Hidroponia. Certamente conhece ou ouviu falar. Ela é uma das tecnologias agrícolas mais difundidas no Brasil, uma técnica de cultivo sem o uso de solo, que virou moda na produção e no consumo de verduras e legumes no país. Não há consenso sobre seu inventor, especialistas apontam a época da técnica, o século 19. Já o nome, surgiu na década de 1930, nos Estados Unidos, e vários pesquisadores pelo mundo contribuíram para seu desenvolvimento.




No século 21, a hidroponia inova e se destaca com a técnica Deep Water Culture (DWC), mais conhecida como floating, que cultiva alface e outras folhosas em piscinas. Isso mesmo. De olho nos ganhos e benefícios, a Verdureira, de São Roque (SP), trouxe a técnica para o Brasil e a utiliza na produção em alta escala, economizando 99% do uso da água e produzindo 12,5 vezes maior do que o cultivo tradicional no solo. E com capacidade produtiva de 39 toneladas por mês. Essa transformação ocorreu em 2023 e rendeu para a empresa crescimento de 50% no faturamento.

Floating é uma técnica inovadora e quem vê as saladas e legumes nos supermercados não têm ideia do processo para lhe garantir alimentos frescos até chegar ao seu prato. Nesse sistema de produção, as hortaliças são cultivadas em grandes piscinas, em ambiente controlado.

A diferença para a hidroponia tradicional, a técnica Nutrient Film Technique (NFT), na qual as verduras ficam em canaletas e recebem os nutrientes via lâminas d’água, é que na floating as raízes ficam inteiramente imersas na piscina.

Ao destacar as diferenças entre as técnicas, Thiago Rodrigues Silveira, engenheiro agrônomo da Verdureira, explica que “a economia de água já é fato no sistema hidropônico tradicional, mas no floating, a economia de água e recursos é ainda maior. Estima-se que o sistema tradicional de hidroponia utilize apenas 10% do recurso hídrico em comparação ao cultivo em solo, e no sistema floating o consumo é de 1% comparado ao cultivo em solo. Ou seja, no NFT há economia de 90% de água e no DWC 99%. Além disso, no floating, as hortaliças ficam maiores, o que resulta em maior produtividade com menos recursos. No NFT, a produtividade é cinco vezes maior que o cultivo em solo. No floating, essa produtividade passa a ser de 12,5 mais do que no cultivo em solo e 2,5 maior que em NFT”.


O engenheiro agrônomo conta que no preenchimento da estrutura semelhante a uma piscina com a solução nutritiva, as hortaliças são apoiadas em placas flutuantes, com as raízes submersas em solução 100% do tempo em que estão cultivadas: “O tamanho das piscinas pode variar. No caso da Verdureira vai de 30m X 7m (210 m²) até 54m X 8m (432m²). O volume varia de 57.000 L até 82.000 L, com uma profundidade de 20 cm de lâmina d’água”.


De acordo com Thiago Rodrigues Silveira, a vantagem do sistema floating está em não trocar a água por longos períodos: “Atualmente, estamos completando 10 meses com a mesma solução nutritiva em uma das piscinas, mas relatos de produtores no exterior demonstram a possibilidade de manter a mesma água por períodos superiores há cinco anos. Nesta água, diluem-se os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas, e faz-se a reposição do que foi consumido, mantendo sempre a oxigenação ideal, com tudo que as hortaliças necessitam”.


Alta qualidade e mais nutritivas

O engenheiro agrônomo enfatiza que, como a floating é uma técnica nova, ainda é necessário fazer pesquisas mais aprofundadas para obter dados técnicos: “Mas, com quase um ano de produção, o que notamos é que as plantas cultivadas nesse sistema passam por uma maior estabilidade de cultivo. Em outras palavras, encontram uma condição mais favorável para o seu desenvolvimento, o que resulta em plantas maiores, mais pesadas, mais nutritivas, com maior qualidade — tanto nutricional quanto visual — em menos tempo. Além disto, esta condição mais favorável permite com que as plantas fiquem menos suscetíveis e menos atrativas a insetos e pragas, permitindo um cultivo mais sustentável”.


Thiago Rodrigues Silveira conta que a produção não é só de alface: “Atualmente, cultivamos diversas tipologias de alface, além de escarola, chicória e radicchio. Mas é possível cultivar outras hortaliças como rúcula, espinafre, manjericão, entre outras folhosas. Priorizamos o cultivo do que é mais demandado pelo mercado e consumido no dia a dia das pessoas”.


Vegetais gourmet

Ari Rocha, CEO e sócio da Verdureira, explica a razão das hortaliças e legumes da marca serem conhecidos como vegetais gourmet: “Temos duas linhas. A Insalata Prima são hortaliças já higienizadas e selecionadas, folhas nobres e inteiras, frescas e crocantes, prontas para o consumo. Elas são embaladas com uma tecnologia chamada atmosfera modificada, capaz de preservar os nutrientes e frescor dos alimentos até o momento do consumo, sem a necessidade de conservantes. Ou seja, duram mais, tanto no supermercado quanto na geladeira do consumidor. A outra linha é a Cucina Prima, que são legumes frescos, cozidos à vapor, com propriedades nutritivas preservadas. São 100% naturais, sem nenhum aditivo ou conservante, e também prontos para consumo. Basta esquentar em banho-maria ou no micro-ondas. Fomos a primeira empresa a oferecer esses tipos de produtos no mercado, há 29 anos, quando não havia opções saudáveis prontas para consumo no Brasil”.

Ari Rocha destaca que o seu público consumidor é quem prioriza a praticidade e a alimentação saudável: “A gente sabe que na correria do dia a dia fazer uma higienização correta dos alimentos ou selecionar bem as hortaliças acaba ocupando um tempo precioso. Ter o alimento já higienizado e pronto para o consumo facilita demais. O mesmo vale para a linha de legumes cozidos”.

Sem revelar o preço final, Ario Rocha afirma que o preço das hortaliças pode variar conforme os supermercados que as comercializam: “Mas, é um preço competitivo para o mercado”.

Redução do desperdício

E ainda tem mais benefícios. Com a nova técnica, a Verdureira consegue reduzir o desperdício de alimentos. A empresa tem aproveitamento quase total das hortaliças e os restaurantes e consumidores também. A meta é reduzir 30% do desperdício por ano.

Outro destaque que o floating pode gerar, uma preocupação da Verdureira, é também reduzir as crises de abastecimento de saladas no mercado. No verão brasileiro é quando há maior demanda por hortaliças e exatamente quando a produção mais sofre com calor extremo e constantes chuvas. Com as piscinas construídas em ambiente controlado, é possível ter um abastecimento mais seguro de acordo com a demanda.

Sem conservantes


No processo, as hortaliças vão da colheita direto para higienização e seleção. Na sequência, elas são embaladas com tecnologia de atmosfera modificada capaz de preservar os nutrientes e frescor dos alimentos até o momento do consumo, sem conservantes.

Fazenda com mar verde


Os gestores da empresa tiveram de criar todas as tecnologias envolvidas, já que elas não existiam no Brasil. Agora, as fazendas em São Roque têm o visual diferente, com hortaliças flutuantes na água, quase um “mar verde”.

Por enquanto, a Verdureira, criada há 29 anos, atende São Paulo e Região Metropolitana. E está presente em mais de 300 supermercados. Para 2024, o plano é a expansão geográfica.


Ari Rocha destaca que vários produtos da linha de legumes estão disponíveis em Belo Horizonte, em unidades do Verdemar: “São alimentos como lentilha, mandioca, milho, quinoa, dentre outros, prontos para consumo. Eles são cozidos a partir do método sous-vide, em uma embalagem selada a vácuo, em baixa temperatura, por um tempo maior que o tradicional e sem conservantes. Já a linha das hortaliças cultivadas no floating, ainda não estão disponíveis na região. Acreditamos que a salada fresca não viaja, então, para oferecer o produto de alto padrão, seria necessário cultivá-lo perto da distribuição”.

 

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