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Doenças infecciosas e a prevenção do câncer

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Recentemente, vi em um grupo de pacientes no Facebook o seguinte questionamento: “É possível prevenir o câncer?”. Para minha surpresa a maior parte das pessoas defendia que “não”. Diziam conhecer pessoas que faziam atividades físicas e tinham alimentação saudável e mesmo assim desenvolveram a doença. Embora isso realmente possa acontecer (pois há outros fatores causais), não deve ser usado para chegar à conclusão de que não há prevenção.



Pelo contrário, deve-se entender que, por existirem inúmeras causas para o câncer, combater o sedentarismo, a obesidade e manter uma alimentação saudável são ferramentas básicas e fundamentais para evitar um processo de carcinogênese. Somado a isso, devemos entender as outras causas para a correta prevenção.

Dos casos de câncer no mundo, 15% a 20% são causados por predisposição genética; 65% surgem devido a agentes ambientais – hábitos de vida como alimentação desequilibrada, o tabagismo, o sedentarismo, a exposição exagerada ao sol, substâncias químicas, entre outros. Cerca de 15% são relacionados a fatores diversos, como mutações espontâneas ou agentes virais.

Desses, uma pesquisa divulgada na revista Lancet Glob Health, pelo Grupo de Estudos em Infecção e Epidemiologia do Câncer da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), da França, conseguiu estabelecer a relação direta do aparecimento do câncer a agentes infecciosos (vírus, bactérias e parasitas) em 13% dos casos de câncer no mundo.





Essa informação ajuda a entender a importância das ações preventivas contra vírus, bactérias e parasitas, uma vez que as lesões e infecções causadas por alguns desses agentes podem se malignizar e evoluir para um tumor.

Entre esses agentes virais e bacterianos estão: a Helicobacter pylori (bactéria causadora de inflamação do estômago e câncer gástrico), o papilomavírus humano – HPV (vírus associado, principalmente, ao câncer de colo do útero)– e os vírus da hepatite B (HBV) e da C (HCV), ambos causadores, maiormente, do carcinoma hepatocelular.

Somente a Helicobacter pylori foi responsável por 810 mil novos casos de câncer em 2018, sobretudo, o adenocarcinoma gástrico. Já o HPV foi responsável por 690 mil novos casos, provocando, na maior parte das vezes, o carcinoma colo-uterino. Sobre a prevenção, lembro que a vacinação pública contra o HPV, implantada no país nos últimos anos, está abaixo da cobertura esperada, segundo dados do próprio Ministério da Saúde. Em 2015, por exemplo, apenas 44,3% das meninas de 9 a 11 anos tomaram a segunda dose.





O HBV contribuiu para 360 mil novos casos e o HCV para 160 mil. Ambos causam principalmente carcinoma hepatocelular. Outros agentes infecciosos, como os vírus Epstein-Barr (mononucleose ou doença do beijo), linfotrópico de células T humanas tipo 1, o herpesvírus humano tipo 8 (também conhecido como herpes vírus do sarcoma de Kaposi) e infecções parasitárias contribuíram para os 210 mil casos restantes.

Para o HPV e o vírus B da hepatite existe a vacinação, uma forma eficaz de prevenção em massa. Atualmente, também tem sido preconizado o uso de antibioticoterapia para a erradicação do H. pylori para portadores de alto risco de câncer de estômago. Uma pesquisa publicada no Journal Gastroenterology, por exemplo, demonstrou que o tratamento e a erradicação do Helicobacter pylori podem contribuir para que lesões pré-cancerosas não evoluam para tumores de estômago.

As campanhas nacionais de conscientização sobre as formas de prevenção vírus, bactérias e parasitas etc. devem ser intensificadas, pois, afinal, está provado: trata-se de prevenir e evitar também milhares de casos de câncer. Além disso, cada indivíduo deve estar atento à própria proteção, mantendo as medidas profiláticas e, em especial, não realizando relações sexuais desprotegidas, pois muitos desses vírus são sexualmente transmissíveis.

Ressalto que o câncer tem, sim, prevenção: a prática de uma vida saudável em seu sentido amplo, além das ações personalizadas voltadas para pessoas com predisposição hereditária.





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