Jornal Estado de Minas

ONCOLOGIA

Remoção das tubas uterinas pode reduzir o risco de câncer de ovário

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Embora o câncer  de ovário diagnosticado precocemente tenha uma alta taxa de sobrevida, estudos prospectivos randomizados demonstram que ultrassonografia transvaginal e estratégias de triagem com marcadores tumorais  não conseguiram reduzir sua mortalidade. 



Atualmente, não há um teste de triagem recomendado para mulheres com risco médio. Em geral, os sintomas produzidos pelo câncer de ovário são vagos e nem sempre  presentes nos estágios mais precoces da doença na população em geral. Adicionalmente, muitos profissionais de saúde aparentemente desconhecem os sintomas tipicamente associados ao câncer de ovário, de modo que o diagnóstico precoce é raramente obtido. 
 
Para pacientes portadoras de mutações germinativas dos genes BRCA1 e 2, consideramos a indicação das chamadas cirurgias redutoras de risco, que envolvem a retirada cirúrgica preventiva dos ovários, tubas uterinas  e mesmo das mamas, pois trata-se de genes de alta penetrância, ou seja, com risco elevado de desenvolvimento desses tumores durante a vida das portadoras.

Entretanto, é importante ressaltar que essas mutações são relativamente raras na população feminina. A grande maioria dos cânceres de ovário não é causada por mutações germinativas. 




 
Por outro lado, a remoção das tubas durante a histerectomia ou em vez da laqueadura, um procedimento conhecido como salpingectomia oportunista (OS), foi associada a menos cânceres de ovário seroso e epitelial do que o esperado em uma análise retrospectiva, em um estudo recentemente publicado na prestigiada revista científica Jama Network Open. 

Os autores do estudo, com base nos resultados encontrados, recomendam que os médicos discutam OS com suas pacientes e as informem sobre a segurança e as evidências preliminares de eficácia para esse procedimento.
 
Segundo os autores, a OS é uma estratégia de prevenção segura e eficaz. Obviamente, as pacientes podem optar por não se submeter à OS, mas as únicas contraindicações são a presença de uma mutação genética que aumentaria o risco de câncer de ovário como exposto acima, o que indicaria, além da remoção das tubas a dos ovários, e a situação em que os cirurgiões tenham que alterar a sua abordagem cirúrgica para acessar as tubas uterinas. Isso é mais relevante para pessoas submetidas à histerectomia vaginal, em que, às vezes, é difícil o acesso a ambas as tubas uterinas. 




 
A análise incluiu cerca de 25 mil mulheres submetidas à OS (idade média, 40,2; acompanhamento médio, 3,2 anos) e mais de 32 mil controles submetidas à histerectomia isolada ou laqueadura tubária  (idade média, 38,2; seguimento médio, 7,3 anos).

Nenhum câncer de ovário seroso e cinco ou menos cânceres de ovário epitelial ocorreram no grupo OS, enquanto que os números esperados ajustados por idade são 5,27 e 8,68, respectivamente.

Por outro lado, os números de câncer de mama esperados versus observados ajustados para a idade (22,1 vs. 23, respectivamente) e câncer colorretal (9,35 vs. 8) não foram significativamente diferentes.
 
Os autores concluíram então que esses achados sugerem que a OS está associada à redução do risco de câncer de ovário. Entretanto, como o número de cânceres detectados no estudo foi pequeno ao final do acompanhamento, os autores continuarão a acompanhar as pacientes  para garantir que essas descobertas preliminares se mantenham com mais tempo de seguimento.



Os investigadores também iniciarão em breve um projeto expandindo a OS para oferecê-la no momento de outras cirurgias abdominais, como por exemplo para tratamento do câncer colorretal. 
 
Concluindo, o estudo sugeriu que há evidências de que a remoção de ambas as tubas uterinas  no momento da histerectomia para condições benignas oferece uma redução de 42% a 65% no risco dos tipos mais comuns de câncer de ovário. A maioria das sociedades ginecológicas agora recomenda a consideração de OS no momento da histerectomia benigna.

Devemos ressaltar que em pequenos estudos retrospectivos há um aumento significativo no tempo operatório, mas não de outros parâmetros, como o tempo de internação, reinternações, transfusões de sangue ou complicações pós-operatórias. Embora os resultados obtidos sejam alentadores, estudos maiores e prospectivos serão necessários para a confirmação inequívoca do benefício.