Verdadeiras joias da cultura mineira, congados e reinados acabam de ser reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais. O anúncio foi parte da programação do festival Cozinha das Afromineiridades: Congados e Reinados, que acontece entre essa sexta-feira (2/8) e este sábado (3/8) em Belo Horizonte, em celebração às raízes afromineiras no espectro da cultura alimentar.

 

 

O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) apresentou dossiê sobre essas expressões, documento organizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), que abriu a pauta para tratá-las oficialmente como tesouros da cultura mineira, agora devidamente protegidos.

 

 

O vice-governador, Professor Mateus, o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, além do presidente do Iepha-MG, João Paulo Martins, participaram do resultado da iniciativa e a divulgação do reconhecimento, no Palácio da Liberdade, nesse sábado.

 



 

Parte da reunião do Conep foi transmitida pelo canal oficial do Iepha no YouTube, acompanhada por ternos e guardas de congado e reinados de todas as regiões do estado. Após a reunião, seguiram com seus cantos, tambores e indumentárias em cortejo a partir do Palácio das Artes até o Palácio da Liberdade, que recebeu o Cozinha das Afromineiridades.

 

 

O evento reúne cerca de 1,5 mil representantes de mais de 30 ternos de congados e reinados de todas as partes de Minas Gerais nos jardins do Palácio.

 

 

Com a chegada do cortejo, foi erguida a histórica bandeira de Nossa Senhora do Rosário, na frente do Palácio e, ao lado, foi exibida também a bandeira de ferro fundido de Ouro Preto, que tem mais de 200 anos. Produzida com técnicas africanas, foi encontrada na Capela de Nossa Senhora das Necessidades em 2020.

 

 

Leônidas de Oliveira ressalta que preservar as culturas populares e tradicionais do estado de forma ampla, técnica e livre, tem sido meta do governo de Minas, por meio do Iepha-MG. Desde 2021, início de sua gestão na Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), a criação do programa Afromineiridades contempla expressões culturais mineiras como congadas, capoeira, terreiros, hip hop e samba.

 

 

"O programa faz a catalogação e inventariação dessas manifestações da cultura afromineira e afrobrasileira. As congadas e reinados de Nossa Senhora do Rosário existem desde os primórdios da formação cultural de Minas Gerais e representam a raiz profunda da existência enquanto estado. Considerados patrimônio imaterial, o primeiro registro no âmbito desse programa, ficam protegidos pela força e amparo da lei, construindo-se como bem cultural de Minas Gerais. Abre caminho para que as demais expressões, no conjunto das manifestações da cultura afromineira, sejam protegidas como patrimônio ao longo dos próximos anos", reforça o secretário.

 

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Elemento de resistência, fé e arte, as festividades, originalmente nascidas a partir dos modos de vida dos povos negros mineiros, possuem ainda profundos valores de coesão social e pertencimento, salienta o secretário. "Violões, tambores, mastros, cantorias e rezas marcam a tradição e festejos nas nossas ruas e igrejas."

 

O vice-governador, Professor Mateus, o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, além do presidente do Iepha, João Paulo Martins, participaram do resultado da iniciativa e a divulgação do título

Renata Garbocci/Secult-MG

 

O presidente do Iepha-MG, João Paulo Martins, declara que, entre os diferentes processos de registro que o instituto tem feito, incluindo bens materiais e imateriais (nessa última classificação já reconhecidos o queijo do Serro, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que acontece em Chapada do Norte, e a Comunidade Negra dos Arturos, comunidade quilombola em Contagem), esse está entre os mais marcantes.

 

 

Segundo João Paulo, foram dezenas de pedidos de registro de festas e grupos de congado, o que fez o processo ganhar amplitude. “O Iepha recebeu mais de 900 cadastros de guardas ou ternos de reinados e congados de todas regiões de Minas Gerais, mas o número de grupos é maior, visto que muitos cadastros foram realizados descrevendo mais de um grupo", conta.

 

 

Para o presidente do Iepha, um patrimônio que constrói a mineiridade e celebra as raízes da cultura afromineira. "Além da importância dessa valoração, também se trata de poder falar, trazer o congado para o centro das discussões. É ainda reafirmar uma posição anti racista, reconhecer o povo negro ao manter sua cultura e tradição, que constituem Minas Gerais".

 

 

Ele lembra que o povo negro, que chegou aqui construindo Minas Gerais nesses 300 anos, não estava só erguendo pedras. "Também dotando de cores, de movimento, essa mineiridade que nós, hoje, podemos tanto celebrar e nos orgulhamos tanto”.

 

Registro

 

Desde 2021, o Iepha-MG trabalha na catalogação e pesquisa sobre essas expressões culturais a fim de produzir o dossiê, que ressalta a importância histórica, social e cultural dos congados e reinados para o estado, e define ações de salvaguarda para a proteção dessas tradições. "O registro é uma abertura para outras políticas públicas e planos de salvaguarda feitos a partir de agora", ressalta João Paulo Martins.

 

 

Como explica o diretor de Proteção e Memória do Iepha-MG, Adriano Maximiano da Silva, o registro "garante que essa cultura se mantenha viva por meio de ações, baseadas em demandas dos próprios detentores culturais e ancoradas em quatro eixos de salvaguarda: transmissão da tradição e valorização; gestão participativa e sustentabilidade; apoio e fomento; promoção e difusão”.

 

 

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Durante o evento deste sábado, o vice-governador anunciou ainda a estruturação do que chama as rotas do Rosário em Minas Gerais, com foco na promoção do turismo para atrair visitantes a participar das festas e conhecer as cidades em que acontece.

 

Cozinha das Afromineiridades

 

O festival Cozinha das Afromineiridades: Congados e Reinados, realizado pelo governo de Minas, por meio da Secult-MG e do Iepha-MG, com patrocínio da Cemig e da Gasmig, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, ocupa o Palácio da Liberdade, onde representantes dessas expressões de todas as regiões do estado participam de diversas ações.

 

 

A programação inclui bate-papo e rodas de conversa, cortejo, cozinha viva, oficinas e apresentações culturais, além de espaço com barracas de alimentos produzidos por integrantes de congados e quilombos mineiros. O início da noite de sábado será marcado pelo ritual de descimento do mastro.

 

Editais

 

A Secult-MG e o Iepha-MG também anunciaram dois editais, no valor total de aproximadamente R$ 4 milhões, voltados para as culturas tradicionais e populares de Minas Gerais, por meio do Descentra Cultura – Fundo Estadual de Cultura, um deles exclusivo para a participação das mulheres.

 

 

Trata-se do Prêmio Rainha Conga, que destinará 65 prêmios de R$ 20 mil, totalizando R$ 1,3 milhões. O outro edital é o Prêmio Afromineiridades – neste caso, serão 65 prêmios de R$ 40 mil, totalizando R$ 2,6 milhões.

 

 

“O Prêmio Afromineiridades é voltado para todos os detentores do patrimônio imaterial, dos modos de fazer, de saber, ofícios e celebrações, e o edital Rainha Conga, voltado apenas para as detentoras da cultura e das artes do nosso estado. Estamos muito felizes com esse anúncio, estamos trazendo algo muito importante que é o reconhecimento tanto das mulheres quanto da expressão cultural”, comenta a subsecretária de Cultura de Minas Gerais, Nathalia Larsen.

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