Minas Gerais, que concentra em torno de 50% da produção nacional de café, ganhou o primeiro centro de excelência em cafeicultura do Brasil, líder mundial na produção e exportação dos grãos. O espaço, construído com recursos do governo federal estimados em mais de R$ 13 milhões, será voltado ao ensino e à pesquisa e foi inaugurado no fim do mês passado, em 26 de outubro, em Varginha, no Sul de Minas – região com maior número de municípios produtores e responsáveis por metade do café produzido no estado. A localização, portanto, é estratégica. A implantação do centro é uma iniciativa da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por meio do Senar Nacional, em parceria com o Sistema Faemg Senar.
Apesar da inauguração, o local dá a largada nas operações em 4 de março de 2024, quando será iniciado o “Curso Técnico em Cafeicultura”, que terá duração de dois anos e seis meses. As aulas serão 80% presenciais, e o restante cursado à distância. O prédio tem oito blocos e conta com seis salas de aula, quatro laboratórios – para classificação, torra, moagem, degustação e cafeteria gourmet –, três salas de informática, uma biblioteca, um auditório com capacidade para 260 pessoas e uma área de convivência. Cursos de graduação tecnológica à distância por meio da Faculdade CNA também serão oferecidos.
O diretor do centro de excelência, Roberto Barata, conta, em entrevista ao Estado de Minas, que o primeiro semestre será dedicado à explicação de conceitos e noções básicas que servem para todos os alunos, independentemente da região no estado ou país em que eles venham a atuar. “O material didático já está sendo confeccionado e será pautado pela cafeicultura nacional. Para isso, estamos em articulação com as principais instituições de pesquisa, confederações da agricultura e pecuária, além do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) dos estados”, explica Barata, acrescentando que os alunos terão acesso aos conhecimentos prático e teórico considerando todas as regiões importantes do país para a produção de café.
Roberto Barata avalia que a abertura do espaço vem ao encontro da falta de mão de obra no setor na região. O problema foi identificado, segundo conta, após uma pesquisa realizada com cooperativas, centros do comércio de café e exportadores. “Então, agora, o objetivo principal do centro é promover a qualificação desses profissionais. Varginha é uma cidade importante para a atividade cafeeira em Minas. É onde estão presentes quase todos os elos da cadeia do agronegócio do café, o que será útil aos futuros técnicos em cafeicultura. Eles não vão sair daqui perdidos no mercado, mas, sim, conhecendo os vários pontos da rede desse agronegócio. Com isso, mais qualificação vai gerar, consequentemente, aumento na qualidade do café”, completa.
Além do Sul de Minas, o estado tem outras três importantes macrorregiões produtoras: Cerrado Mineiro, Chapada de Minas e Montanhas de Minas. O café produzido no estado é 99% do tipo arábica, que confere alto grau de qualidade à bebida, reconhecida por seu sabor, aroma e acidez.
Safra
O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no fim de setembro, mostra que a safra de 2023 – 95% colhida até o fim de agosto – deve ser a terceira maior da história neste ano, atrás apenas de 2018 e 2020, o que compreende crescimento de 6,8% em relação à colheita em 2022 e volume de 54,36 milhões de sacas de 60 kg.
Minas registrou aumento de 28,8% e chegou a 28 milhões de sacas. Entre os motivos estão o acréscimo de 6,5% na área em produção, o ganho de 21% na produtividade e, principalmente, as melhores condições das lavouras após as últimas safras, caracterizadas por climas adversos, aponta a Conab. Integrando o pódio dos maiores produtores, Espírito Santo apresentou redução de 21,9%, e São Paulo teve crescimento de 14,7% em comparação ao resultado obtido em 2022.
Receita recorde no mercado internacional
As exportações brasileiras de café em 2022, realizadas para 122 países, obtiveram receita cambial recorde de US$ 9,233 bilhões, apresentando crescimento de 46,9% na comparação com os US$ 6,285 bilhões registrados no ano retrasado. Em volume, o país embarcou 39,350 milhões de sacas de 60 kg, apresentando queda de 3,1% ante 2021. Os dados são do relatório estatístico do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No acumulado dos seis primeiros meses da safra 2022/23, os embarques nacionais alcançaram 19,341 milhões de sacas e renderam US$ 4,576 bilhões ao país, registrando declínio de 1,7% em volume, mas incremento de 31,5% em receita. Esses resultados foram alcançados com os 3,195 milhões de sacas remetidos ao exterior em dezembro, que geraram US$ 707 milhões – recuos de 17,9% em volume e de 11,8% em receita frente ao mesmo mês do ano retrasado.
“O dólar comercial se manteve acima de R$ 5 ao longo de quase todo o ano passado, bem como as cotações do café ficaram em níveis satisfatórios até passarem a cair recentemente. Assim, o preço médio da saca, de US$ 234,64, foi o maior nos últimos cinco anos e cresceu 52% sobre o ano anterior”, explica o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, destacando que, em relação à queda no volume, o ano de 2022 foi impactado pelos gargalos logísticos no comércio marítimo mundial, além de conflitos geopolíticos. “Os entraves logísticos vêm diminuindo de forma gradativa, mas ainda estamos distantes da normalidade, enfrentando disponibilidade reduzida de contêineres. Não podemos esquecer do impacto do conflito no leste europeu, com o embarque para a Rússia recuando quase 50%”, completa.
Já nos nove primeiros meses de 2023, o Brasil diminuiu em 9,1% suas remessas de café, frente ao apurado entre janeiro e setembro do ano passado, para 26,225 milhões de sacas. A receita percorre caminho similar, recuando 17,9%, ao atingir US$ 5,547 bilhões. “A queda no volume dos embarques se deve ao desempenho da variedade arábica, que foi negativo, refletindo o acentuado recuo nas cotações da Bolsa de Nova York, implicando preços não atrativos aos produtores nacionais. Com isso, os cafeicultores ficaram mais resistentes para realizar novos negócios”, diz o presidente do Cecafé.
Os Estados Unidos são o principal destino dos cafés do Brasil entre janeiro e setembro de 2023, tendo importado 4,359 milhões de sacas, ou 25,7% a menos do que o registrado no mesmo período de 2022. A Alemanha, segunda colocada, adquiriu 3,146 milhões de sacas (-38,4%). Na sequência, vêm Itália, com a compra de 2,036 milhões de sacas (-15,2%); Japão, com 1,696 milhão (+24,1%); e Bélgica, com 1,432 milhão (-37,7%).
Sexto em faturamento
Embora seja disparado o maior produtor de café no mundo, o Brasil está longe da primeira colocação em faturamento. O país é o sexto país que mais fatura com o café. Alemanha e Suíça, que nada produzem, são os que mais lucram na comercialização. “Eles compram café de várias origens, incluindo do Brasil, e transformam em commodities, como cápsulas, por exemplo, e vendem para o mundo todo. Eles investem pesado em tecnologia e distribuição”, explica o diretor-executivo na Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio. Segundo ele, o Brasil se especializou em produção e exportação do grão cru, sem valor agregado, e não avançou na capacitação para exportar torrado e moído. “Esses dois tipos são mais difíceis de exportar, pois o país enfrenta hoje 53 barreiras não sanitárias (como impostos) dos EUA e partes da Europa, por exemplo”, explica o diretor-executivo da Abic.
Exportações
Líder mundial na produção e exportação de café, o país destina, em média, 60% do total a cada ano para outros países, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Nesse contexto, Minas Gerais, responsável por cerca de metade da produção nacional, contabilizou de janeiro a julho deste ano US$ 2,9 bilhões em faturamento e 12,8 milhões de sacas destinadas a 87 países, com destaques para Estados Unidos, Alemanha e Itália. Nos sete primeiros meses deste ano, o segmento foi responsável por 36% das vendas externas do agronegócio no estado, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Outro ponto é que a primeira indicação de procedência e demarcação de origem de cafés no Brasil é do Cerrado Mineiro desde 2005. É nessa região que fica o maior município produtor do Brasil: Patrocínio, no Alto Paranaíba.