Jornal Estado de Minas

COLUNA

Homem, sua saúde também é importante!

Estamos no Novembro Azul, mês de conscientização sobre a saúde do homem, quando aproveitamos para chamar a atenção sobre a importância da prevenção do câncer de próstata. 





A campanha é justificada porque, em geral, o público masculino não dá muita atenção à própria saúde, o que resulta em diagnósticos tardios, redução das chances de cura e aumento das possibilidades de complicações.

Com 65.840 casos previstos pelo Inca somente este ano, o câncer de próstata deverá corresponder a 29% dos tumores em homens. Em 2018, conforme o Atlas da Mortalidade por Câncer do Inca, foram 15.576 óbitos.

Infelizmente, a redução de diagnósticos precoces em função da pandemia deverá repercutir numa maior taxa de mortalidade nos próximos anos.

Foquemos, então, em agir o mais rápido possível para frear essa tendência. Para maximizar os efeitos positivos do rastreamento precoce, considero o diagnóstico personalizado – que avalia o perfil do paciente, sua história pregressa, seus eventuais fatores de risco e também histórico familiar – o mais assertivo.



Somado a isso, os avanços na genética e nos testes genéticos para o diagnóstico correto das síndromes de predisposição hereditária ao câncer já propiciam melhor seleção dos homens para o rastreamento do câncer de próstata.

De forma geral, recomenda-se que o rastreamento seja iniciado aos 50 anos de idade. Entretanto, o rastreamento deve ser iniciado abaixo dos 40 anos em casos de portadores de mutações hereditárias de predisposição ao câncer de próstata, como a mutação do gene BRCA2.

As principais alterações genéticas já identificadas podem ser diagnosticadas com exames simples de sangue ou swab bucal em homens com parente de primeiro grau com histórico de câncer de mama, ovário ou próstata com diagnóstico feito em idade abaixo dos 55 anos; ou em homens com pelo menos dois parentes com histórico de cânceres de mama, ovário ou próstata em qualquer idade.





Também aplicamos a regra do início do rastreamento cinco anos abaixo da idade em que foi diagnosticado o câncer no familiar em idade mais jovem. Todas essas condutas e exames, bem como o aconselhamento genético pré e pós-testes devem ser realizados por especialistas com larga experiência em oncogenética.

Homens da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer prostático devem começar aos 45 anos ou mesmo antes, dependendo do histórico familiar.

Para se ter ideia da importância desse direcionamento, os estudos genéticos mais recentes indicam que o principal fator de risco é hereditário, sendo responsável por até 13% dos casos. As pesquisas indicam que, nesses casos, os tumores tendem a ser mais agressivos e a surgir em idade mais jovem (abaixo dos 50 anos).

Assim, confirmando-se a presença dessas mutações em um ou mais membros é possível realizar um rastreamento ativo com dosagens seriadas de PSA e ainda outros exames para a detecção precoce dos demais tumores que compõem as síndromes.



A identificação de mutações de genes como o BRCA e o ATM, chamados de genes de recombinação homóloga, também são importantes porque podem indicar um tratamento específico, ou alvo-molecular, com a utilização de medicamentos inibidores de uma enzima chamada de PARP.

É bom lembrar que o rastreamento adequado é feito com a combinação do teste de dosagem de Antígeno Prostático Específico (PSA) e o toque retal. Hoje, admite-se que a dosagem seriada do PSA não seja indicada para homens de baixo risco.

Mas, para homens com maior risco, é extremamente importante no rastreamento, assim como o toque retal, pois existem outros tipos de tumores na próstata além do adenocarcinoma, causador do aumento do PSA. Um paciente meu estava com PSA normal, mas estava com alguns sintomas urinários.



Então, fiz o exame de toque retal e ele tinha um nódulo na próstata. Por meio da biópsia, descobrimos que não era adenocarcinoma, mas, sim, um melanoma. Isso mesmo, melanoma na próstata! Isso ilustra a seriedade de se fazer o exame completo, incluindo o toque retal.

Muitas vezes, quando temos suspeita no toque e no PSA, fazemos um ultrassom transretal e pélvico para orientar a biópsia e afastar o diagnóstico de câncer. Caso o diagnóstico ainda não seja claro, uma ressonância multiparamétrica nos dará uma qualidade de imagem muito boa.

Para fechar após ter compartilhado essas informações tão importantes, convido todos os homens em idade de rastreamento, incluindo aqueles de grupo de risco, a marcar o quanto antes suas consultas de rastreamento. É importante agir agora!


André Murad é oncologista, diretor-executivo da 
Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e
oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília/Cettro

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