Silvana Novais, gerente da Mulher, do Jovem e de Inovação do Sistema Faemg Senar, aponta algumas das causas para a ausência da juventude no campo, um fenômeno em crescimento. Entre os fatores, destaca o êxodo rural, que, nessa faixa etária, está principalmente ligado à mudança de cidade para fins educacionais. Com essa transferência, Silvana observa que o jovem acaba se distanciando da rotina do agronegócio.
“É preciso ter um olhar atento sobre como apresentar as potencialidades do agro a eles, lembrando que tiveram a oportunidade de conhecer o mundo. Esse é o maior desafio: mostrar que o agro pode ser parte do futuro, assim como qualquer outra profissão, e que eles podem viver da propriedade”, afirma Silvana.
Otávio Maia, presidente da Emater-MG, endossa as questões levantadas por Silvana Novais e destaca que o envelhecimento da população no campo e o êxodo de jovens são realidades do meio rural mineiro. Segundo ele, existem várias razões por trás desse fenômeno, mas elas se resumem à falta de oportunidades.
“O jovem busca melhores condições de vida. Muitas vezes, no campo, ele não encontra essas oportunidades. Por isso, acaba buscando estudos e empregos nas cidades”, afirma Otávio Maia. No entanto, o presidente da Emater-MG alerta que essa expectativa pode ser uma ilusão, pois é comum os recém-formados se mudarem para as cidades e se depararem com condições precárias.
Jovens no agro
“Ao longo do curso, eu me afastei da fazenda do meu pai e passei a me concentrar mais na escola. Houve um desinteresse”, conta Luiza. Ela também menciona que a perspectiva do retorno financeiro no campo foi um fator importante para decidir seguir outro caminho. A família de Luiza também a incentivava a explorar outras áreas. “Meu pai dizia que uma médica pode ser médica e fazendeira, mas uma fazendeira não pode ser médica”, relata.
Atualmente, Luiza presta vestibular para Medicina, mas não descarta a vida no campo em seu futuro. Sua expectativa é conseguir conciliar a medicina e a fazenda, inclusive por meio de investimentos no agro. “Não é porque decidi não fazer uma faculdade nesse ramo agora que, no futuro, não possa retornar. Eu vim dele e gosto muito”, afirma.
A trajetória de Giovana Oliveira, de 18 anos, é semelhante à de Luiza. A jovem cresceu imersa no agro, em razão da fazenda do pai, localizada a 3 km de Palmópolis, município na Região do Vale do Jequitinhonha, onde morava. Aos 15 anos, também se deslocou para Almenara para cursar técnico em zootecnia no Instituto Federal.
Diferente de Luiza, com os estudos, Giovana afirma que “a paixão só aumentou. Fui adquirindo aprendizados e colocando-os em prática”. Atualmente, ela cursa o segundo semestre de Medicina Veterinária em Vitória da Conquista, na Bahia, e vê seu futuro no universo agro.
Maratona Faemg
Estratégias para motivar a sucessão familiar e aumentar a presença e a liderança da juventude no campo têm sido implementadas por entidades ligadas ao agro. Uma delas é a Maratona Faemg Jovem, que, de acordo com Silvana Novais, tem como objetivo mostrar à nova geração, na prática, o que é o segmento. O projeto também busca aproximar os jovens dos sindicatos rurais.
“Formamos equipes de jovens associadas aos sindicatos de produtores rurais, e essas equipes devem realizar uma série de atividades, como escrever e implementar projetos, além de redigir um relatório final sobre o impacto da ação”, explica Silvana. As equipes, compostas por pessoas de 18 a 30 anos, recebem pontuações com base nas atividades entregues. Ao final, os três grupos com mais pontos são premiados.
A equipe do Sindicato de Produtores Rurais de Santo Antônio do Amparo, localizado no Centro-Oeste de Minas, foi a vencedora da maratona deste ano. Para conquistar o prêmio, os participantes precisaram desenvolver cinco projetos técnicos e cinco sociais. Dayane Andrade, integrante da equipe, relata que todos os projetos abordaram a região do Campo das Vertentes, na mesorregião de Minas.
"A maioria dos jovens da equipe são cafeicultores e deram continuidade à sucessão familiar. Alguns já estão na terceira geração. Como vivenciamos isso, é muito gratificante compartilhar esse conhecimento e tentar engajar a juventude para que também sigam no campo", explica Dayane, proprietária da Berilo Cafés Especiais.
Além de eventos como a Maratona Faemg Jovem e encontros, Silvana destaca que o Sistema Faemg Senar incentiva os sindicatos de produtores rurais a formar grupos de jovens e a estabelecer diálogo com eles. A gerente também menciona o CNA Jovem, programa em parceria com o Senar, que tem como objetivo formar lideranças no setor agropecuário em nível nacional.
Futuro no Campo
Com essa ação, a Emater dá o pontapé inicial no projeto e oferece assistência técnica contínua. “O que nós queremos com esse programa é otimizar a sucessão rural: o jovem interessado em permanecer ou retornar para o campo”, diz Otávio. O presidente da Emater-MG ressalta que acredita no dinamismo e na capacidade de implementar inovações das novas gerações.
“O inscrito em apicultura, por exemplo, receberá um kit do projeto, capacitações em formato virtual e presencial, e acompanhamento técnico por 12 meses. O extensionista da Emater-MG guiará os participantes, desde o início do trabalho até a parte de comercialização da produção. Além da capacitação na área específica, estarão disponíveis também capacitações na área de gestão do empreendimento”, explicou o coordenador técnico estadual da Emater-MG, José Custódio do Nascimento Júnior, à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.