Há sempre uma outra maneira de contar a mesma história. “Oi, BH. Boa noite, véi. I came to say uai”. Em seu terceiro show em Belo Horizonte, o primeiro da turnê “Got back”, Paul McCartney não fugiu ao script. Repetiu, inclusive, o repertório da apresentação de Brasília.
Mas isto, de maneira alguma, diminuiu o impacto de vê-lo em cena novamente (para boa parte do público na Arena MRV). Agora aos 81, Paul mantém não só o fôlego, como a presença de cena que fazem com que, a cada vez, seja diferente.
A estreia não só dele na Arena, como também do próprio estádio em sua primeira noite com casa cheia (foram 42 mil pessoas) foi quente (muito, sentido tanto pela plateia quanto claramente pelo próprio Paul), em todos os sentidos. Havia uma impaciência no ar com o atraso de mais de uma hora (Paul subiu ao palco às 21h09).
A diferença do tamanho da Arena com o Mineirão, que o havia recebido em 2013 e 2017, se fez notar rapidamente. Praticamente não havia espaços livres na área de pista. O acesso único ao estádio também atrasou a entrada do público.
Mas quando a música fala mais alto, qualquer outra coisa vai embora. O esqueleto dos shows dificilmente muda. Os grandes clássicos, sempre onipresentes (“Hey Jude”, “Something”, “Band on the run”, “Live and let die”, “Let it be”), enfileirados entre as quase 40 canções.
O show cresce quando ele fala, em português, de uma volta ao tempo. O estádio inteiro o acompanha em “In Spite of All the Danger”, de acento folk, a primeira canção gravada pelos Beatles. Liverpool, Cavern Club, em 2023, um violão e um coro de “ooooooo”.
Logo depois vemos quão grande Paul é. Ele para o show, todos os músicos vêm para a frente. Havia uma pessoa passando mal na parte frontal do palco. Paul observa a tudo e só volta a cantar, (a música era “Love me Do”), quando a pessoa foi atendida e ele se certificou que poderia continuar.
Com um ukelele em punho, tocou “Dance Tonight”. Mas quem brilhou neste momento foi o baterista Abe Laboriel, fazendo dancinhas e gestos.
A banda atual - Paul "Wix" Wickens (teclados), Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) - o acompanha há duas décadas. Competentes e carismáticos como o chefe, nesta turnê contam com o auxílio de um trio de metais, que apareceu em momentos pontuais. Na primeira aparição, em “Letting Go”, tocaram fora do palco, acima das cadeiras.
Homenagens a George e John
A maior parte do repertório era dos Beatles. Mesmo enfileirando também hits dos Wings e da carreira solo, Paul também cantou sua produção mais recente, como “Come on to me” (2018)
Há muitos momentos com lasers que saem do palco e dominam o estádio. As projeções também estão cada vez melhores. Em “Let’em in” são várias bandas em paradas e manifestações mundo afora; em “Blackbird” e “Here today”, a música que ele sempre dedica a John Lennon, fica suspenso numa estrutura.
George Harrison apareceu em vários fotos antigas no telão em “Something”, sempre dedicada a ele. Os Beatles em imagens durante as gravações de “Get back”, que vieram a público no documentário homônimo de Peter Jackson, a quem Paul agradeceu nominalmente.
Antes do bis, as bandeiras do Brasil, do Reino Unido e LGBTQIA+ empunhadas por Paul e a banda. John Lennon volta logo no bis, no já famoso dueto em “I’ve got a feeling”, com a imagem dele do último show da banda, em 1969.
Depois de quase três horas de show (e sem beber água), Paul se despediu com a obrigatória chuva de papel picado verde e amarelo.
Nesta segunda (4/12), retorna para o último show na Arena MRV para contar uma nova história.
Até 16 deste mês, quando se despede do Brasil no Maracanã, 33 anos depois de ter estreado no estádio para um público recorde em sua carreira (184 mil pagantes), Paul ainda faz seis shows, os últimos de 2023. Além de BH e Rio, toca em São Paulo (7, 9 e 10/12) e Curitiba (13/12). Há ingressos disponíveis apenas para a apresentação de hoje, na Arena.
Milton Nascimento é ovacionado pelo público
A noite foi aberta inesperadamente, com uma chuva de afetos. Por volta das 20h Milton Nascimento surgiu caminhando na pista premium. O reconhecimento veio rápido: “Bituca”, gritou o público. O cantor, que já havia demonstrado sua animação por vídeos nos últimos dias nas redes sociais, fechou um ciclo nesta noite.
Antes de se dirigir para um local na área de PCD, teve um encontro com Paul McCartney nos bastidores. Foram 53 anos até que isto acontecesse: “Para Lennon e McCartney”, letra de Fernando Brant para música de Lô e Márcio Borges, foi lançada por ele em 1970, como faixa de abertura do álbum “Milton”.
Os Paralamas também estavam na plateia - Bi Ribeiro e João Barone na pista, Herbert Viana em um dos camarotes.
PAUL MCCARTNEY – GOT BACK
Nesta segunda (4/12), às 20h, na Arena MRV, Rua Cristina Maria de Assis, 202
Abertura dos portões: 16h
Classificação etária: Menores de 16 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais
Ingressos: a partir de R$ 240 (à venda na bilheteria do evento e no eventim.com.br).
Permitida a entrada de água potável para consumo próprio em garrafas ou copos de material flexível.
Confira o setlist do show de Paul McCartney em BH deste domingo (3/12)
Can’t buy me love (The Beatles)
Juniors Farm (Wings)
Letting go (Wings)
She’s a woman (The Beatles)
Got to get you into my life (The Beatles)
Come on to me (Paul McCartney)
Let me roll it (Wings)
Getting better (The Beatles)
Let’em in (Wings)
My valentine (Paul McCartney)
Nineteen hundred and eighty-five (Wings)
Maybe I’m amazed (Paul McCartney)
I’ve just seen a face (The Beatles)
In spite of all the danger (The Beatles)
Love me do (The Beatles)
Dance tonight (Paul McCartney)
Blackbird (The Beatles)
Here today (Paul McCartney)
New (Paul McCartney)
Lady Madonna (The Beatles)
Fuh you (Paul McCartney)
College/She can in through the bathroom window (The Beatles)
Jet (Wings)
Being fo the benefit of Mr. Kite! (The Beatles)
Something (The Beatles)
Ob-la-di Ob-la-da (The Beatles)
Band on the run (Wings)
Get back (The Beatles)
Let it be (The Beatles)
Live and let die (Wings)
Hey Jude (The Beatles)
I’ve got a feeling (The Beatles)
Birthday (The Beatles)
Sgt. Pepper's lonely hearts club band (Reprise) (The Beatles)
Helter Skelter (The Beatles)
Golden Slumbers/The end (The Beatles)