Jornal Estado de Minas

TRANSFORMAÇÃO

Solidão e solitude


 

A solidão e o isolamento social são, agora, considerados problemas globais de saúde pública e muitos especialistas chamam isso de epidemia, embora seja difícil mensurar com precisão. Um artigo de 2021 da OMS (Organização Mundial da Saúde) descobriu que entre 20% e 34% dos idosos na China, Europa, América Latina e Estados Unidos se sentem solitários.





O relatório da OMS afirma: “Ambos encurtam a vida dos idosos, prejudicam a saúde física e mental e diminuem a qualidade de vida”.

A presidente da Sociedade Catalã de Geriatria, Esther Roquer, relata que “nos idosos, a solidão começa com eventos, como uma queda grave, aposentadoria do emprego ou a morte do cônjuge. Eles ficam presos em casa e sua fragilidade, dependência e incapacidade de dirigir ou sair de casa marcam o ponto de virada em direção à solidão. É uma síndrome geriátrica. A solidão mata como uma doença e tem um efeito dominó de produzir mais doenças.

Porém, os mais jovens não estão imunes aos sintomas. De acordo com uma pesquisa do Instituto Ipsos, que ouviu 23 mil pessoas de 28 países, o povo brasileiro é o que mais sofre de solidão em todo o mundo. 

Nesse sentido, de cada 1000 entrevistados no Brasil, 50% deles relataram que sentiram solidão com frequência.

Por definição, a solidão é o estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas.





É de se esperar que todos nós, dentro de algum contexto, já experimentamos  um vazio, uma tristeza pela falta de alguém, a dor da ausência do outro, pelo desejo de ter alguém para conversar, viajar, passear ou realizar algum tipo de atividade. 

Porém mesmo estando acompanhados, com alguém ao lado, também podemos nos sentir sós. A solidão pode ocorrer dentro de um relacionamento, junto com a família e amigos, e até no meio da multidão. 

A solidão sofre forte influência da mente inconsciente, a qual impulsiona a pessoa a isolar-se. Temos que estar atentos para esse sentimento, olhar para dentro de nós e compreender de onde nasce a dor, e de quem ela vem acompanhada: da tristeza, da ansiedade, de medos de julgamentos, de comentários, de críticas. 





A solidão causa uma série de impactos no corpo, liberando o cortisol, o hormônio do estresse, aumentando a  irritabilidade e gerando intolerância à frustração, podendo inclusive levar à depressão. 

Especialistas dizem que é necessário mais foco na solidão, juntamente com terapias para lidar com seus impactos na saúde. Não existe remédio para curar a solidão, mas existem estratégias que podem minimizar os danos que ela pode causar.

Uma das maneiras de lidar com a solidão é transformá-la em solitude.

A solitude é uma ação consciente, uma escolha pessoal de isolamento a fim de interiorizar-se em um momento de reflexão, em oportunidade de crescimento pessoal, em autoconhecimento.





É uma forma de entrar em contato consigo mesmo, permitindo descobertas de suas características positivas, fortalecendo a autoconfiança, o amor próprio, e a sua saúde mental.

Uma pessoa em estado de solitude desfruta de seus momentos de isolamento, mas sabe que possui relações significativas e que pode contar com a companhia de outras pessoas.

Portanto, aproveite a circunstância e a transforme em oportunidade. 

Este momento é essencial para que você possa se ouvir – sem distrações e influências externas, é possível assimilar com clareza o que se quer, o que precisa, quem você é, sem esperar aprovação dos outros. 

O autoconhecimento proporcionado pela solitude permite sentir prazer com sua própria companhia, constrói autoconfiança e, perde-se o receio de estar sozinho e de mostrar quem você verdadeiramente é.





Desenvolva sua criatividade, deixar a mente livre é importante para se desligar de padrões que você costuma repetir junto aos outros, permitindo que novas ideias surjam. 

Algumas sugestões para desenvolver a solitude:

 
  • Leitura – Através de um bom texto, podemos nos conectar com o que somos, o que pensamos, os pontos de convergência e divergência entre o autor e nós, assim como as diferenças que nos provocam para um novo pensar;  
  • Música – Sinta a música, procure parar as demais atividades e escute  atentamente a melodia, os compassos, deixe sua intuição e sensibilidade aflorarem e se desenvolverem, se entregue às emoções e às sensações que ela lhe traz; 
  • Meditação – Pratique 15 minutos diariamente, apenas silencie, procure esvaziar a mente prestando atenção em sua respiração;
  • Filme – Assista a um filme que te convide à um mergulho, que você se sinta inteiro ali, apenas vivenciando o momento. 
  • Natureza –  Procure sair da zona urbana e entrar em contato com o  mar, cachoeira, matas. A natureza auxilia a conexão com nossa essência.

Descubra as atividades que te conectam com você mesmo, que você nem perceba o tempo passar e que só dependam de você.

Todos os dias, procure marcar um encontro com você mesmo. Pode ser uma caminhada, um almoço, praticar meditação ou ficar no quarto em silêncio por alguns minutos.

É nesse momento que podemos desenvolver o autoconhecimento, de nos encontrar ao invés de tentar fugir e de nos aceitar como realmente somos, aprendendo a nos amar, assim como a nossa companhia, independentemente da aprovação do outro e de outros. É a liberdade em nos permitir ser quem somos, sem medos ou amarras.

E a beleza de tudo isso está dentro deste mergulho interno, onde, através do reconhecimento de quem somos, tomamos consciência de nossa inteireza. E é a partir deste momento que estamos prontos para dividir e trocar. 

Como diz Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Será através desta viagem introspectiva rumo à nossa consciência e capacidade interpretativa que encontraremos o ponto de partida para uma vida mais equilibrada, autêntica e feliz.