verdade, para não ceder espaço à maldade ou ao domínio do maligno. É tempo de bater às portas de Deus, com constância, para garantir que sejam escancarados os caminhos para o céu. Assim, a celebração e vivência do Natal constituem leitura atenta e imersão na força do Evangelho, abrindo rico itinerário, reorientando os rumos da vida, a redefinição de propósitos, cultivando a disposição profética de se buscar a justiça e a paz. Natal é, pois, o exercício da consciência a respeito da própria dignidade de filho e filha de Deus, irmãos e irmãs uns dos outros, livrando os corações de intrigas, maldades e ressentimentos. A dignidade maior – todos filhos e filhas de Deus – é resgatada com a encarnação do Verbo, sua paixão, morte e ressurreição.

Nesta celebração do Natal de Jesus é inaugurado, a partir da convocação do Papa Francisco, o Ano Jubilar 2025 – todos chamados ao exercício espiritual de ser peregrinos de esperança, buscando a reconciliação com Deus, consigo mesmo, com os semelhantes e com a natureza. A vivência dos Anos Jubilares é tradição da Igreja Católica, instituída em 1300 pelo Papa Bonifácio VIII, para favorecer a experiência de se buscar a graça de Deus, trilhando o caminho da reconciliação com o Criador. Em 2025, o convite é para que todos cultivem esperança, reconciliando-se e reconquistando a inteireza perdida, no horizonte da afirmação de São Paulo apóstolo, escrevendo aos Romanos: “A esperança não decepciona”.

Há de se viver os dias do Ano Jubilar, buscando participar das peregrinações, das celebrações e das vivências zelosamente preparadas pela Igreja – indo a Roma ou às igrejas jubilares mais próximas, para qualificar ainda mais o próprio tecido interior. Uma qualificação imprescindível para conquistar a força essencial às grandes mudanças na própria vida, na sociedade e no mundo. É tempo de curar os desânimos, superar os medos, ceticismos e pessimismos, firmando os passos na confiança, na serenidade e na certeza da graça de Deus, redentora e salvífica. Uma ocasião para reavivar a esperança, alicerçada em Cristo – a esperança fidedigna – e, assim, ajudar a arquitetar um futuro mais harmonioso para a humanidade. Todos aceitem o convite para viver o Ano Jubilar 2025, buscando se encontrar, qualificadamente, com a esperança, com Jesus Cristo. Cada pessoa se torne qualificado peregrino de esperança, especialmente neste tempo de Jubileu, oportunidade singular para nutrir a vida com o amor de Deus – a esperança que não decepciona.