Sou de uma geração que tinha a França como a principal fornecedora de cultura – e também de diversão. Curiosamente, sempre fui mais ligada à cultura – museus, passeios, literatura – do que à diversão pura e simples. Jamais planejei passar uma noite de réveillon em Paris, nem sequer pensei nisso. Não sei se havia informação sobre o tema, a não ser festas realizadas em ambientes sofisticados, mas fechados, ou então restaurantes requintados. Nunca passou pela minha cabeça esse tipo de programa. No entanto, já rodei mundo – com limites, claro – para comemorar a última noite do ano. Sem falar nas festas locais, o sonho de minha geração era sempre encontrar amigos no baile do Automóvel Clube, o máximo do máximo. O baile acabou junto com um tipo de programa social que não existe mais, os ricos preferem viajar para outras plagas.
Já variei muito, entretanto. A primeira experiência foi ir para Buenos Aires com vários casais amigos. Fora as horas passadas em compras nas lojas repletas de produtos que não existiam por aqui, a noite foi uma chatura só. Apesar de termos ido aos principais pontos de atração da cidade. Não pegou bem o passeio, que acabou até com uma série de inutilidades, em compras ou passeios. Só para dar um exemplo, comprei uma capa de chuva bonita e cara, que nunca usei na vida. Está como chegou de lá – virgem da chuva, no cabide.
A outra tentativa, essa bem diferente, foi buscar a tradição da Ilha da Madeira. Fiquei encantada com a divulgação do espetáculo de fogos que era possível ver de qualquer ponto da cidade. Madeira foi um passeio e tanto, pelas atrações turísticas, pelas compras variadas, pelo passeio morro abaixo naqueles carrinhos tocados por homens esforçados. A cidade fica encantadora, coberta de luzes não só nas áreas de circulação, no porto e nas avenidas, mas também nos morros. O espetáculo de fogos não foi o esperado, os barcos ancorados na baía estavam, parece, fazendo economia de foguetes. É claro que a visão é outra, a geografia do mar é bem menor, mas o que valeu mesmo foi o passeio pela ilha – vale a viagem.
Fugir de Nova York não dá – e foi lá que passei três festas de fim de ano. Uma delas sem muita graça, porque fomos, não entendo bem a razão, parar na casa de uma parente de amigos. Não se via nenhum ar festivo. A outra foi naquele hotel que fica no centro da cidade, exatamente em Times Square, onde se comemora o último dia do ano. O restaurante do hotel, onde foi a festa, é rotativo e oferece a possibilidade de apreciar não só a cena do balão sendo furado à meia-noite, para cobrir de brincadeiras quem está na praça, como várias vistas da cidade. Nunca vi nada mais comportado na vida, à meia-noite todos se cumprimentaram, tocaram aquela música característica e meia hora depois a fila do elevador para sair da festa era imensa. Levei de lembrança, pois voltei para o hotel a pé, no meio da noite, uma penca de balões prateados. E, só acontece uma vez na vida, na manhã do primeiro dia do ano, de uma janela do hotel, o Plaza Athenée, vi pessoas esquiando na neve que caía na Avenida Madison. Isso nos valeu mais três dias de férias, porque os voos para o Brasil estavam cancelados devido ao tempo. A terceira noite nova-iorquina foi no Tavern on the Green, lugar encantador dentro do parque da cidade. Foi a noite da comemoração total. Na saída, alegria e “fogo” geral.
Minha busca por festas de fim de ano terminou no Chile. Íamos vezes sem conta ao país, agradável, barato, com belas coisas para comprar e comer. E lá fomos passar o réveillon. Bem tradicional, festa nos jardins do hotel, muita champanha circulando, comidas tradicionais – assim como as danças. Nada de animação total. Uma noite calma, mas cheia de recordações.
Como, aliás, devem ser todas as últimas noites de todos os anos.