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No seu skincare você também se atenta ao skin cancer?

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Atualmente, está muito na moda o termo skincare referente a uma rotina de cuidados com a pele do rosto. E questiono: você que faz o skincare também se preocupa com o skin cancer – câncer de pele (melanoma)?
 
Certa vez, chegou até mim um paciente cujos sintomas indicavam a presença de algum tumor, mas que não estava sendo identificado nos exames por imagem. Após ouvir seu relato, iniciei minha avaliação clínica e depois de examinar todo o seu corpo, solicitei que retirasse as meias para que eu pudesse examinar seus pés. E voilà! Lá estava, entre os dedos dos pés, o melanoma causador de todos os sintomas.




 
Sou um insistente defensor da prevenção e do rastreamento personalizados e individualizados, conforme os fatores de risco a que cada pessoa está exposta. A regra geral é proteger-se da exposição excessiva aos raios solares, usar o protetor solar e manter a visita ao dermatologista uma vez ao ano após os 40 anos, visto o câncer de pele ser uma doença do envelhecimento. Mas, será que, assim como no skincare, os cuidados devem ser personalizados?
 
A resposta é sim. Além das pessoas de pele clara, que devem redobrar o cuidado, é necessário também se atentar às síndromes herdadas geneticamente. Identificar as condições hereditárias indicará a necessidade de cuidados especiais e mais precoces para prevenção e rastreamento. Suspeita-se de uma síndrome genética quando há vários casos de câncer de pele na família, ou melanoma – que é o mais comumente transmitido de forma hereditária – e recorrência da doença na mesma pessoa, principalmente, em pessoas jovens.
 
O carcinoma basocelular, em geral, aparece em pessoas com idade avançada, de pele mais clara e sensível. Ele surge como um nódulo de cera branca ou uma mancha escamosa marrom nas áreas expostas ao sol como, rosto e pescoço. A suspeita de um caso hereditário ocorre quando há vários casos na família, ou quando se repete na própria pessoa antes dos 30 anos. Dois genes estão ligados a essa predisposição: o PTCH1 e PTCH2. O primeiro gera a síndrome de Gorlin, que caracteriza-se pela presença de pintas e sinais (nevos) e múltiplos nevos, apesar de ser basocelular.
 
Já o carcinoma espinocelular é um carcinoma de células escamosas, que começa com uma alteração na pele, uma lesão avermelhada cuja superfície é crostosa e descama, nunca sara. Quando ela aumenta, o tumor pode ficar mais alto, mais duro, lembra uma verruga. Se você não trata, vira uma ferida aberta, que cresce e atinge aos tecidos vizinhos. Casos hereditários são raros nesse tipo de tumor, sendo a xeroderma pigmentoso a síndrome mais comum. Ela é causada pela mutação do gene XP. Hoje, temos identificados quatro variações: o XP A, B, C e D. A suspeita de casos hereditários deve acontecer já na infância, pois as crianças portadoras já apresentam sinais.




 
Além disso, pessoas com maiores mutações nesses genes têm maior chance de desenvolver carninomas basocelular, espinocelular e, o mais grave, melanoma, que pode dar metástase e matar. Então, as pessoas portadoras da síndrome xeroderma pigmentoso não têm reparo da pele suficiente, e, com pouco contato com o sol podem desenvolver algum tipo de câncer de pele.
 
Em relação ao melanoma, normalmente aparece em pessoas de pele clara, loiras e de olhos claros devido a exposição à luz solar. O melanoma é mais frequentemente causado pela exposição intensa e intermitente ao sol, quando a pele fica avermelhada e depois descasca. Quando hereditário, a mutação normalmente ocorre no gene CDKN2A que causa a síndrome familiar dos nevos atípicos múltiplos. A pessoa tem muitos nevos. Um ou outro acaba malignizando e se transformando em melanoma, geralmente em pessoas jovens, abaixo dos 40 e 30 anos.
 
Uma vez identificadas mutações nesses genes, por meio de exames genéticos (sangue ou saliva), temos que fazer um trabalho para evitar o sol, principalmente, entre às 10h e 15h30, e fazer o uso correto do protetor solar, com várias aplicações durante o dia, antes da exposição à radiação solar e com fator de proteção indicado para o tipo de pele. As pessoas com essas mutações devem visitar o dermatologista até duas vezes ao ano para detectar as lesões ainda em fase inicial ou pré-maligna, para que ela possa ser removida antes de afetar a outros tecidos. Pronto, agora você já tem as informações para fazer o skincare completo e também focado na saúde, certo?


André Murad é oncologista, diretor-executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília/Cettro




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