Jornal Estado de Minas

O negócio dos blogs e a dependência virtual

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Negócio que não enfrenta retração de mercado, fuga de clientes nem precisa de grande capital de giro é, sem dúvida, o que circula pela cidade, em sinais de trânsito: a venda de sacos de chão, R$ 10 cada bloco de cinco – que vale também para panos de prato. Igual a esse negócio, outro que considero indestrutível é o das blogueiras. Para quem não sabe, são divulgadoras em blogs que criam de tudo que está nas lojas: de roupas a acessórios e tudo o mais que quem não sai de casa pensa em comprar.



O negócio é porreta: cobram um X variado das lojas e confecções para divulgar o produto. E desfrutam de uma renda legal, sem que incida sobre ela nenhum tipo de imposto decretado pelas leis do país. Essa nova profissão cresceu tanto e ficou famosa e rendosa. Quem pena com isso são as agências de publicidade. E o que acontece é isto: enquanto a demanda da divulgação tradicional e legal definha, a que é processada livremente fatura sem limites. O negócio é tão importante que merece estudo mais acurado, para definir a força de persuasão que essas figuras têm para convencer as frequentadoras dos programas sociais em investir tão sofregamente no que é mostrado nesses blogs.

Pode não ter nada a ver, mas estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo, feito anos atrás, apontou que 8 milhões de pessoas em todo o país apresentam sintomas de dependência da rede, o que corresponde a 4% da população nacional. E esses números não indicam só as consumidoras de produtos lançados por blogueiras, mas as que não vivem sem estar ligadas ao sistema. Quantas vezes você já foi a um restaurante e reparou que a grande maioria das pessoas estava interagindo com amigos virtuais em vez de bater um bom papo com a pessoa à frente? Essa falta de educação, cada vez mais comum, entre jovens e não tão jovens é aceita como um comportamento comum.

A internet e as redes sociais trazem uma quantidade enorme de conteúdos estimulantes, capazes de produzir dependência. Além disso, a tecnologia faz com que esses conteúdos sejam de fácil e rápido acesso, de qualquer lugar em que estejam. Ou seja, hoje em dia, com os smartphones, tablets, notebooks e outros dispositivos, temos a sensação de uma disponibilidade de conteúdo interminável e constante, 24 horas por dia, sete dias por semana.



Toda atividade que causa prazer tende a ser repetida, pois estimula uma parte do cérebro conhecida como sistema de recompensa. Não é diferente no caso da internet, em que o cérebro passa a “pedir” que o mesmo prazer seja encontrado o tempo todo, o que leva as pessoas com essa dependência a perder o controle do tempo que passam na rede. Uma pessoa pode ser considerada dependente quando apresenta preocupações excessivas com o uso da internet, quando passa muito mais tempo on-line do que o planejado e quando esta falta de controle causa prejuízos sociais, ocupacionais ou em outras áreas importantes da vida, pois outras atividades são negligenciadas e o prazer não é encontrado em outras ações do dia.

Comprar desabaladamente através de sugestão de blogueira é uma síndrome tão viciante como qualquer outra e pode ser tratada com psicoterapia. As medicações têm o objetivo de tratar outros transtornos associados, como depressão e ansiedade, e também ajudar no controle da impulsividade. A psicoterapia tem como meta aumentar a motivação para a mudança de comportamento.