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Estado de Minas

Cirurgia plástica para curar enxaqueca

Estudos comprovam sucesso do procedimento em 92% dos pacientes submetidos à operação. Indicação de método só é feita em quem tem diagnóstico da doença assinado por neurologista e sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês


postado em 28/08/2019 04:00 / atualizado em 27/08/2019 18:06


Conviver com enxaqueca não é algo fácil. Isso porque, além das crises que podem durar até 72 horas e apresentar sintomas como dor intensa, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz ou ao som, não há uma medicação específica para a doença, de forma que o tratamento é geralmente feito com medicamentos anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsicóticos, além da toxina botulínica. Mas um tratamento novo pode mudar essa realidade que afeta cerca de 15% da população brasileira, segundo estatísticas.

“A cirurgia de enxaqueca é hoje realizada por diversos grupos de cirurgiões plásticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard. Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento”, afirma o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e especialista em cirurgia de enxaqueca pela Case Western University.

Segundo o médico, a cirurgia para enxaqueca pode ser feita em qualquer paciente que tenha diagnóstico de migrânea (enxaqueca) feito por um neurologista, e que sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês, que não consigam ser controladas por medicações; ou em pacientes que sofram com efeitos colaterais das medicações para dor ou que tenham intolerância a essas medicações; ou ainda em pacientes que desejam realizar o procedimento devido ao grande comprometimento que as dores causam em sua vida pessoal e profissional.

Pouco invasiva, a cirurgia tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital, envolvidos nos pontos de dor. “Os ramos periféricos desses nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isso gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsáveis pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que causarão os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz a ao som”, diz o especialista.

As cirurgias para migrânea podem ser de sete tipos principais nas seguintes regiões: frontal, temporal e occipital (nuca). Segundo o cirurgião, para cada um dos tipos de dor existe um acesso diferente para tratar os ramos dos nervos, sendo todos nas áreas superficiais da face ou couro cabeludo, ou ainda na cavidade nasal. O médico explica que cada cirurgia foi desenvolvida para gerar a menor alteração possível na fisiologia local. “Em todos esses tipos, o princípio é o mesmo: descomprimir e liberar os ramos do nervo trigêmeo ou occipital, que são irritados pelas estruturas adjacentes ao longo de seu trajeto”.

Paolo Rubez enfatiza que as cirurgias são realizadas em ambiente hospitalar e sob anestesia geral e, em alguns casos, sob anestesia local. “A duração da cirurgia para cada nervo é de cerca de uma a duas horas, e o paciente tem alta no mesmo dia ou no dia seguinte”, explica. A cirurgia para enxaqueca foi criada e desenvolvida, a partir de 2000, pelo cirurgião plástico Bahman Guyuron, em Cleveland, nos EUA. Desde então, diversas equipes ao redor de todo o mundo vêm realizando este tipo de cirurgia com sucesso.

Único médico a realizar a cirurgia em São Paulo, Paolo Rubez aprendeu detalhes das técnicas cirúrgicas desse procedimento com Bahman Guyuron, por meio de sete estágios entre os anos de 2014 e 2019. Segundo o cirurgião plástico, o procedimento foi criado a partir de cirurgias estéticas para a região frontal ou superior da face, de forma que Guyuron notou que seus pacientes melhoravam das dores de enxaqueca quando sofriam com o problema.

Em 2005, Guyuron e sua equipe publicaram estudo prospectivo com randomização entre um grupo tratado e um controle sem cirurgia, envolvendo no total 125 pacientes. Do grupo tratado, 92% dos pacientes obtiveram sucesso com a cirurgia, sendo que 35% apresentaram eliminação completa dos quadros de enxaqueca. “Nos trabalhos científicos sobre a cirurgia de enxaqueca, o sucesso do procedimento é definido como uma melhora de no mínimo 50% na intensidade, duração e frequência das crises. Este mesmo grupo de pacientes foi acompanhado por cinco anos e, em nova publicação de 2011, comprovou-se a manutenção da melhora dos pacientes operados”, finaliza.

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