O desligar da última urna eletrônica raramente marca o fim da agitação típica de um ano eleitoral. Com a divulgação dos números finais, os candidatos eleitos e os não eleitos, normalmente se iniciam as movimentações para construção de um novo mandato, adequação dos aliados ao longo da campanha na estrutura de governo e – em casos que se mostraram mais comuns do que deveriam na última década brasileira – lidar com discursos de não aceitação do resultado da votação.
Em Belo Horizonte, os dias finais de 2024 são marcados por uma suspensão nas negociações que formarão o poder na capital mineira a partir de janeiro. Fuad Noman (PSD) passou por uma campanha eleitoral acumulando missões hercúleas. Enquanto tentava se tornar conhecido do eleitorado, brigava com candidatos mais populares, chegou ao segundo turno e conseguiu virar uma vantagem de quase 100 mil votos para se manter na cadeira de prefeito. Tudo isso somado a um tratamento oncológico bem-sucedido com a remissão de um linfoma não hodgkin.
O prefeito, felizmente, está livre do câncer, mas seguiu com complicações de saúde que o levaram a internações sucessivas. Apoiado por uma grande gama de partidos durante a eleição, Fuad parece estar mesmo disposto a dar sua cara ao governo na nova gestão e pretende lidar pessoalmente com as negociações de cargos da prefeitura.
O prefeito conseguiu vitórias importantes na Câmara Municipal de BH após sua reeleição: teve aprovação de bilhões de reais em empréstimos para obras na cidade e emplacou, enfim, uma reforma administrativa que dará um caráter autoral à sua gestão, herdada de Alexandre Kalil em 2022. A nova estrutura da prefeitura inclui a criação de quatro novas secretarias e duas coordenadorias. Faltando pouco mais de uma semana para o fim do ano, não há sequer rumores sobre os nomes que podem assumir as pastas.
Vereadores da bancada governista na câmara e nomes que participaram da campanha de Fuad repetem em uníssono que as negociações estão suspensas. É comum ouvir também que o prefeito está montando a nova gestão de forma meticulosa e quer acompanhar as tratativas. O grupo está coeso quando a questão é evitar falar sobre as movimentações.
Até aqui, só Gilson Guimarães (PSB) é uma figura mais nítida como integrante da Coordenadoria Especial de Vilas e Favelas. O vereador não conseguiu se reeleger, mas deve seguir na política na nova estrutura criada a partir da reforma administrativa. À coluna, ele disse que o convite partiu de seu colega de parlamento e vice-prefeito eleito Álvaro Damião (União Brasil).
O posto de primeiro responsável pelas secretarias de Segurança Alimentar e Nutricional; de Mobilidade Urbana; de Administração Logística e Patrimonial; e da Secretaria-Geral segue como uma incógnita. O mesmo vale para a Coordenadoria Especial de Mudanças Climáticas e mesmo para a de Vilas e Favelas, já que Guimarães aguarda por uma definição de Fuad.
A entrada definitiva de Bruno Miranda (PDT) como candidato à presidência da Câmara Municipal também está carente de uma definição. A possibilidade do líder de governo se posicionar como opositor à já incensada candidatura de Juliano Lopes (Podemos) pode ser definida até o dia da votação, em 1º de janeiro.
A ausência de rumores e as negociações suspensas respeitam a torcida pela recuperação de Fuad Noman, hoje em sua terceira internação em menos de um mês. É uma esperança democrática de que o resultado das urnas seja atendido e o pessedista possa dar sua cara ao governo, o que lhe é de direito. (Bernardo Estillac)
Vice descarta adiamento
A pouco mais de uma semana para a cerimônia oficial da posse do prefeito, Álvaro Damião garante que o entorno de Fuad Noman não trabalha com a hipótese de adiar o rito. Embora seja uma brecha prevista regimentalmente, a esperança é manter a data original, em 1º de janeiro. “Regimento permite, mas a gente nem comentou sobre essa possibilidade. Acreditamos na recuperação do prefeito e estamos torcendo para que tenha alta o mais breve possível”. (Thiago Bonna)
Consulado
O consulado da Síria em Belo Horizonte mudou a bandeira exposta na fachada. Com pouco tempo para acompanhar a mudança geopolítica, a fachada do casarão que abriga a representação do país na Savassi, Centro-Sul da capital, apresenta agora a bandeira nova da oposição vitoriosa, em conjunto com o brasão antigo, utilizado pelo governo deposto de Bashar al-Assad. O registro foi feito na tarde de ontem. (Túlio Santos)
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
Pacheco agradece nordestinos
Ao lado do governador Romeu Zema (Novo), durante a votação do Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), louvou o esforço de parlamentares do Nordeste para aprovar o projeto. Zema já protagonizou episódios com críticas à capacidade produtiva dos nordestinos, mas agora se beneficia do voto dos representantes dessa região, que não tem grandes dívidas com a União, para aprovar medida que favorece os cofres mineiros. “Em nome de Minas Gerais, gostaria de agradecer aos estados do Nordeste pela solidariedade federativa, um dos princípios constitucionais que está pautando esta votação”. (Alessandra Mello)