No meio da última semana, fiquei sabendo do falecimento de Catharina Matos. Então, resolvi reviver anos passados, quando prestei homenagem a essa grande mulher dedicando a ela uma coluna sobre o lançamento do livro sobre sua vida. Catharina foi uma mulher incrível, conhecedora profunda de sua profissão. Realizou o sonho de ter uma vida profissional respeitada e reconhecida. Seu caminho começou onde vários outros começaram e já se foram, nas cozinhas do Palácio da Liberdade, onde revolucionaria a prosaica tradição de só servir comida mineira. Era ocupadíssima, mas cheia de delicadezas. Como sabia que eu adorava seus doces, mas não podia me fartar com eles por ser diabética, me mandava sempre um presente com eles quando preparava encomenda da também famosa Lygia Mattos, diabética como eu. A coluna foi publicada em 3 de dezembro de 2010, mas vale o retorno:
“Nem sei há quanto tempo acompanho a história de Catharina Matos – que é, de longe, uma das melhores doceiras da cidade. E, mais do que isso, fez da vida um grande sucesso. Começando do nada, tem hoje um dos mais respeitados serviços de bufê da cidade, e uma história rica em casos, principalmente dos tempos em que todos se conheciam, governadores e presidentes iam à cozinha cumprimentar as cozinheiras e as festas eram acontecimentos mineiramente comportados.
O mais importante, além dos ótimos pratos e docinhos servidos, era o congraçamento de famílias conhecidas, o exibicionismo era considerado de péssimo gosto. A história dessa mulher brava e batalhadora tem agora outro capítulo: a família encomendou ao nosso colega Eduardo Almeida Reis que escrevesse um livro contando as histórias da vida dela como cozinheira – ela, certamente, não gostará de ser chamada de chef. O livro Catharina – Minhas histórias é de memórias mesmo. Não tem receitas, mas tem muitas fotos do seu trabalho. Como aquelas bandejas de festas infantis em que pinguins em montes de neve e tartaruguinhas faziam o encantamento da meninada.
As reminiscências são tão saborosas e envolvem tantos nomes conhecidos que quem começa a ler não consegue parar. Isso ocorreu comigo. Aproveitei para me lembrar de um tempo em que a cidade era mesmo risonha e amigá- vel. Outro lance curioso: por meio dele, é possível localizar o surgimento de alguns pratos que fizeram sucesso nas festas do século passado, como o estrogonofe, o peito de peru com frutas em calda, o pudim de leite e muitas outras coisas que hoje cederam lugar para especialidades japonesas.
Outra curiosidade é que o livro não será vendido, mas oferecido a clientes e amigos como presente de fim de ano. E, justiça seja feita, é tão saboroso quanto os acepipes que ela preparou em sua cozinha, que agora entregou para a família – sem deixar de ficar de olho em tudo. As ilustrações ajudam muito no acompanhamento da sua vida. Começam com a simplicidade da Fazenda Barro Branco, onde Catharina nasceu em família de 14 irmãos, e termina na bela decoração de uma das muitas recepções realizadas na casa de festas que ela criou. Com seu trabalho e a ajuda da família.”