O Brasil bateu recorde na exportação de frutas em 2023 com o envio de 1,08 milhão de toneladas ao mercado internacional. Apesar disso, conforme a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o quantitativo, que representa aumento de 6% em relação ao ano anterior, está longe do potencial do setor. Nesse sentido, praticamente 97% a 98% do total produzido fica no mercado nacional. O país é o terceiro maior produtor mundial, mas fica em 24º em exportação.
Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o país exporta mais de 70 variedades de frutas, sendo que lideraram o ranking em 2023 as mangas (23%), melões (14%), uvas (13%), limões e limas (12%) e melancias (5%). Conservas e preparações de frutas correspondem a 8% do valor total comercializado.
As mangas, melões e uvas têm se destacado nas exportações brasileiras porque, segundo o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, elas são reconhecidas por seu sabor, textura e aparência atrativa, o que as torna competitivas no exterior. “A sazonalidade é muito favorável. As safras dessas frutas muitas vezes ocorrem em períodos em que há menor oferta global, o que pode aumentar sua demanda e valorização nos mercados internacionais. Além disso, o clima brasileiro é propício para o cultivo delas, permitindo produções de alta qualidade e consistentes ao longo do ano”, explica.
Principais destinos
Os principais destinos no ano passado das exportações brasileiras de frutas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior, foram: Estados Unidos (US$ 382,7 milhões - 35,2%); União Europeia – (US$ 280,2 milhões - 25,6%); China (US$ 141,2 milhões - 13,2%); Japão (US$ 116,9 milhões - 10,8%); e, por fim, Emirados Árabes Unidos (US$ 62,8 milhões - 5,8%). Representando incremento de 24% no faturamento, conforme o Mapa, as exportações atingiram o total de US$ 1,34 bilhão, enquanto em 2022 foram US$ 1,08 bilhão.
Entre os dez estados que mais exportaram frutas em 2023 estão: Pernambuco (22%), Bahia (18%), São Paulo (16%), Rio Grande do Norte (15%), Ceará (12%), Pará (3%), Rio Grande do Sul (2%), Santa Catarina (2%), Espírito Santo (2%) e Paraná (1%). Minas Gerais, embora seja o quarto maior estado produtor de frutas, não tem participação relevante nas exportações.
Vale do São Francisco: o oásis da fruticultura
O crescimento das exportações brasileiras, no entanto, decorre em grande parcela da participação do Vale do São Francisco, pois mais de 90% das uvas e mangas saíram dessa região. Conforme explica o presidente da Abrafrutas, a localidade é conhecida por suas condições climáticas favoráveis, solo fértil e avançadas técnicas de cultivo. “Além disso, o Vale do São Francisco conta com uma infraestrutura logística bem desenvolvida, facilitando o transporte rápido e eficiente dos produtos para os portos de exportação”, diz Guilherme.
Para Lígia Carvalho, presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), o Vale do São Francisco é um “grande resort” da frutificultura brasileira. “Também podemos chamar de oásis. Temos ali produtores rurais e empresários muito bem capacitados. Há ainda a Embrapa Fruticultura, que executa, principalmente, estudos de variedades de uva para que a gente possa ser uma referência nesse negócio. Temos o Peru e Israel, por exemplo, como referências mundiais. Aí, a gente tem no Vale do São Francisco uma referência nacional de empenho na fruticultura”, afirma.
Brasil no ranking
O presidente da Abrafrutas explica que o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas está na 24ª posição em exportações. “Os dois maiores produtores mundiais de frutas são a China e a Índia. Esses países são conhecidos por sua vasta extensão territorial, variedade climática e grande diversidade de culturas agrícolas, o que contribui para a liderança na produção global de frutas”, explica Guilherme.
“Diretamente e indiretamente, cerca de 16% de toda a mão de obra do agronegócio vêm da fruticultura. Para se ter uma ideia, enquanto a cultura da soja emprega em média uma pessoa a cada 10 hectares, na fruticultura esse número é de aproximadamente 25 pessoas. Isso demonstra não apenas a importância econômica do setor, mas também seu impacto social ao gerar oportunidades de trabalho e renda”, acrescenta.
Falta de certificações
A baixa colocação do Brasil no ranking de exportadores pode ser explicada, entre outros fatores, pela logística, já que cerca de 90% das exportações são por vias marítimas. Há muitas falhas na fiscalização de portos e aeroportos. Outro ponto é o baixo número de certificações dos produtores brasileiros.
Segundo a Abrafrutas, os selos mais importantes para o setor de frutas, verduras e legumes são: Rain Forest Alliance, Fair Trade e Global GAP. Esse último, presente em 130 países, assume especial destaque no sentido de comprovar que os produtores rurais atendem às boas práticas exigidas pelo mercado internacional. O Brasil tem 5 mil produtores e apenas 602 são certificados.
A presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária, Lígia Carvalho, diz que o Brasil enfrenta uma exigência muito grande em relação às certificações, “principalmente nos Estados Unidos e Europa”. Tratam-se de documentações que conferem o aspecto da rastreabilidade.
“Para conseguir exportar é preciso seguir certos protocolos, pois os importadores exigem os certificados. No entanto, a baixa exportação do Brasil está relacionada a outras características. Uma delas é que nosso mercado interno é realmente grande e com capacidade para aumentar. Então, isso contribui para que boa parte da produção fique aqui. Outro ponto a se destacar é que os produtores escolhem variedades de frutas que não são tão aceitas lá fora. A título de exemplo, o Brasil é o sétimo maior produtor de abacate do mundo, mas a fruta não chega a ser nem cotada na lista de exportadores. Isso acontece porque produzimos abacates tropicais, que não têm tanta adesão no mercado internacional. A variedade mais consumida é a ‘avocado’”, explica.
Em 30 de outubro do ano passado, o presidente da Abrafrutas, acompanhado de uma comissão da entidade, bateu ponto na Índia para participar do “World Food India”, em Nova Delhi – um evento global criado para facilitar parcerias entre empresas e investidores indianos e internacionais. “Fomos lá em uma missão oficial do governo brasileiro e conseguimos a abertura do mercado para o avocado, a lima ácida e a tangerina. Agora, estamos com a perspectiva de conseguir, em junho, a exportação da nossa uva para a China”, conta Guilherme Coelho.
Em 2022, o Brasil produziu 41,3 milhões de toneladas de frutas, registrando aumento de 1,42% na produção em relação a 2021. A produção de 2023 ainda não teve seus números divulgados.
Os cinco principais estados produtores de frutas no Brasil são: São Paulo, com 16,7 milhões de toneladas (44% do total nacional); Bahia, com 3,2 milhões de toneladas (8% do total nacional); Pará, com 2,7 milhões de toneladas (7% do total nacional); Minas Gerais, com 2,6 milhões de toneladas (7% do total nacional); e Rio Grande do Sul, com 2,3 milhões de toneladas (6% do total nacional). Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e correspondem ao levantamento da Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2022.
Ainda de acordo com o presidente da Abrafrutas, a expectativa é que as exportações aumentem em 2024, embora não se possa fazer uma projeção específica em termos percentuais. “A crescente demanda por frutas frescas de alta qualidade em mercados internacionais, a melhoria das condições logísticas e de infraestrutura para exportação, os esforços contínuos para abrir novos mercados e a valorização da marca Brasil no exterior são fatores que nos permitem apostar no crescimento das vendas para o mercado internacional”, finaliza.