Mamédio alcançou 91,71 dos cem pontos do concurso com o Café Vila Real. Agora precisa de CNPJ e mais investimentos -  (crédito: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Mamédio alcançou 91,71 dos cem pontos do concurso com o Café Vila Real. Agora precisa de CNPJ e mais investimentos

crédito: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS

Há 20 anos, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), em parceria com o governo de Minas, realiza o Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Na última edição, pela primeira vez, um produtor da Região Metropolitana de Belo Horizonte ocupou o primeiro lugar no pódio. Mamédio Martins dos Santos, de Sabará, foi quem venceu o certame, com a maior pontuação da história do campeonato. De cem pontos, ele alcançou 91,71, com o Café Vila Real.

Além do prêmio, Mamédio teve a oportunidade de vender o seu café para o supermercado Verdemar. Cada saca do café de maior qualidade de Minas em 2023 custou R$ 5 mil. Além disso, este ano, o café Vila Real deve passar a ser vendido no site de produtos agrícolas da Emater, o É do Campo. A expectativa é de que o produto chegue também ao mercado internacional.

“Eu já mandei dez amostras desse café para a Espanha, lá para Barcelona. O pessoal lá gostou muito do meu café, sem saber que ele era campeão estadual. Agora, com isso, eles vão gostar mais ainda”, conta Mamédio. Por enquanto, ele também enviou amostras para uma cafeteria nos Estados Unidos e pretende enviar também para a Holanda.

E o prêmio é apenas o começo. A marca ainda precisa de um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), novos equipamentos, mais funcionários, investimento financeiro e alguns documentos que habilitam a venda do café Vila Real em maior escala. A técnica agrônoma da Emater em Sabará, Shelen de Souza, acompanha de perto o trabalho no sítio Santa Rosa, onde Mamédio produz o café, e afirma que o que falta para incrementar ainda mais a qualidade do produto é “treinamento e capacitação da família dele”, que também ajudam na produção e na venda, juntamente com mais um único funcionário. Além disso, para a profissional, é preciso de estratégias para inseri-lo no marketplace, um novo maquinário, para aumentar a produção, e investimento financeiro, para investir nas novas máquinas.

O fato de Mamédio Martins dos Santos trabalhar somente com um ajudante faz com que consiga garantir a seleção dos grãos. De acordo com Shelen, “é tudo artesanal, ele colhe grão por grão, ele e a família dele. Então, ele só colhe os (grãos) maduros. Se ele coloca na mão de qualquer pessoa e não está conferindo, se a pessoa colher um verde, essa qualidade que ele entregou no concurso, ele não consegue mais entregar. Então, tem de ser muito bem treinado por ele”, explica.

Mas sem uma equipe maior, é difícil aumentar a produção para exportação, e isso tem sido um grande desafio tanto para o produtor quanto para a equipe que trabalha para o crescimento dele. Mamédio reitera: “Eu não posso abandonar nunca. Nem se eu tiver dez ou 15 funcionários um dia, se chegar a crescer, vai ser eu mesmo que vou colher o café, isso eu já sei”, ele diz.


AMOSTRAS

A edição da competição deste ano contou com a inscrição de 1.563 amostras nas categorias Café Natural e Café Cereja Descascado/Despolpado. Os oito jurados provaram cerca de 18 mil xícaras durante as três etapas do concurso. Os competidores trazem os grãos, que passam por processos de moagem e de torra padrão, realizados por uma empresa terceirizada contratada pela equipe do concurso. As xícaras são provadas e avaliadas de acordo com as normas da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês).

Os juízes provam o café sem saber de onde vem e quem é o produtor responsável. Os jurados, a produção do Concurso de Qualidade do Café e os participantes só sabem a qual produtor pertence cada amostra de café na última etapa, quando é revelado o grande vencedor. Os cafeicultores são divididos em quatro quadrantes: Sul de Minas, Cerrado, Matas e Montanhas de Minas e Chapada. As divisões seguem os critérios do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).

O coordenador técnico estadual da Emater-MG, Willem Guilherme de Araújo, explica onde fica cada um desses quadrantes.“Do Vale do Rio Doce para baixo e BR-381 é tudo Matas e Montanhas; da Fernão Dias para a esquerda, é Cerrado; no Sul de Minas, a linha de corte é o Rio Grande, entre Lavras e Oliveira; e a Chapada é para cima, entre São Francisco e Rio Doce”, caracteriza.

O sítio Santa Rosa, de onde vem o Café Vila Real, fica no quadrante das Matas e Montanhas, que costuma sair na frente no concurso, por ter clima, altitude e solo favoráveis ao cultivo de café. “A característica do local é favorável. O município (de Sabará) que não tem tradição mais. Há muitos anos que não se planta café na região de Belo Horizonte”, diz Willem.

“O solo da região tem muito minério, então ajuda. A altitude lá é boa, tem um microclima muito bom, que é um clima igual ao da região das matas de minas. É bem alto, é acima de mil metros (de altitude), lá é 1.140 metros”, afirma Shelen.


QUALIDADE

A técnica da Emater explica também que ao final de cada concurso os técnicos responsáveis por cada produtor recebem uma devolutiva, que justifica a posição alcançada pelo competidor e serve de guia para que a equipe e o agricultor pensem e desenvolvam melhorias para a produção.

Este ano, Mamédio participou do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais pela terceira vez. Na primeira vez, ele não foi classificado. O motivo disso eram pragas que estavam presentes na plantação, que perfuravam o grão do café e o deixavam oco. “Era questão de praga mesmo, e estava brocando o café. Então, quando ele era torrado, dava um gosto ruim. Como ele fica oco por dentro, dá um gosto de ardido”, informa Shelen. Na segunda, o produtor diz que ficou entre os cinco melhores, mas não chegou à etapa final.

Segundo a responsável técnica, o que desqualificou o café de Mamédio na segunda tentativa foi a presença de grãos que ainda não estavam maduros. “Tinha grãos verdes, o que também dá um gosto diferente, e os jurados são muitorigorosos”, diz. Agora, com os grãos devidamente selecionados, o Café Vila Real tem um sabor doce, porque além de ser o Café-Cereja, não tem agrotóxicos, e é agroecológico. O café foi caracterizado pelos jurados como “uma bebida de corpo sedoso, aveludado, finalização longa e doce, com notas que remetem a mel, rapadura, garapa com limão e chocolate trufado,. afirmou também a técnica da Emater.