Novidade dupla aconteceu no último dia 8, quando uma empresa brasileira, a Noeh, lançou uma linha de calçados elaborada para crianças de até 3 anos e usou para o lançamento um sistema de captação de recursos conhecido como crowdfundig. O Noeh, como é chamado o sapatinho, tem tecnologia própria que utiliza microesferas na palmilha desde 2017. Todo o processo será organizado pela Evoé, plataforma de financiamento coletivo que vai intermediar a arrecadação para a pré-venda de 300 pares de Noeh em cinco tamanhos diferentes.
Criadora da Noeh, a designer e pesquisadora mineira Ana Paula Lage conta que empresas em todo o mundo têm apostado nesse tipo de financiamento. O sistema tem ganho cada vez mais popularidade, porque torna as empresas mais próximas de seus investidores, que são, muitas vezes, clientes da marca.“Para nós têm um sentido ainda mais importante, porque faz com que as pessoas se envolvam com a indústria de calçados de forma mais responsável e ativa. Principalmente os pais, que poderão perceber a importância de se ter um sapato adequado para seus filhos”, destaca Ana Paula.
No Brasil, o crowdfunding foi regulamentado em 2017 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apenas dois anos depois, a procura de pequenas e médias empresas por captações via financiamento coletivo tem crescido de forma acelerada. Segundo a CVM, os três primeiros meses de 2019 já superaram todo o ano de 2018, quando todas as ofertas por meio de plataformas de captação levantaram cerca de R$ 46 milhões. O modelo de financiamento escolhido pela Noeh foi o “tudo ou nada”, no qual o dinheiro é devolvido integralmente para cada apoiador, caso o projeto não alcance 100% da meta. “Queremos que a comunidade abrace a nossa ideia e se sinta parte do projeto. Isso só será possível com o crowdfunding.”
Há seis anos, quando descobriu que ia se tornar tia, Ana Paula decidiu criar um sapatinho especial para o sobrinho. Na época, ela estava fazendo mestrado, desenvolvendo materiais biodegradáveis para a indústria de calçados, e foi em busca de mais informações. E qual não foi o espanto ao perceber que não havia nenhum tipo de legislação ou informações científicas sobre o sapato ideal para bebês. “Era um produto negligenciado pela indústria. Os primeiros mil dias – período mais importante de crescimento e para a saúde dos pés dos bebês – não estavam recebendo um calçado adequado e que acompanhasse esse processo”, relembra. Após três anos de estudos com orientação de médicos ortopedistas infantis, fisioterapeutas e engenheiros, a pesquisadora criou o primeiro calçado do mercado que simula o comportamento da natureza sob os pés dos bebês: o Noeh. Produto que garantiu à startup prêmios nacionais e internacionais. O sapatinho estimula a formação da musculatura dos pés para que eles cresçam com base desenvolvida, evitando pés planos, pisada torta e outras anormalidades do sistema musculoesquelético. Por esse rigor científico, é recomendado por pediatras, fisioterapeutas e ortopedistas.
Segundo Ana Paula, o pé humano tem três pontos de apoio: o calcanhar, a ponta do dedão e a ponta do dedinho. Quando os bebês andam com um sapatinho com o solado reto e duro ou só no chão reto de casa, as partes internas do pé não são estimuladas. Atualmente, mais de 70% das crianças têm problemas com a má-formação dos pés e 40% dos adultos assumem que têm problemas, segundo pesquisa americana realizada por Gould, Schneider e Ashikaga (1980).
Assim, os sapatinhos Noeh foram criados para proporcionar uma caminhada natural, que acompanha o padrão comum de equilíbrio e marcha do bebê. Isso porque ativa fortemente a musculatura do arco plantar por ter, na palmilha, microesferas soltas, como se a criança estivesse andando na areia fina da praia. O produto é feito de poliamida e elastano, não gera resíduo na produção do tecido, não esquenta e é usável sem meias.“É um minissolo natural em cada sapatinho para os bebês urbanos”, afirma Ana Paula.