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Estado de Minas COLUNA

A morte como conselheira. Feliz Páscoa!

Deixe morrer quem és para nascer quem você quer ser


08/04/2023 08:40 - atualizado 08/04/2023 08:44

Árvore
(foto: Pixabay)

Páscoa significa passagem, vem do hebraico seu significado " pessach", morte e renascimento.

É fundamental olharmos para a morte com coragem. Não adianta negar, correr, fugir - a única certeza que temos é de que vamos morrer. E para encará-la de frente Ana Claudia Quintana Arantes nos ensina, em seu livro "A morte é um dia que vale a pena viver ", como refletir e valorizar a vida que temos.

O oposto da morte é nascimento, e o que separa os dois é o tempo. E o que fazemos dentro desse tempo é a vida!

Para a mitologia grega o tempo é representado por dois deuses: Chronos e Kairós. Essas duas dimensões do tempo deveriam caminhar juntas, porém tendem a se opor, na maioria das vezes.

Chronos é o" tempo dos homens" - tempo das necessidades que nos chamam, os compromissos, o tempo do relógio, como organizamos nossa vida e nossas atividades, é o nosso ritmo.

Kairós é o tempo da alma, é a qualidade do tempo vivido. É a forma como vivemos o tempo do relógio. O tempo oportuno, que faz um acontecimento ser especial, memorável em seu significado - "é o tempo da alma".

Nossa sabedoria consiste em vivermos o tempo sob as duas dimensões, de Chronos e Kairós.

E para isso é necessário nos conhecermos, priorizar o que de fato é importante para nós, assim alcançaremos uma vida com tempo e um tempo com vida.

Portanto, ao iniciarmos um processo consciente da morte, iniciamos também uma ressignificação da vida. A satisfação de estar vivo e poder viver o dia a dia, aprendendo a desfrutar a alegria da companhia dos pais, filhos, netos, amigos, de uma comida saborosa, dos pequenos prazeres como tirar os sapatos após um dia inteiro de trabalho, de um simples oi, um sorriso, das coisas simples que se perdem na correria do dia a dia.

Vivemos em uma sociedade em que se prega que tempo é dinheiro. Aprendemos a ganhar, a ter. Porém ao morrer não adianta ter nada, você não levará nada, a não ser o seu SER, o que foi vivenciado, suas experiências.

É preciso aceitar a morte. É necessário aprender a perder bens, pessoas, sonhos, projetos.

Essa consciência, porém, não significa evitar a dor da perda ou sentir menos. Como a morte, o luto também faz parte e devemos vivê-lo verdadeiramente, em todas as suas etapas.

Para Freud, é só pela realização do luto por alguém ou algo que nos foi muito importante é que podemos nos abrir para o novo.

Em nosso processo de vida existem vários processos de morte. Nascemos e morremos em vida várias vezes, através de nossos mais diversos ciclos e fases: infância, juventude , amizades, carreira, casamento, quantas fases?

Quantos ciclos a vida nos apresentou para que pudéssemos chegar até aqui? Simbolicamente foi através de nossas "mortes", nossas dores, nosso sofrimento, que conseguimos crescer e ressurgir, renascemos mais fortes e com mais significado, dando à vida mais propósito.

Carlos Castañeda, nos apresenta em um dos seus textos que "é preciso ter a morte como conselheira". Se conseguirmos de verdade encará-la desta forma, conseguiremos nos entregar para a vida e seus mais diversos ciclos com mais leveza e fluidez.

A vida é para ser vivida. Aprendi isso muito cedo pela morte prematura de minha mãe.

A dor da perda ressignificou toda a minha vida. Aprendi a celebrar e honrar o que foi vivenciado até ali. E a partir de então procuro ser feliz a cada momento, celebrando e festejando cada dia. Valorizo a vida que pulsa em mim em cada amanhecer.

E, segundo Bert Hellinger, o criador das constelações familiares, é isso que nossos mortos esperam de nós, que os honremos com nossa felicidade. Para Bert , após a morte permanece "o pertencimento". Todos os membros, geração após geração, continuam pertencendo ao seu sistema familiar. Mais do que isso: como a fonte de um rio, é através deles que chegam até nós a força e tudo o mais que precisamos para seguir nosso próprio destino, para fazer um pouco mais com o que recebemos.

Fazendo uma analogia com as nossas mortes internas também ocorre o mesmo, são as nossas experiências que nos fortalecem e nos preparam para o próximo ciclo.

Por mais difícil que seja, é necessário aceitar o que em nós precisa morrer para dar vida ao "novo" que sussurra em nossos corações, pedindo para nascer.

Deixe morrer quem és para nascer quem você quer ser, dê passagem para o seu novo ser. Feliz Páscoa!

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