A microbiologista Natália Pasternak alerta para o risco de uma nova pandemia. Segundo a especialista, em artigo publicado no blog A hora da ciência, no jornal O Globo, o vírus que coloca os estudiosos em alerta é o da gripe aviária, a cepa H5N1, que circula há mais de dois anos em aves migratórias e mamíferos marinhos.
Sabemos que prevenção de epidemias e pandemias se faz com análises de risco e probabilidade. Ainda que não tenha sido detectado nenhum caso de transmissão do H5N1 entre pessoas, temos um excesso de circulação do vírus em gado, galinhas e gatos, além de aves migratórias e mamíferos marinhos, situação que leva o vírus para todos as regiões do planeta. Com o H5N1 se multiplicando em tantos reservatórios animais diferentes, alguns muito próximos de humanos, é bom não dar chance para o azar", explica Natália.
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A especialista cita que o governador da Califórnia (EUA), Gavin Newsom, decretou recentemente estado de emergência por causa do alto número de rebanhos de gado leiteiro infectados pelo H5N1. A Califórnia também mandou recolher lotes de leite cru, não pasteurizado, de duas empresas após o vírus ser detectado.
"O vírus também continua a aparecer em aves de criação, e a maioria dos casos de H5N1 em humanos envolveu trabalhadores rurais que tiveram contato com aves ou leite contaminados. Em geral, os casos foram leves, mas houve dois graves, um nos EUA e outro no Canadá, em que o vírus apresentou mutações que poderiam estar relacionadas a uma maior chance de transmissão entre humanos", destaca a microbiologista.
Natália ainda ressalta que fatores como a globalização, a facilidade com que humanos se deslocam pelo mundo e as mudanças climáticas podem tornar a disseminação de doenças infecciosas, principalmente respiratórias, mais frequentes.
Na avaliação de Natália, a vontade de esquecer a covid-19 pode deixar o mundo despreparado para a gripe aviária. Para ela, é necessário aprender com a pandemia para poder formular estratégias de prevenção de outras contaminações.
Em uma coletiva de imprensa transmitida em dezembro, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ressaltou que a probabilidade de surtos ou epidemias ainda é baixo. Porém, ele avaliou que o acompanhamento do vírus por autoridades de saúde é insatisfatório. "Nossa capacidade de avaliar e gerir esse risco (de transmissão entre humanos) está comprometida pela vigilância limitada dos vírus da gripe em animais em todo o mundo", disse Tedros.