CASO DE POLÍCIA

Produtores rurais buscam soluções para garantir segurança no campo

A Faemg propõe um conjunto de ações para combater o furto de café, cacau, milho, soja e gado, produtos em alta no mercado

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A proximidade da colheita do café em Minas Gerais, que deve começar no fim de maio, é o foco de um conjunto de ações propostas pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), entidade que representa os produtores rurais. Mas, desta vez, a preocupação passa longe das questões mais comuns, como o aumento da produção. A pauta agora é segurança no campo.

O café está valorizado – pela queda de produção nos últimos anos, o aumento de consumo mundial e a abertura de novos mercados –, sendo vendido atualmente a R$ 3 mil a saca (60Kg). Se levarmos em conta que cada hectare produz 40 sacas, isso dá R$ 120 mil por hectare. Um hectare é um campinho de futebol e um pequeno produtor tem de cinco a 10 hectares. Então, você vê o valor agregado desse produto. Por isso, precisamos dar tranquilidade para esse produtor colher, armazenar e comercializar”, explica Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar.

Assim, a Faemg e o governo estadual anunciaram uma Agenda Positiva para aumentar a segurança no campo. "As propriedades rurais hoje são unidades fabris que investem em tecnologia e inovação. Isso tudo com muito custo e investimento. Então, elas têm necessidade de segurança para que continuem produzindo e gerando riqueza", disse João Ricardo Albanez, secretário adjunto da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Minas Gerais (Seapa).

Os exemplos de que o setor agropecuário lida e movimenta valores elevados vão muito além do café. A polpa do cacau já chegou à cotação de US$ 13 mil a tonelada. Assim, a carga de um caminhão de 15 toneladas deste produto está avaliada em mais de R$ 1 milhão. Não por acaso, esse transporte é feito com o auxílio de vigilância privada. “Na pecuária de corte, alguns touros e matrizes chegam a valer R$ 30 mil. Como o bandido não pode roubar esse touro para retirar sêmen, ele vai fazer esse animal valioso virar carne. É um crime, porque o touro vale R$ 30 mil e ele vai fazer virar R$ 5 mil no bife. Mas eles fazem isso”, explicou o presidente do Sistema Faemg Senar.

Umas das ações desempenhadas pela entidade que representa os produtores rurais é fornecer técnicos qualificados para que os policiais entendam as peculiaridades do setor. Por exemplo, se em uma fazenda houve o furto de 50 novilhas Nelore, é importante que os agentes saibam que essa raça é de cor branca, tem um cupim e, enquanto novilha, vai pesar entre 250 e 350 quilos. Assim, os agentes não perdem tempo parando um caminhão com novilhas pretas.

Outro exemplo são os defensivos agrícolas de alto valor, cujo frasco de 100ml custa cerca de R$ 1 mil. “Em uma fazenda no município de Três Corações, no Sul de Minas Gerais, os meliantes roubaram só os defensivos de alto valor agregado dentro de um galpão, deixando para trás os defensivos mais baratos. O crime organizado sabe qual defensivo é de alto valor. Nossa segurança também precisa estar organizada para saber qual é esse defensivo, para não ir atrás de um caminhão de 20 mil litros, mas de uma caminhonete que está carregando 100 litros desse defensivo que vale muito dinheiro”, explicou de Salvo.

O projeto piloto vai começar no Vale do Jequitinhonha até o meio do ano. As cidades que estão disputando são Araçuaí, Almenara e Pedra Azul, onde não existe qualquer iniciativa do tipo. A partir daí, será medida a viabilidade para levar isso para Minas Gerais inteira. Trata-se de um sistema mais caro, já que a falta de infraestrutura nas zonas rurais exige que as câmeras sejam alimentadas por energia solar e acessem a rede de telefonia móvel. A Faemg também propôs a criação de um canal de comunicação exclusivo entre o setor agropecuário e a polícia, para permitir uma resposta mais rápida.


As ações da polícia

As polícias Civil (PCMG) e Militar de Minas Gerais (PMMG) também participaram do anúncio da Agenda Positiva sobre segurança no campo. As instituições apresentaram suas estratégias, que unem tecnologia, inteligência e policiamento especializado para prevenir e combater crimes nestas localidades.

“Estamos atuando em sintonia e integração, com foco na prevenção e na repressão, para mitigar prejuízos de forma ágil e eficaz. Em Minas Gerais essa abordagem tem se mostrado altamente eficiente, com as forças de segurança trabalhando de maneira conjunta e em perfeita harmonia”, explicou o coronel Maurício José de Oliveira, chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.

Ele explicou que a PMMG vai intensificar as ações nas áreas rurais, com fortalecimento do policiamento comunitário e combate à criminalidade e ao crime organizado. A partir do aprendizado com os técnicos da Faemg, o planejamento das ações será baseado nas características da produção agrícola de cada município, incluindo os ciclos de produção.

Atualmente, 283 municípios mineiros são diretamente atendidos pelo serviço especializado da Patrulha Rural. Em 2024, os roubos nas áreas rurais caíram 3,5%, enquanto os furtos foram reduzidos em 14,7%, quando comparados aos do ano anterior.

Oliveira anunciou que, em breve, a Polícia Militar pretende executar uma megaoperação para desarticular quadrilhas especializadas em crimes na área rural. Ele citou o uso de tecnologias como drones capazes de fazer reconhecimento facial e de placas de veículos, além do uso de um aplicativo que fornece informações como as estradas rurais via GPS (já que raramente essas localidades contam com sinal de celular), o georreferenciamento das comunidades e cadastro de propriedades rurais.

Letícia Baptista Gamboge Reis, chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, detalhou o Projeto Campo Seguro, lançado pelo governador Romeu Zema há cerca de um mês, voltado para a repressão qualificada de crimes patrimoniais ligados à atividade rural. “Gostaria de deixar aqui uma mensagem muito clara. Aquele que se aventurar a delinquir no estado de Minas Gerais terá uma resposta certa e severa. As forças de segurança estão aí para proteger os mineiros e, dentro do eixo de atuação do projeto Campo Seguro, especificamente os produtores rurais”, declarou a delegada-geral da PCMG.

Letícia falou que a Polícia Civil estuda a criação de novas Delegacias Especializadas na Repressão a Crimes Rurais – a serem instaladas em Campo Belo, Pouso Alegre, Varginha e Três Pontas – que se juntam às 11 unidades já existentes, localizadas em Uberlândia, Patrocínio, Araxá, Passos, Alfenas, Poços de Caldas, Guaxupé, São Sebastião do Paraíso, Frutal e Uberaba, além da Delegacia Especializada na Investigação e Repressão a Crimes Rurais e Roubo de Cargas (Deicra), em Belo Horizonte.

De acordo com a chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, 100% do efetivo vão receber treinamento para atuar melhor nas demandas do setor. Entre as estratégias da PCMG estão a atuação integrada, com protocolos e trocas de informações entre as delegacias de polícia responsáveis pela investigação dos delitos, assim como uma política de proximidade com os produtores rurais, o que garante um canal de comunicação contínuo com a população do campo.


Invasões de terra

Outro assunto que foi levantado na apresentação da Agenda Positiva para a segurança no campo – motivado por uma recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um assentamento do Movimento Sem Terra (MST) no município de Campo do Meio, na Região Sul de Minas Gerais – foi a invasão de terras produtivas. O deputado estadual Raul Belém (Cidadania), presidente da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), disse que o governo federal vem dando apoio de forma velada a grupos que realizam invasão de terras.

O presidente do Sistema Faemg Senar destaca que em Minas Gerais a tolerância para isso é zero. “Nós não concordamos com a invasão de baderneiros que entram para saquear o que você tem, transfigurados de movimentos sociais. Temos que ter a atenção da polícia para não ter esse tipo de conflito, para não ter insegurança no campo, o que diminui a produção e encarece os alimentos”, disse de Salvo.

Ele cita o exemplo fictício de uma pequena fazenda que planta 20 hectares de milho, considerado um plantio pequeno. O gasto por hectare de milho é de R$ 7 mil. Então, se durante esse processo, da semeadura à colheita, que dura uns 140 dias, se essa propriedade for invadida por pessoas que destroem a plantação, apenas com o gasto de plantio o prejuízo seria de R$ 140 mil. Isso para um pequeno proprietário rural, que é a realidade de 90% dos produtores mineiros.

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