O uso de sistemas de irrigação mais precisos e controlados evita o desperdício de água e ajuda a reduzir os impactos ambientais do agronegócio -  (crédito: Faemg/Divulgação)

O uso de sistemas de irrigação mais precisos e controlados evita o desperdício de água e ajuda a reduzir os impactos ambientais do agronegócio

crédito: Faemg/Divulgação

O agronegócio é um mercado que tem papel importante no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Somente no ano passado, movimentou US$ 166,55 bilhões. Exatamente por sua relevância para a economia brasileira, torna-se cada vez mais urgente encontrar formas de reduzir os impactos ambientais.


Segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, a agricultura é responsável por 70% do consumo de água doce do mundo e dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apontam que a prática rural consome 29,7 trilhões de litros de água ao ano no Brasil. Somado a isso, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) estima que a agropecuária esteja envolvida em 20% da emissão de carbono no mundo.


Por causa desses fatores, diversos produtores brasileiros estão buscando alternativas que degradem menos o meio ambiente, mas que não afetem a produção. O nome dessa prática é a agricultura de baixo carbono, sistema de produção agrícola que busca reduzir ou minimizar as emissões de gases que colaboram para o aquecimento global.


Ana Paula Mello trabalha na área de sustentabilidade da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), pela regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional Minas Gerais (Senar Minas), e explica o que é a agricultura de baixo carbono.


“São práticas adotadas com muita pesquisa e direcionamento. Por exemplo, as práticas de recuperação de pastagens degradadas. Sabemos que um pasto bem manejado, que tem matéria vegetal alta, sequestra carbono, sendo fotossíntese pura. Isso recobre o solo e permite a infiltração da água da chuva. Não é só o carbono. Essas práticas trazem um rendimento melhor para o gado, a possibilidade de intensificação das pastagens, de intensificação produtiva, renda para o produtor, geração de empregos, redução do custo da cesta básica. Ou seja, traz uma série de consequências positivas, no geral, para a sociedade e para o produtor rural também”, afirma.

Além disso, Ana Paula destaca outras importantes questões que envolvem uma boa prática agropecuária. “O valor da cesta básica compromete menos a nossa renda e, assim, a gente pode investir em educação, saúde e em outras áreas da nossa vida. A agropecuária vem sustentando o país até hoje e fez com que a gente deixasse de importar muitos alimentos como fazíamos”, destaca.


Práticas mais sustentáveis na agricultura são importantes no mundo todo, mas no Brasil a importância é maior ainda, visto que cerca de 75% da emissão de carbono do Brasil vem de atividades rurais, como o desmatamento e a agropecuária. Nos países com maiores índices de poluição no mundo, a emissão tem relação com os combustíveis fósseis.


Quem compartilha esses dados é a especialista em políticas climáticas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Renata Potenza. “O Brasil apresenta uma emissão de 2,3 bilhões de toneladas de CO², sendo um dos países mais poluentes do mundo”, destaca.


A recuperação de pastagens degradadas e a redução das emissões de metano vindo do processo de digestão dos animais são os principais alvos das ações do Imaflora, que visa melhorar a dieta e a alimentação dos animais bovinos. “A grande solução está nos animais ou pelos lugares por onde eles passam”, afirma.


Com o olhar para a agricultura, a especialista do Imaflora explica que o objetivo é a recuperação do solo pelo plantio direto e utilização de menos fertilizantes sintéticos, que devem ser substituídos por compostos mais orgânicos.

 

A recuperação de pastagens degradadas é uma das ações recomendadas para retirar gás carbônico da atmosfera

A recuperação de pastagens degradadas é uma das ações recomendadas para retirar gás carbônico da atmosfera

Faemg/Divulgação


Fertilizantes naturais


Esse é o tema de um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que encontrou aliados ao analisar bactérias, arqueas e fungos encontrados no Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais. Os micro-organismos reduzem os impactos ambientais por serem fertilizantes naturais em solo pobre, então têm potencial para aplicação na agricultura.


Segundo os pesquisadores, a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de substitutos biológicos para os fertilizantes químicos usados na agricultura, principalmente os que contêm fósforo. As plantas não conseguem absorver o fósforo em estado natural, assim precisam dos micro-organismos para que ele se torne solúvel.


Segundo um dos coautores do estudo, Rafael Soares Correa de Souza, as pesquisas revelaram que as bactérias, arqueas e fungos têm potencial para ajudar na adaptação vegetal a condições extremas. Em especial, ao fornecer fósforo para o crescimento das plantas.

 


Desse modo, a esperança é que as descobertas mudem o cenário da agricultura brasileira, com a substituição de adubos químicos à base de fósforo por meios mais naturais e benéficos para todos, já que os fertilizantes fosfatados poluem os corpos d’água, além de emitir gases de efeito estufa na extração.


Plano Safra


A degradação do meio ambiente pela agropecuária vem sendo debatida pelo governo há bastante tempo. De acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2009, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil se comprometeu com a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).


No ano seguinte, foi elaborado um plano com ações para mitigação e adaptação às mudanças climáticas para a consolidação de uma economia de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC). O primeiro ciclo durou até 2020, até ser substituído pelo Plano ABC+, que foi atualizado e conta agora com um novo aliado, criado por Lula, o Plano Safra, maior programa do governo federal para financiamento da produção rural. Os investimentos divulgados chegam aos R$ 364,22 bilhões.


O objetivo do plano, que tem como linha mestra a agricultura de baixo carbono, é incentivar a produção ambientalmente sustentável para recuperação de pastagens, com premiação para os produtores agrícolas que adotam essas práticas. Na época do lançamento, o presidente destacou que o setor produtivo não pode ser “predador” das riquezas naturais do país, ressaltando que não é mais necessário desmatar hectares de terra para criar gado ou plantar soja no Brasil.


De acordo com Ana Paula Mello, da Faemg, em relação ao Plano ABC+, o governo almeja metas mais ambiciosas, como a recuperação de 4,62 milhões de hectares de pastagens degradadas e 1,1 bilhão de toneladas de CO² evitados.


Projeto em votação


A questão da degradação ambiental também é relevante para Minas Gerais, que já se movimenta em prol de práticas sustentáveis. Desde março, está em pauta para votação no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o Projeto de Lei (PL) 2.480/15, que incentiva a agricultura de baixo carbono no estado.


De autoria do deputado Antônio Carlos Arantes (PL), o projeto de lei visa incluir diretrizes de incentivo à agricultura de baixo carbono à Lei de Desenvolvimento Agrícola do Estado, a Lei 11.405, de 1994.


“Minas Gerais tem muito a contribuir e, se possível, vamos incentivar ao máximo a agricultura sustentável, porque uma pastagem degradada não sequestra carbono. Se existir o uso de uma agricultura sustentável, ele vai sequestrar carbono, aumentando a produção, a produtividade e a qualidade”, diz o deputado, destacando a importância do projeto de lei.


O texto determina que sejam desenvolvidos programas de agricultura de baixo carbono em cooperativas agropecuárias e associações de produtores rurais, baseados nas seguintes práticas: recuperação de pastos degradados por meio do sistema de plantio direto; sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; plantio direto na palha na implantação de culturas e substituição de fertilizantes nitrogenados pela fixação simbiótica biológica de nitrogênio e demais bioinsumos.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Celina Aquino