"Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas. Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração" - Cora Coralina
A vida é uma dança constante entre a leveza e o peso, uma jornada na qual equilibrar esses dois extremos pode ser um desafio. A dualidade entre o leve e o pesado permeia nosso cotidiano, desde a linguagem que usamos até as escolhas que fazemos em nossas vidas.
No passado, a era tecno-econômica celebrava o robusto e o pesado como sinais de sucesso. Ter equipamentos pesados era sinônimo de poder e prestígio. Dizíamos que alguém era "de peso" quando tinha grande influência e importância. No entanto, também usávamos a expressão "um peso" para descrever alguém que era um fardo para a família, uma carga a ser carregada.
Hoje, a demanda é por leveza. Ansiamos por viver de forma mais solta, sem as amarras do excesso. Simplificar a vida tornou-se a recomendação, viajar com pouca bagagem, eliminar tudo que nos liga demais à terra firme. Todos clamam pela leveza em suas diversas formas. No campo pessoal, celebramos a magreza, aderimos às dietas detox, desaceleramos, buscamos o zen, o mindfulness e o minimalismo.
A tecnologia, outrora robusta, agora se desmaterializa com a nanotecnologia, oferecendo dispositivos cada vez menores e mais leves. Sem as amarras de fios, o wireless, são quase etéreos, a ordem é reduzir o peso.
Mais do que dinheiro e felicidade, a escolha do corpo e do espírito é por uma carga mais leve. Exigimos do outro que "pegue leve". Mas há uma ironia nisso tudo: com todo esse arsenal de leveza, a vida parece ficar mais pesada a cada dia. Estamos em um ciclo vicioso, em que buscamos a leveza, encontramos o peso e, paradoxalmente, aumentamos nossa sede pela leveza.
Em nossa busca por uma vida com mais liberdade e leveza, acumulamos pesos . Em nome da segurança e da liberdade, adquirimos carros, casas, cursos e inumeráveis itens em prestações intermináveis, comprometendo nossas horas de trabalho. Compramos mais coisas para simplificar a vida que nós mesmos tornamos complicada.
Às vezes, vivemos no piloto automático, sem questionar se realmente gostamos do que fazemos e temos. Esquecemos de buscar algo que nos faça bem de verdade. Quando inserimos atividades que nos preenchem genuinamente em nossas rotinas, tornamos nossas vidas mais leves.
Dar uma segunda chance, seja a si mesmo ou aos outros, é fundamental. Não podemos ser extremistas, pois isso só nos trará mais sofrimento. Não leve a vida tão a sério; permita-se falhar e rir de si mesmo. Não transforme situações em problemas e, em vez disso, conte suas bênçãos.
Tenha menos coisas, pense menos e não se cobre tanto. Vá com calma e aproveite a companhia de quem te faz rir. Cultive a gratidão e adicione leveza à sua vida. Seja gentil, educado e generoso.
A vida é uma harmonia entre leveza e peso, e é essa dualidade que nos permite encontrar equilíbrio. A leveza não é a ausência do peso, mas a maneira como escolhemos carregar nossas cargas. Encontrando significado na simplicidade, na gratidão pelo presente e na aceitação do que não podemos controlar.
Portanto, convido vocês, meus queridos leitores, a refletirem sobre como podem reinventar suas vidas, liberando-se do excesso e abraçando a beleza da leveza. Quando fazemos essa escolha, descobrimos que a vida se torna mais rica, mais significativa e, acima de tudo, mais prazerosa. Viver com leveza é uma arte que podemos cultivar a cada dia, tornando nossa jornada verdadeiramente digna de ser vivida.