Quando se tenta enxergar além do horizonte deste 2025 que vem chegando, o que se percebe, a preços de hoje, é que tem tudo para ser um ano difícil na economia e que as relações entre o Palácio do Planalto e o Congresso prenunciam manterem-se em níveis pouco amistosos. Arthur Lira deixa a presidência da Câmara, mas isso não quer dizer que prescindirá da influência consolidada em dois mandatos à frente da Casa. Isso permite antever que as matérias relacionadas à estabilização das contas públicas continuarão enfrentando tramitações difíceis. Nesse jogo de influência, o deputado Hugo Motta – provável sucessor de Lira – tem dado indicações de que se alinhará àquele que ainda ocupa a cadeira mais elevada do plenário.
Mas isso faz parte do permanente cabo de guerra travado entre os poderes da República quando prevalece a democracia. O ser estranho neste cenário é o golpismo, a excitação de grupos radicais – militares e civis – que se acreditam virtuosos e únicos capazes de conduzir o Brasil ao paraíso bíblico que imaginam existir. Para eles, a lei tem sido implacável. E isso permite dizer que, nesta seara, o país fecha o ano em condições de olhar para frente com a cabeça erguida.
A corroborar isso, pesquisa de opinião divulgada em 18 de dezembro mostra que 52% dos brasileiros acreditam que se arquitetou, e foi levada adiante, uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Eventos ocorridos antes, reforçados por discursos e gestos registrados para a posteridade, e provas coletadas depois, não dão margem a qualquer dúvida sobre a ruptura institucional que estava a caminho. Da parte dos personagens envolvidos na trama, jamais houve dubiedade sobre o que pretendiam.
Ainda que enxerguem violações a uma lei que não lhes serve, porque não os beneficia nem dá suporte aos seus atos, seus advogados não podem jamais negar que lhes é cerceada a defesa. Para eles, e para o restante da sociedade, o Judiciário permanece aberto à melhor argumentação dentro das balizas legais. Algo que não é possível acreditar que ocorreria caso o país vivesse uma exceção institucional.
Fechamos 2022 sob a tensão, e os indícios, de que se urdia um ataque frontal e definitivo à democracia. Encerramos 2023 sob a preocupação de que esta ameaça não estivesse completamente dissipada. Mas concluímos 2024 com a convicção de que a mancha do golpismo está sendo removida – não sem o esperneio de seus adeptos e porta-vozes – por meio do necessário remédio: o devido processo legal.