Jornal Estado de Minas

ARTIGO

Inclusão digital na era das fake news


A história da humanidade vem sendo revelada pelas mudanças de relação com o saber.

No início este "saber" se dava através da alfabetização, onde quem soubesse ler e escrever  dominava o conhecimento.





Atualmente, com o advento da tecnologia digital  vivemos uma nova mudança do paradigma de conhecimento, onde as formas de acesso ao "saber" ocorrem através da internet,  assim como sua comunicação. 

Essa realidade comunicacional implica novas formas de escrever, ler, comunicar e lidar com o conhecimento, ou seja, novas maneiras de pensar, aprender, ensinar e "saber".
 
 
 
É através deste ambiente que nascem as "Fake News", notícias, falsas ou informações mentirosas que são compartilhadas como se fossem reais e verdadeiras, divulgadas em contextos virtuais, especialmente em redes sociais ou em aplicativos para compartilhamento de mensagens.

Dentro deste contexto cada indivíduo se torna  ao mesmo tempo, emissor e receptor de informações. Porém,  para que isso ocorra, é necessário ter acesso a internet através da inclusão digital, onde  todos poderão ampliar e divulgar seus conhecimentos conectando com este novo modo de "saber".





Mas o que é  inclusão digital?


A inclusão digital é uma ampliação do ambiente digital que consiste em garantir  o acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) para todas as pessoas. 

Embora a  Internet tenha se popularizado  no Brasil por volta de 1995, e o seu acesso aumente rapidamente ano a ano, não é a realidade de grande parte dos brasileiros. 

Seu grande desafio atual é garantir que os idosos, pessoas com baixo poder aquisitivo ou com deficiências motoras, visuais e auditivas não fiquem fora do mundo digital, assim como aquelas que se encontram nas  áreas rurais  e nas regiões norte e nordeste do país, que são hoje em sua maioria, os mais excluídos deste novo universo do conhecimento.  

Dentre os excluídos daremos uma atenção especial aos idosos.

Já não é novidade que o Brasil está envelhecendo. Atualmente 15% da população brasileira é de idosos e, até 2030, a expectativa é chegar a 25%. As pesquisas apontam que até 2025 o Brasil terá a sexta população mais idosa do mundo . 





Um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) revela que houve um crescimento entre os brasileiros com mais de 60 anos que acessam a internet de 68% em 2018 para 97% em 2021.

No entanto, os idosos ainda encontram muitos problemas para navegar na internet. As questões enfrentadas vão desde sites com fontes e ícones pequenos, até layouts complicados, conteúdos complexos  e vários outros problemas que prejudicam a experiência deste grupo como usuários da internet.

Sendo assim, não é apenas dar acesso a tecnologias às pessoas que o problema está resolvido, para que isso aconteça é necessário obter algumas competências digitais para tirar o maior proveito da tecnologia. E acima de tudo é necessário ter cuidado com as ameaças nos ambientes virtuais. 





Os idosos, assim como a maioria de nós , não possuem conhecimento dos métodos de crimes cibernéticos, tornando-se vulneráveis a golpes e as falsas notícias, Fake News".

E como dito no início desta coluna  é dentro deste contexto que cada um de nós se torna  ao mesmo tempo, emissor e receptor de informações. Portanto se faz necessário adequar os códigos para cada faixa etária, que vão desde os idosos até as crianças , passando pelos jovens. 

Dentro desta realidade a  fronteira entre segurança pública e privacidade é crítica.

No Brasil, o projeto criado para  a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, também conhecido como "PL das Fake News", segue em votação e necessitando de ajustes. 

Tendo como base a nova lei do bloco europeu, aprovada em abril de 2022, a lei brasileira propõe  uma nova regulamentação responsabilizando empresas como Facebook, Google e Twitter , em caso de propagação de desinformação, pelas  chamadas fakes News. A lei  prevê regras especiais para a atuação das grandes empresas de tecnologia, com punições rígidas em caso de infração, assim como a lei europeia.





O texto visa a impedir a propagação de notícias falsas e discursos de ódio em ambiente virtual. Além disso, exige dos provedores mais transparência e moderação de conteúdos considerados ilegais. Defensores da medida alegam que condutas criminalizadas no mundo real também devem ser proibidas no ambiente virtual. Por outro lado, críticos alegam que o projeto limita a liberdade de expressão.

Já na  nova legislação europeia , não só o grupo GAFA, composto das gigantes Google, Apple, Facebook e Amazon, como todas as empresas de tecnologia com mais de 45 milhões de usuários são enquadradas como grandes plataformas e devem seguir regras mais restritivas que as demais empresas.

Elas devem enviar relatórios indicando que possuem moderadores suficientes para evitar disseminação de fake news. Também devem abrir seus algoritmos para mostrar como definem qual conteúdo está no topo do feed, ou seja, quais informações aparecem primeiro para o usuário.





Se as regras forem descumpridas, ficam sujeitas a penalidades rígidas, tais como: multas no valor de até 6% da receita da empresa; mudanças de algoritmo, de acordo com determinação do bloco europeu; proibição de operar na Europa.

E nós? Enquanto o Brasil não aprova e implementa as leis, o que podemos fazer? 

Como nos proteger das fake news?


Entra aqui a alfabetização digital. 

Precisamos ir além da inclusão digital e nos esforçarmos  para a alfabetização digital . 

Para Paul Gilster, autor do livro Digital Literacy, alfabetização digital é resumida como a habilidade para encontrar, avaliar, compartilhar e criar conteúdo utilizando tecnologias da informação e a Internet.





Através da alfabetização digital é possível  desenvolver o pensamento crítico das  pessoas oferecendo estratégias  para que saibam reconhecer quais são as características das informações verdadeiras e dos conteúdos falsos, ou seja, possibilitar uma espécie de filtro sobre o que elas consomem e reproduzem  virtualmente e as formas de se protegerem.

Dentre as estratégias possíveis para navegar na internet com mais segurança, estão :  

- evitar compartilhar dados que podem causar problemas pessoais e financeiros na web (número da conta corrente, senhas de serviços on-line, etc.)

- ter cuidado com links (desconfie ao receber qualquer informação estranha, não clique em links que recebeu de pessoas desconhecidas)

-  preservar a privacidade (não poste todas as suas fotos e evite postagens que indiquem onde você mora)

Além disso, sempre que possível  :

Utilize softwares originais

Use um bom antivírus

Evite conexões em redes de Wi-Fi públicas

Só insira dados em sites confiáveis

Desconfie de e-mails desconhecidos

Não utilize senhas óbvia

Atenção ao fazer downloads

Cuidado com os anexos: em redes sociais, e-mail etc.

Finalizando ficaremos com a frase de Valmir Ferreira: "Navegue na internet, mas, cuidado para não afundar!"