Embora o BDMG auxilie a financiar equipamentos agrícolas, a receita total da indústria caiu 27,8% segundo ABIMAQ. Linha cafeeira, em MG, subiu 30% e fez contraponto  -  (crédito: Divulgação/AGCO)

Embora o BDMG auxilie a financiar equipamentos agrícolas, a receita total da indústria caiu 27,8% segundo ABIMAQ. Linha cafeeira, em MG, subiu 30% e fez contraponto

crédito: Divulgação/AGCO


O mercado de máquinas agrícolas no Brasil passa, neste ano, por um momento de retração. Segundo um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), a receita líquida total da indústria caiu 27,8% em relação ao ano passado. O cenário da importação também enfrenta um declínio de 17,3%, com faturamento de US$ 790 bilhões. Na mesma linha, a taxa de exportação foi, em relação ao ano passado, 24,4% inferior, movimentando US$ 814,9 bilhões. Apesar de números preocupantes na indústria nacional, empresários e produtores mineiros afirmam que a demanda por máquinas cafeeiras está em pleno crescimento. “A seca prolongada em todo país é um dos fatores para o encolhimento do mercado de máquinas agrícolas”, é o que afirma o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da ABIMAQ, Pedro Estevão. “Nós estamos enfrentando uma seca severa, o que está influenciando a produtividade de milho e soja no Brasil. Outro ponto é a queda do preço das commodities, principalmente grãos, na Bolsa de Chicago”, pontua.


“O valor dos grãos é internacional, calculado em bushel, que equivale a 27 kg. Um bushel de soja que custava 17 dólares, agora está custando dez. O milho caiu pela metade - custava oito dólares e caiu para quatro dólares”, explica Estevão.


“Nós exportamos para Argentina, Paraguai, Colômbia, México e Peru, mas seguimos a mesma linha da queda na compra aqui no Brasil: se o preço da soja e milho, que é internacional, cai aqui, cai lá, então diminui a rentabilidade. Trabalhamos também com o leste europeu, Rússia e Ucrânia, e com a guerra acabamos não exportando mais”, declara.

Plano Safra

Estevão ainda destaca que o Plano Safra 24/25, principal política de linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores brasileiros no âmbito do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), foi lançado no mês de julho, o que justificaria a retração do mercado brasileiro no primeiro semestre do ano.


“Não tinha os recursos do Plano Safra. O produtor espera pelo lançamento porque os juros são mais baixos. Em uma linha de crédito de um banco, por exemplo, ele pagaria juros de 16% a 17%. Pelo Plano, os juros variam entre 7% a 11,5%”, explica.


Para a safra 2024/2025, R$ 400,59 bilhões foram destinados para financiamentos, um aumento de 10% em relação à safra anterior. Do total, R$ 293,29 bilhões serão para custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões para investimentos. O grande destaque ficou por conta do conjunto de medidas com a meta de fortalecer a agricultura familiar e promover a produção sustentável de alimentos saudáveis para o Brasil.
De acordo com o especialista de mercado Rafael Luche, gerente de vendas, pós-vendas e marketing da FertiSystem, empresa desenvolvedora de tecnologias de plantio, o Plano Safra 2024/25 tem dois cenários a se analisar, do ponto de vista do mercado de máquinas.

Segundo Luche, no que se refere à agricultura empresarial, médios e grandes agricultores, o plano ficou aquém das expectativas no que se diz respeito a taxas de juros, pois esperava-se que os valores fossem mais atrativos, refletindo no não aumento do apetite de compra. “Esses produtores só vão realizar uma compra se ela for realmente necessária. Por outro lado, para a agricultura familiar, a taxa de juros veio mais competitiva e, essa classe sim, tende a fazer mais investimentos”, destaca.


“Com este cenário, as indústrias de máquinas agrícolas focadas na agricultura familiar ganharam novo fôlego e melhoraram suas expectativas de vendas”. Para o especialista, “empresas que trabalham com maquinário para pequenos produtores tendem a crescer com este novo cenário”.

Café em Minas

Minas Gerais foge à média nacional do mercado de máquinas agrícolas em um segmento importante. Conforme o diretor da Aliança Agrícola, concessionária de máquinas agrícolas, Gleiber Galdino, a demanda por máquinas da linha cafeeira no estado cresceu cerca de 30% em relação ao ano passado. Isso acontece em razão da alta dos preços da saca de café em relação aos custos de produção em Minas, que é o maior produtor de café no país.


“O preço de venda do café está muito bom esse ano de uma forma inédita. O preço da saca (60kg) está R$ 1,4 mil agora durante a safra. Geralmente, o valor atinge o pico apenas no final da safra. Se já tivemos esse aumento assim agora, nos próximos meses vai disparar”, explica Galdino.


A boa fase para os produtores cafeeiros, sobretudo na Região Sul de Minas, se deve a uma queda acentuada na produção de café na Indonésia e Vietnã e outros fatores que impactaram o mercado internacional. “O frete marítimo está mais caro para os cafés da Ásia por causa das guerras e ataques próximos ao Mar Vermelho, então temos um aumento na nossa exportação somado à alta do dólar”, aponta.


O representante da Aliança Agrícola pontua que o mercado amadureceu muito em relação às linhas de financiamento para máquinas agrícolas. “As linhas do governo são muito bem-vindas, mas o mercado evoluiu muito. Hoje temos outras linhas, consórcio e investimentos melhores”, declara.


A baixa taxa de importação também não atingiu o estado mineiro. “Os tratores cafeeiros, que são os mais procurados na Aliança Agrícola, são fabricados no Brasil porque são máquinas de pequeno porte”, esclarece o diretor. Já a exportação acompanha o itinerário nacional e está concentrada em países da América Latina, com destaque para Argentina e Paraguai.


Procurado pelo Estado de Minas, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) informa que oferece linhas de crédito para o agronegócio e que o setor responde por quase 40% de todos os créditos liberados. Até a Safra 2023/2024, a instituição não contava com uma linha específica para financiar a compra de máquinas agrícolas, sendo estes itens financiados por meio das diferentes linhas oferecidas pelo banco ao setor, incluindo as do Plano Safra.


A partir da safra atual (2024/2025), recém-iniciada, o BDMG passa a trabalhar com a linha ‘BDMG Moderfrota’, que permite financiar tratores e implementos associados. Além disso, o banco seguirá financiando a compra de equipamentos agrícolas por meio das demais linhas oferecidas ao agro. No total, nove linhas são oferecidas, com taxas que variam de 7% a 11,5% ao ano.


A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirma que a pasta destinou o valor de R$ 44,7 milhões para atender as demandas solicitadas por parlamentares com a finalidade de promover a mecanização do campo, podendo esse valor aumentar após o período de restrição eleitoral. No ano anterior foram repassados R$ 89,4 milhões.

‘Deixei para o ano que vem’

O produtor de grãos Paulo Ribeiro de Mendonça relata que, apesar das linhas de crédito do Plano Safra, não conseguirá financiar uma plantadeira neste ano para sua fazenda em Paracatu, no Noroeste de Minas. “Os produtores estão sendo cautelosos de maneira geral. Esse ano nós não colhemos bem devido ao clima e a venda também não foi boa, já que o preço das commodities está baixo no mercado”, declara.
“O pessoal está comprando só o que precisa. Vejo muitos produtores relatando a mesma coisa e os vendedores falam que as vendas caíram bastante. Eu até precisava comprar um maquinário novo, mas esse ano só pude comprar implementos para o trator. E a plantadeira vai ter que ficar para o ano que vem”, lamenta.


Segundo ele, o lançamento do Plano Safra teve pouco impacto no cenário. “Não é só a taxa de juros. Quando você faz com os bancos você precisa de seguro de vida, se for uma cooperativa precisa de cota, capitalização, entre outras coisas. De toda forma, as taxas não estão atrativas”, pontua.

Inteligência artificial

Já se pode falar em inteligência artificial no mercado brasileiro. De acordo com a Abimaq, alguns modelos utilizam algoritmos que reúnem dados da própria atuação e têm a capacidade de tomar decisões e se regularem sozinhas. Mas, apesar da novidade, o campo segue enfrentando um “velho” desafio: a falta de mão de obra especializada.


A geração de empregos foi um dos aspectos em queda na pesquisa da associação. Cerca de 114.200 pessoas trabalham na indústria de máquinas agrícolas, número 3,9% menor que no ano anterior.
“Um plantador de milho, por exemplo, usa muita tecnologia. Mas é preciso treinamento para o operador, um agrônomo, além de profissionais de tecnologia. Além disso, essas pessoas precisam lidar com uma grande quantidade de dados que precisam ser analisados”, explica Estevão.