LAVOURA

Chuva tardia não salva a safra de laranja

Levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) aponta que a expectativa de produção da fruta subiu, mas ainda abaixo da estimativa inicial

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O retorno da estação úmida – com chuva volumosa e bem distribuída a partir de outubro do ano passado, após 11 meses consecutivos de precipitações abaixo da média histórica – elevou a estimativa de produção de laranja para o cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro.

Após uma segunda reestimativa da safra 2024/2025, realizada pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a expectativa de produção subiu para 223,14 milhões de caixas de 40,8 kg. Portanto, superior às 215,78 milhões apuradas na primeira reestimativa, um aumento de 3,4% e acréscimo de 7,36 milhões de caixas. Ainda assim, esta safra deve fechar 4% abaixo da estimativa inicial.

A contagem específica da quarta florada não é usual e precisou ser realizada devido ao seu nascimento tardio e atípico nesta safra. Na época da primeira reestimativa, em setembro, os frutos da quarta florada estavam em estágio inicial de desenvolvimento (menores que um grão de café), sendo que em muitas árvores ainda havia a presença de flores. Para piorar, em várias amostras essa florada foi emitida após a análise, cenários que dificultaram estimar a quantidade de frutos que efetivamente “vingariam”.

Foi necessário, então, fazer uma nova coleta entre os dias 23 de setembro e 25 de outubro, passado o período de queda fisiológica, com os frutos já firmados nas árvores, para se ter uma real projeção da quarta florada. Após a análise, a média de frutos por árvore cresceu de 32 para 54, um acréscimo de 22 frutos por árvore. Com os novos dados, a participação da quarta florada na safra saltou de 7,1% para 9,1%. Enquanto as três primeiras floradas da safra 2024/2025 produziram 202,91 milhões de caixas, a quarta florada deve somar 20,23 milhões. Dessas, cerca de 14,79 milhões devem ser colhidas na região do Triângulo Mineiro.

No processo produtivo da laranja, as fazendas se programam para colher o fruto ao longo de toda a safra, plantando diversas variedades

No processo produtivo da laranja, as fazendas se programam para colher o fruto ao longo de toda a safra, plantando diversas variedades

FUNDECITRUS/DIVULGAÇÃO

De acordo com a reestimativa, a volta da chuva resultou no crescimento dos frutos de todas as variedades, com exceção das laranjas precoces, já que 96% da sua produção já tinha sido colhida antes do início das precipitações. Os frutos de primeira, segunda e terceira floradas das variedades Pêra Rio, Valência e Folha Murcha deverão ser colhidos com pesos superiores aos estimados na primeira reestimativa. Já as laranjas da variedade Natal, embora tenham crescido, não devem atingir os pesos previstos anteriormente.

As laranjas da quarta florada de todas as variedades, apesar de também terem apresentado crescimento, serão colhidas com pesos menores em comparação aos frutos das três primeiras floradas. Na última reestimativa, o peso médio dos frutos da primeira, segunda e terceira floradas, considerando todas as variedades, foi projetado em 161 gramas, enquanto o peso dos frutos da quarta florada foi estimado em 126 gramas. Na média geral, o fruto deverá ser colhido com 156 gramas, ligeiramente maior do que o previsto em setembro. Assim, serão necessários 261 frutos para compor uma caixa de 40,8 quilos, três a menos do que o estimado anteriormente.

Na última safra, o Brasil produziu 307,22 milhões de caixas de laranja

Na última safra, o Brasil produziu 307,22 milhões de caixas de laranja

FUNDECITRUS/DIVULGAÇÃO

Na última reestimativa, a taxa de queda de frutos aumentou para 19%, contra 18,5% projetada no início da safra e 17,1%, em setembro. As causas apontadas para isso são o greening e as operações mecanizadas de manejo dos pomares, especialmente a poda.

Incidência do greening aumentou

Em 2024, a incidência de greening, considerada a pior doença da citricultura mundial, subiu de 38,06% (no ano anterior) para 44,35% no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. De um total de 203,74 milhões de laranjeiras, 90,36 milhões foram afetadas. Trata-se do sétimo ano consecutivo de crescimento da doença. Em 2023, foi apurado o maior registro histórico populacional do inseto que a transmite, com uma média de captura por armadilha 54% maior em relação a 2022.

Apesar do salto de 6,29 pontos percentuais de avanço do greeening nessa região entre 2023 e 2024, o avanço foi inferior aos 13,66 pontos apurados entre 2022 e 2023. De acordo com o levantamento, isso é um bom indicativo de desaceleração da velocidade de evolução da doença, mas o cenário ainda é de preocupação e continua exigindo dos citricultores a adoção de medidas eficazes para a mitigação da praga nos pomares.

Um dos possíveis fatores relacionados à desaceleração da doença são as altas temperaturas experimentadas pelo cinturão citrícola em boa parte do segundo semestre de 2023 e início de 2024. De acordo com Renato Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus, isso pode ter desfavorecido a ocorrência de novas infecções. “Embora essas ondas de calor não tenham sido suficientes para baixar a população de psilídeos, elas podem ter acelerado o crescimento dos brotos e afetado a multiplicação da bactéria neles, interferindo negativamente na aquisição e transmissão da bactéria pelo psilídeo”.

Junto a isso, as práticas de controle do psilídeo – uso de produtos com maior eficiência, adoção da rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, redução do intervalo de aplicação e melhor qualidade de pulverização, a eliminação de plantas doentes nas regiões com baixa incidência da praga aumento da eliminação de pomares severamente afetados e a escolha da área de plantio de novos pomares onde a pressão da doença seja baixa – também favoreceram a redução da incidência.

Das 12 regiões do cinturão citrícola, as com maior incidência do greening em 2024 continuam sendo Limeira (79,38%), Brotas (77,06%), Porto Ferreira (71,77%), Duartina (63,93%) e Avaré (63,41%), todas no estado de São Paulo. A região de Altinópolis se manteve no grupo com alta incidência da doença (42,93%), seguida por Bebedouro (39,17%), que foi a região com maior crescimento em pontos percentuais.

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Na faixa intermediária estão Matão (18,91%), São José do Rio Preto (17,57%) e Itapetininga (15,19%). Já as regiões de Votuporanga (3,14%) e Triângulo Mineiro (0,11%) permaneceram com as menores incidências. Porém, enquanto em Votuporanga foi observado crescimento de 77,4% da doença em relação ao ano anterior, no Triângulo Mineiro foi observada redução de 68,6%.

Como indicam os números da incidência do greening por região, a doença não está muito presente em Minas Gerais, motivo pelo qual vários produtores de laranja migraram para o estado. De acordo com Guilherme Rodriguez, engenheiro agrônomo e supervisor de projetos do Fundecitrus, o principal motivo disso é o clima, já que temperaturas elevadas dificultam o desenvolvimento da patologia.

Safra 2024/2025 terá queda de quase 30%

O cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro responde por 74% da produção de laranja no Brasil. Outros estados que produzem a fruta são o Paraná, Bahia e Sergipe. O país é o maior produtor do mundo de laranja e o maior exportador de suco da fruta. A cada 10 copos consumidos no mundo, em torno de seis saíram daqui.

Na última safra, o Brasil produziu 307,22 milhões de caixas de laranja. Se a projeção do Fundecitrus para a safra atual se confirmar, a queda na produção será de 29,8%, sendo redução de aproximadamente 33% nas laranjas precoces, 35% nas de meia-estação e 24% nas variedades tardias.

No processo produtivo da laranja, as fazendas se programam para colher o fruto ao longo de toda a safra, plantando diversas variedades. As precoces, geralmente, são colhidas em junho, enquanto as de meia-estação estão prontas em setembro e outubro. As tardias são retiradas do pé entre o fim do ano e o início do ano seguinte. Cada variedade produz várias floradas, que resultam nos frutos.

Exportação: volume reduz, mas faturamento aumenta

As exportações de suco de laranja da safra 2024/2025 encerraram o primeiro semestre com queda de 19,7% do volume. De julho a dezembro de 2024, foram embarcadas 430.078 toneladas, contra 535.604 toneladas do mesmo período da safra anterior. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior, compilados pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

No entanto, apesar da redução do volume, o faturamento cresceu 42,66%, somando US$ 1,9 bilhão, contra US$ 1,3 bilhão registrados no mesmo período da safra 2023/2024. De acordo com Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, essa é uma questão de oferta e demanda: “A queda da produção nos últimos anos ‘enxugou’ o mercado brasileiro e, por consequência, o internacional”.

Ibiapaba confirma que o fator chave para essa queda na produção é o clima, que passou por momentos bem complicados nos últimos dois anos. “Em 2022 e 2023, ondas de calor atingiram a produção em fases sensíveis da planta, a floração e o “chumbinho” (quando a fruta está bem pequena, como uma bolinha de gude), causando abortamento das flores e a queda do fruto. Isso acontece quando a onda de calor é muito extensa”.

Quanto à questão climática, a safra 2025/2026 está se desenvolvendo melhor. O diretor-executivo da CitrusBR considera o crescimento na incidência do greening como fator que pode ameaçar a produção de laranja no futuro.

Nas exportações do último semestre, a Europa foi responsável por 42,7% do volume (228.692 toneladas, queda de 22,2%), com receita de US$ 1,037 bilhão (acréscimo de 41,01%). Os Estados Unidos compraram 38,3% do suco exportado pelo Brasil nesse período, 161.641 toneladas (-7,17%), com receita de US$ 675,9 milhões (+56,3%). Já a China tem 4,6% de participação, com 19.223 toneladas (-46,08%) e receita de US$ 52,3 milhões (-17,3%). O Japão tem 2,7% de participação, com volume de 11.441 toneladas (-14,07%) e receita de US$ 63 milhões (+79,7%).

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