Uso do Ozempic para perda de peso levou à escassez do produto -  (crédito: Reuters)

Uso do Ozempic para perda de peso levou à escassez do produto

crédito: Reuters

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - A era Ozempic acaba de ganhar novos capítulos com a chegada de uma outra onda de medicações sintéticas que ajudam o corpo a se sentir saciado e emagrecer. Além de perdas que alcançam, em média, 23%, esses produtos surgem como versões otimizadas, com efeito prolongado e até doses injetáveis mais espaçadas.

 

Para 2025, o destaque nos consultórios médicos promete ser o Zepbound, versão para tratamento de obesidade do antidiabético Mounjaro. Fabricado pela farmacêutica Eli Lilly, a medicação tem como princípio ativo a tirzepatida e provoca reduções médias anuais de peso de 22,9%.

 

 

O índice é sete pontos percentuais maior que os já revolucionários 15,8% de redução de massa corporal provocados pela semaglutida, base do Ozempic (diabetes) e do Wegovy (obesidade), ambos da Novo Nordisk.

 

Na mesma linha, mas ainda em fase de estudos, há também o MariTide, da Amgen, que permitiu até 20% de decréscimo ponderal em um ano.

 

A nutricionista Bruna Nunes Magesti, professora da pós-graduação da Faculdade Caduceu e doutora em enfermagem pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), reforça que há mais novidades para a obesidade e sobrepeso em desenvolvimento.

 

A fabricante do Wegovy, por exemplo, já está na segunda fase de uma pesquisa que combina semaglutida com cagrilintida, a CagriSema (sem nome comercial definido).

 

"Em pacientes com diabetes tipo 2, levou a uma redução significativa nos níveis de glicose no sangue e à perda de cerca de 16% do peso corporal", destaca Magesti.

 

A empresa, porém, espera resultados mais rápidos que os da semaglutida e aponta que há potencial no CagriSema 2,4 mg para reduções maiores do peso corporal ao longo do tratamento.

 

A Novo Nordisk tem desenvolvido ainda, em formatos oral e injetável, a amicretina (também sem nome comercial definido até o momento). Essa medicação reduziu, na fase de estudo, em média, 13,1% do peso corporal dos pacientes ao longo de 12 semanas.

 

"Da mesma maneira que nossos medicamentos à base de liraglutida (Saxenda) e de semaglutida (Wegovy) revolucionaram o tratamento da obesidade ao oferecer uma abordagem farmacológica mais eficaz e segura, nossas pesquisas e inovação nesse segmento estão a todo o vapor com as moléculas Cagrisema e Amicretina", afirma Marcela Caselato, diretora de assuntos médicos da Novo Nordisk no Brasil.

 

O orforglipron, da Eli Lilly, por sua vez, combina múltiplos hormônios intestinais, como GLP-1, GIP e glucagon. "Essas medicações visam oferecer melhores resultados em perda de peso, com alguns testes mostrando reduções superiores a 25% do peso corporal e eles têm potencial para facilitar o tratamento ao serem formulados como comprimidos, eliminando a necessidade de injeções", afirma Magesti.

 

A combinação de GLP-1 e glucagon é foco de outros medicamentos inovadores, criados por diferentes empresas, como o survodutide, que na fase 2 de testes indicou redução de peso entre 15% e 20%.

 

"Os estudos ainda estão em andamento, e maiores perdas de peso podem ser observadas à medida que avançam. [Tem ainda] o pemvidutide, também combinando GLP-1 e glucagon, que está sendo investigado para o tratamento da obesidade e da doença hepática gordurosa", destaca Magesti.

 

O pemvidutide até o momento promoveu perdas de peso entre 10% e 20%, sendo que cerca de um terço das pessoas na dose mais alta alcançou redução superior a 20%.

 

O médico Antonio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia e metabologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do Núcleo de Obesidade da Secretaria de Saúde de Santo André (SP), diz que a nova geração de remédios, além de eliminar mais quilos, traz praticidade.

 

"Se o MariTide não ultrapassa o tirzepatide na média de emagrecimento, aproxima-se muito, e, se preencher os critérios de segurança e eficácia nas próximas fases de seu estudo, irá para as prateleiras carregando a vantagem de ser injetável de uso mensal", destaca Nascimento.

 

Em nota divulgada em 26 de novembro, a Amgen declarou que a segunda fase de testes do MariTide "demonstrou até 20% de perda média de peso em 52 semanas sem um platô de perda de peso em pessoas vivendo com obesidade ou sobrepeso."

 

A medicação "é o primeiro tratamento para obesidade com dosagem mensal ou menos frequente" a demonstrar-se segura e eficaz em um estudo de fase 2.

 

Diferente dos princípios do Wegovy e do Zepbound, que simulam o hormônio do intestino GLP-1, a droga da Amgen é um anticorpo de peptídeos chamado de maridebart cafraglutide (ou AMG 133), também ligado aos receptores de GLP-1, mas com efeito prolongado no corpo.

 

NAS RUAS EM 2025

 

O Zepbound, já liberado nos EUA em injeção semanal, tem previsão de venda no Brasil até o segundo trimestre de 2025. "Quando provavelmente já terá consentimento da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para seu uso com objetivo emagrecedor", projeta o endocrinologista.

 

A tirzepatida, para Nascimento, é o medicamento antiobesidade mais aguardado no país, devido à "magnitude de seus resultados" em comparação com "seus pares injetáveis já existentes, a liraglutida (Victosa, Saxenda, para diabetes e obesidade, respectivamente) e a semaglutida (Ozempic, Wegovy)".

 

"A tirzepatida oferece eficácia no controle glicêmico e promove perda média de peso de 22,9%, enquanto a semaglutida, também de aplicação semanal, promove 15,8%, e a liraglutida, injetável de uso diário alcança apenas 6,8%", analisa o médico.

 

GENÉRICOS

 

O médico Bruno Halpern, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), lembra que os genéricos que podem chegar ao Brasil em 2025 também representam um novo panorama.

 

O presidente da Abeso afirma que a expectativa é que o genérico da liraglutida possa ser liberado neste ano, com um preço mais acessível que o remédio original.

 

"A liraglutida é uma medicação que perdeu a patente, porém, os genéricos [desse composto] precisam de uma liberação especial da Anvisa, porque tem um método de fabricação diferente, são medicamentos sintéticos", explica Halpern.

 

"A liraglutida é um tratamento da obesidade cuja eficácia é um pouco menor, metade da semaglutida, mas é uma boa medicação, que tem boa segurança. Eventualmente uma redução de custos pode permitir com que uma porção maior da população brasileira tenha acesso", completa.