Fernando Dini Andreote

Professor titular em Microbiologia do Solo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP)

Fernando Tupich

Regional Marketing Manager - LATAM da Novonesis

Os microrganismos participam de processos naturais na dinâmica do solo, interagindo com as plantas para a absorção de nutrientes, água e sua estruturação. Sempre que pensamos em melhorar a qualidade biológica do ambiente agrícola, lembramos de melhorias na qualidade do solo e também no desenvolvimento das plantas. Isso envolve uma série de processos.

O Brasil é um país que se destaca fortemente na área de pesquisa em microbiologia, principalmente na agricultura, e tem grande relevância na aplicação desse conceito. Embora existam diversos grupos ao redor do mundo realizando pesquisas de qualidade, o Brasil ocupa hoje uma posição de destaque na aplicação prática dessa ciência, especialmente no uso de biológicos na agricultura para buscar maior desempenho. Dados de 2023 apresentados pela Embrapa mostram que o Brasil liderou o mercado mundial de biológicos aplicados na agricultura. Essa transição do teórico para o prático traz inovação, permitindo que o produtor utilize essa tecnologia de forma mais assertiva.

Os microrganismos atuam em diversas frentes, uma delas está na reestruturação de áreas degradadas. Este é um tema bastante amplo, pois abrange pastagens degradadas, áreas de mineração e regiões que sofreram desertificação. Não se trata apenas de produtos biológicos, mas também de manejos que promovem uma melhor estruturação biológica, acelerando o processo de recuperação. O que isso significa? A dinâmica funcional dos microrganismos e sua capacidade metabólica podem acelerar a recuperação do solo, a ciclagem da matéria orgânica, o crescimento das plantas e, assim, restabelecer a cadeia natural desses solos, contribuindo significativamente para a regeneração dessas áreas.

Os efeitos positivos são inúmeros, mas o que está em maior evidência é a descarbonização. Existem várias maneiras para podermos conectar o uso de microrganismos com a questão do carbono. A primeira, mais direta, seria a geração de ferramentas biológicas, em substituição a outros insumos, que têm uma emissão de carbono maior do que os biológicos, principalmente, de adubação nitrogenada.

Há também outros processos que, embora não tão perceptíveis, são cientificamente comprovados. Por exemplo, uma lavoura que produz uma maior biomassa, não apenas da produção em si, mas da planta como um todo. Isso resulta em um maior sequestro de carbono, armazenado na forma orgânica. Consequentemente, isso representa um ganho. Outro benefício é o aumento da matéria orgânica no solo, que, por meio da atividade biológica, dá origem a formas mais estáveis de carbono, especialmente o carbono que permanece no solo por longos períodos — décadas ou até séculos —, formado pela interação da atividade biológica com a fração mineral dos solos. Assim, os microrganismos contribuem significativamente para o maior sequestro de carbono na agricultura.

Certamente, a agricultura faz muito mais uso de insumos biológicos do que a pecuária atualmente, embora as pastagens apresentam grande potencial. O que direciona a intensidade do uso é, em grande parte, a pressão de mercado. Embora todas as culturas respondam bem ao uso de biológicos, o grande mercado hoje se concentra na soja, cana, milho, café e, em menor escala, no algodão e hortifruti. Essas são, provavelmente, as culturas que mais demandam e utilizam essa tecnologia atualmente.

Sem dúvida, tecnologias como inteligência artificial, big data e machine learning auxiliam em diversas áreas, e na aplicação de biológicos não é diferente. O grande avanço está, principalmente, na criação de parâmetros de qualidade biológica do solo, algo que ainda está em desenvolvimento. Existem muitas análises disponíveis, muitas delas excelentes e com evidências claras de sua eficácia, mas a parametrização continua sendo um desafio.

O que seria considerado um bom ou mau valor em relação aos dados biológicos, independentemente de seu tipo? É nesse ponto que a inteligência artificial pode fazer uma grande diferença, ajudando a parametrizar e a desenhar um mapa do Brasil, ou até do mundo, que mostre as características desejadas da biologia do solo. Com isso, será possível monitorar esse processo de forma mais assertiva.