Agricultores trabalham na cotonicultura em Minas: área plantada é calculada em 34.400 hectares na safra 2023/2024 -  (crédito: Amipa/Divulgação)

Agricultores trabalham na cotonicultura em Minas: área plantada é calculada em 34.400 hectares na safra 2023/2024

crédito: Amipa/Divulgação

Após se consolidar como o estado com maior produtividade de algodão em pluma na safra 2022/2023, com 2.045kg por hectare, o setor algodoeiro de Minas Gerais espera, não só manter a produtividade, mas aumentar a produção e a área plantada na safra 2023/2024. Cotonicultores e membros da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) explicam os fatores por trás da expectativa e a relação com o cenário dos grãos.


Na última safra de algodão, Minas Gerais produziu 51,7 mil toneladas. Para a produção da safra em curso, Lício Pena, diretor-executivo da Amipa, diz que a expectativa é que haja um aumento de 27,4%, ou seja, sejam produzidas 65,9 mil toneladas de algodão. No entanto, o diretor enfatiza que os números podem variar, uma vez que o fim da colheita está previsto para meados deste mês.


A expectativa de produção para a safra em andamento se aproxima do valor correspondente ao consumo de algodão de todo o mercado mineiro: 80 mil toneladas. No entanto, das 65,9 mil toneladas que serão produzidas no estado, 70% são exportadas. Para a área de plantio, um aumento também é esperado. Na produção 22/23, o plantio foi feito em 25.800 hectares. Para a safra 23/24, a projeção é de que sejam 32.400 hectares, o que representa um aumento de 25,4%.


Apesar de ser um crescimento significativo para o estado, é importante ressaltar que, a nível nacional, a produção de algodão em Minas não é expressiva. Os estados do Mato Grosso e Bahia somam mais de 90% de toda a área plantada.


Lício Pena diz que o aumento na produção e na área plantada do algodão em Minas Gerais está diretamente ligado aos atuais preços pouco atrativos dos grãos. “O produtor rural enxerga no algodão uma possibilidade maior de auferir lucro na atividade”, explica o diretor-executivo da Amipa, que enfatiza que “o produtor se sente mais seguro em plantar sabendo que tem comprador”.

 

DESAFIOS E ROTAÇÃO

Para os produtores de milho, soja e café em Minas Gerais e no Brasil, a atual safra trouxe desafios significativos. As condições climáticas adversas, influenciadas principalmente pelo fenômeno El Niño, impactaram negativamente as culturas, resultando em quedas na produção e na área plantada. As pragas que atingem as culturas também foram um fator considerável para o cenário do plantio dos grãos.


Heder Augusto Davi Ramos, produtor rural de Patos de Minas, município na Região do Triângulo Mineiro, também associa o crescimento na produção e área do algodão com a oscilação dos preços das commodities. Ele diz que o produto da cotonicultura também é afetado e perde valor, mas de forma menos significativa que outros, como a soja.


O produtor conta que para a próxima safra, a 2024/2025, pretende expandir a área da cultura de algodão, que pode até tomar um pouco de espaço de seu plantio de soja. Lício Pena explica que ações como a de Helder são comuns, uma vez que “todo produtor de algodão é produtor de milho e soja, principalmente. O algodão compõe a rotação de culturas”. Diante do cenário de queda de preço das commodities, Heder destaca também que o cenário pode ser de perda de rentabilidade, uma vez que, de forma contrária, o custo dos insumos para as culturas não estão abaixando.


Produtor de algodão, apicultor e gado de corte, Herminio Ueklei Silva traz outro fator que pode influenciar no aumento da produção e área de plantio algodoeiro: a mecanização. Do Norte de Minas, ele conta que para a próxima safra, a expectativa de produção é maior, uma vez que produtores da região vão receber uma colheitadeira de algodão da Amipa.


PROALMINAS

Políticas públicas do governo do estado destinadas ao setor estão entre fatores significativos para o incentivo e desenvolvimento da produção. No caso do algodão, há o Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas), como cita Lício.


Criado por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e suas vinculadas — Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) —, em parceria com a Amipa e indústrias têxteis do estado, o Proalminas completou em agosto 21 anos de existência.


As indústrias têxteis que aderem ao programa se comprometem a comprar uma cota de algodão produzida por produtores de Minas e, em troca, contam com uma isenção no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em novembro do ano passado, 33 indústrias receberam o certificado de participação no Proalminas.


Por sua vez, o algodão é adquirido dos produtores com um ágio de 7,85% sobre o valor praticado no mercado. O Proalminas dispõe também de recursos provenientes do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura no Estado de Minas Gerais (Algominas), que são utilizados para financiar ações como pesquisas, validação de tecnologias e práticas sustentáveis de cultivo, monitoramento e combate às pragas e doenças.


CONTROLE BIOLÓGICO

Em julho, a Amipa e a Emater-MG firmaram uma parceria para a divulgação de práticas agrícolas sustentáveis e pesquisa sobre o uso do controle biológico de pragas nas lavouras mineiras de algodão. O acordo foi assinado pelo diretor-presidente da Emater-MG, Otávio Maia, o presidente da Amipa, Daniel Bruxel, e o vice-presidente da associação, Inácio Carlos Urban.


“A Amipa tem um trabalho muito bom na área de sustentabilidade das lavouras de algodão e possui uma biofábrica, em Uberlândia, onde são produzidos insetos, inimigos naturais das principais pragas do algodão e de outras culturas. A associação buscou o auxílio da Emater-MG para validar os benefícios dessa tecnologia, nas propriedades de algodão de Minas Gerais”, diz o diretor técnico da Emater-MG, Gelson Soares.


“Hoje atingimos 80 mil hectares de área tratada com inimigos naturais, que continuarão se expandindo. Notamos que o produtor diminui muito o uso de defensivo agrícolas, principalmente inseticidas. Além disso, os plásticos deixam de ir para a lavoura; há redução do consumo de óleo diesel, pois não precisa trator, e outros benefícios secundários. Temos alguns números desse trabalho que não são creditados e por isso que nós escolhemos a Emater para verificar e aferir esses dados”, explica Lício.


NO BRASIL

Com o desempenho da safra 2023/2024, o Brasil alcançou o posto de maior produtor de algodão do mundo. Foram colhidas mais de 3,7 milhões de toneladas. Além disso, o país superou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador de algodão do mundo. “A liderança no fornecimento mundial da pluma é um marco histórico, mas não é uma meta em si, e não era prevista para tão cedo. Antes disso, trabalhamos continuadamente para aperfeiçoar nossos processos, incrementando cada dia mais a nossa qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade, e, consequentemente, a eficiência”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel.


“Nós temos a maior produtividade sequeiro do mundo. Produzimos mais com muito menos área que os outros países, somos muito mais eficientes. O Brasil planta um terço do que plantava décadas atrás, e entregamos o dobro de pluma para o mercado”, destaca o diretor-executivo da Amipa. (Com Agência Minas) 

 

Uso até no dinheiro

O algodão é extremamente versátil. Anicézio Resende, gerente de laboratório da central de classificação de fibras de algodão da Amipa, diz que com esse produto “nada se perde, tudo se produz”. Ele explica que o algodão em caroço normalmente é separado em duas partes: a pluma e o caroço. O foco da produção no Brasil é a fibra, que vai para a indústria têxtil. Já o caroço pode ser utilizado para retirada de óleo e produção de farelo, que é rico em proteína.  Resende detalha sobre um destino menos conhecido para o algodão: as notas de dinheiro. Para esse fim, é utilizado o linter, que são as fibras curtas grudadas no caroço. Ele diz que o uso do linter, rico em celulose, garante maior resistência e durabilidade para as cédulas de dinheiro. Além disso, permite que haja textura, gravação de marca d’água e fio de segurança, todos fundamentais para a verificação de autenticidade das notas. Resende conta que de três camadas do papel-moeda, duas são de linter. Essa parte do algodão também é utilizada para gaze, tecido fino utilizado na área da saúde.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho