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As tempestades não respeitam nada

Córregos canalizados de BH explodem em água, ameaçando a vida do cidadão. A violência das chuvas desafia qualquer vedação das janelas.


postado em 01/02/2020 04:00

Violência das águas castigou o Bairro Gutierrez(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Violência das águas castigou o Bairro Gutierrez (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Minha meninice foi passada em uma casa imensa na Rua Piauí, daquelas construídas no nível da rua, com muitas janelas dos quartos dando para o passeio, jardim ao lado, terreno imenso no fundo e muitas árvores frutíferas, inclusive bananeiras. Elas tinham propriedade curativa muito usada na época, que hoje ninguém mais conhece, até porque ter bananeira no quintal é raridade. O tronco era colhido e transformado em uma espécie de penico, onde as pessoas que sofriam de hemorroidas se assentavam. Aquele sumo da bananeira fazia com que o órgão voltasse ao lugar natural, sem dor. Coisas assim não existem mais, como não existe o hábito de as crianças irem sozinhas para a escola, desde o primeiro ano.

E começou assim o meu período de aprendizado. Ia sozinha da Rua Piauí até o Grupo Escolar Barão do Rio Branco carregando minha pastinha com um ou dois cadernos dentro, um livro, lápis apontado e a merenda escolar. Andava a pé. O trajeto só tinha um ponto difícil, que nem era a Praça ABC, hoje com um trânsito terrível. O perigo era a Rua Professor Morais e seu córrego, que agora está canalizado. Quando chovia, a água subia e transbordava, a meninada precisava tomar cuidado para não se molhar. Mas, na verdade, era uma alegria só molhar o pé na água da rua quando se descia do passeio. O perigo era o sapato não secar. A casa onde morávamos, construída nos tempos da fundação da cidade, tinha telhado firme, sem uma só gota de água caindo nos quartos ou pela fiação.

Bons tempos aqueles, quando construções não eram vencidas pelo tempo, como tem acontecido atualmente, com essas tempestades que andam assustando a cidade. Os córregos são canalizados por serviços pouco confiáveis, um dos mais complicados é o da Avenida Prudente de Morais. Bueiros da Rua Joaquim Murtinho começam a explodir em água, logo depois do cruzamento com a Avenida do Contorno.

Já contei aqui que, na minha infância, a Joaquim Murtinho era um brejo muito usado pela meninada para apanhar marias-sapudas e lírios perfumados para levar para os adultos. Nos dias de hoje, apesar dos trabalhos da engenharia moderna para canalizar as águas da região, quando chove o local é um perigo só. Até mortes de quem ousou desafiar as águas de chuva foram registradas.

Atualmente, moro no Bairro Gutierrez, no ponto alto, o que não livra a minha casa da chuva. Nem os prédios da vizinhança. A violência das águas desafia qualquer vedação de janela. E haja tempo e paciência para secar a chuvarada que invade a casa. A água é tanta que meu jardim térreo está encharcado. A chuva não respeita o concreto, entra pelas paredes e chão adentro, molhando tudo. A dificuldade é que nada pode ser feito enquanto ela não terminar. As calhas do telhado não escoam o excesso de água e o resultado é chuva entrando pela casa, principalmente nos pontos de luz.

A meteorologia não tem dado esperança para os próximos dias. O que nos espera, Deus nos livre, é mais chuva, mais água dentro de casa, mais preocupações domésticas. Passar uma noite de sono calma se transformou em perigo meteorológico.

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