Além da saúde e da economia, outra questão tem preocupado as autoridades brasileiras durante o período de isolamento social para combate à COVID-19. Desde o começo da quarentena, está sendo relatado em diversos estados brasileiros o aumento no índice de violência doméstica. De acordo com a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em março deste ano, houve aumento de 9% no número de denúncias realizadas pelo Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, criado pela Secretaria Nacional de Políticas em 2005.
A psicóloga Ana Paula Imbuzeiro explica que, na realidade, a causa para esse aumento pode ser ligada a diversos fatores, e não somente ao isolamento social. Segundo a especialista, o agressor não age apenas motivado pela quarentena. “É preciso entender que a violência não surge de repente. Geralmente, ela se camufla por meio de agressões verbais e de um relacionamento abusivo sustentado há mais tempo”, diz.
Ana Paula esclarece que o fato de o agressor passar mais tempo ao lado da vítima e, principalmente, por esse ser um período em que ambos possuem mais dificuldade para sair de casa, o nível de violência fica ainda maior e pode desembocar na agressão física em si. “É dessa forma que elas acabam denunciando mais, já que a violência chega ao nível extremo devido às diversas situações de estresse que elas podem passar em casa”, explica.
De acordo com a psicóloga, esse é o momento de intensificar a conscientização, as medidas de proteção e, principalmente, o apoio às mulheres agredidas. “Elas precisam ser mais ouvidas. É necessário oferecer atendimento psicológico de qualidade para que elas possam entender a situação em que já vivem e ter condições de reagir com segurança”, afirma.
Além disso, Ana Paula destaca que, mesmo em isolamento social, elas precisam sentir apoio de pessoas próximas. “Não imaginamos o quanto uma pessoa pode estar afundada em um relacionamento abusivo. Muita coisa ocorre entre quatro paredes e, em muitos casos, nem as próprias vítimas percebem. Portanto, essa é a hora de continuar mantendo contato e perguntar se está tudo bem. Ao sentir que algo está errado, não hesite em solicitar ajuda”, finaliza.