A última década foi realmente empolgante na evolução dos tratamentos para o câncer de pulmão em fase avançada (CPCNP – câncer de pulmão de células não pequenas) passando de um tamanho único, ou seja, o mesmo tratamento para todos os pacientes, para uma abordagem de terapia de precisão ou personalizada. E esse padrão continuará avançando e, é claro, também tem sido aplicado a outros tipos de câncer, e esperamos ver esse cenário traduzido em melhores resultados para nossos pacientes.
Avanços recentes na terapia alvo-direcionada
Nos últimos anos, houve desenvolvimentos importantes no tratamento de subconjuntos específicos de câncer de pulmão, que vieram a se somar às várias drogas já aprovadas e utilizadas para alterações genômicas específicas, como as drogas anti-EGFR, anti-ALK, anti-ROS1, anti-MET, anti-BRAF e anti-RET– sendo um deles, o uso de fam-trastuzumab deruxtecan-nxki para câncer de pulmão com mutação do gene ERBB2. A droga, que já havia sido aprovada para câncer de mama HER2-positivo, recebeu em agosto aprovação acelerada da agência reguladora de medicamentos norte-americana FDA para o tratamento de CPCNP com mutação HER2. Esse medicamento demonstrou ser uma terapia muito eficaz nessa população de pacientes.
Além disso, o medicamento sotorasibe, que foi aprovado em maio de 2021, foi considerado crítico no tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas localmente avançado ou metastático com mutação do gene KRASG12C.
No congresso europeu da ESMO de 2022, em setembro de 2022, os pesquisadores apresentaram dados mostrando que o sotorasibe, como terapia de segunda linha, estendeu significativamente a sobrevida livre de progressão em pacientes com CPCNP com mutação KRASG12C em comparação com o quimioterápico docetaxel (até então o tratamento-padrão). Outro tratamento direcionado para KRASG12C, o adagrasibe, também tem sido pesquisado e está para aprovação do FDA. Em um ensaio clínico apresentado no congresso americano ASCO 2022, o adagrasibe demonstrou eficácia em pacientes com CPCNP com mutação KRASG12C.
Drogas-alvo e a oncologia de precisão
Há muitos outros medicamentos alvo-molecular em desenvolvimento clínico para essa população de pacientes, e esperamos ver como eles se comportam no contexto clínico. É claro que as mutações KRAS não são encontradas apenas no câncer de pulmão, mas também no câncer de pâncreas, câncer de cólon e reto e em outros tipos de câncer, então isso também tem implicações promissoras para cânceres além do câncer de pulmão.
Paralelamente, o desenvolvimento concomitante das drogas imunoterápicas tem igualmente revolucionado o tratamento do câncer de pulmão – assunto já discutido em outro artigo meu.
O futuro da terapia alvo-molecular
Quando vislumbramos as próximas pesquisas sobre câncer de pulmão, percebemos que haverá um foco contínuo em versões de próxima geração desses e de outros agentes. Isso inclui pesquisar combinações desses agentes para determinar se eles são mais eficazes do que um único agente e avaliar a toxicidade dessas combinações.
Para o futuro, os pesquisadores esperam que o tratamento do câncer de pulmão evolua para ser semelhante ao tratamento de outras condições, como HIV e outras infecções complicadas, em que administramos vários medicamentos simultaneamente para atacar um vírus estranho de várias maneiras diferentes – se pudermos atacar o câncer de pulmão de várias maneiras diferentes, isso pode levar a melhores resultados. Essa estratégia já está sendo testada por meio do uso da combinação de quimioterapia e imunoterapia, mas existem muitas outras maneiras de fazer isso, e muitas delas estão sendo testadas em ensaios clínicos no momento. Esperamos que eles sejam bem-sucedidos e, finalmente, estejam disponíveis para nossos pacientes.