Por estarmos o tempo todo conectados, seja via celular, computador, televisão ou revistas, somos bombardeados por uma enxurrada de informações, incluindo padrões estéticos inalcançáveis que acabam interferindo na maneira como lidamos com o nosso corpo. Na tentativa de reproduzir tais padrões de beleza na vida real, muitas pessoas acabam desenvolvendo os chamados transtornos alimentares. “Transtornos alimentares são condições médicas graves caracterizadas por mudanças e distúrbios no comportamento alimentar que podem afetar a saúde física e mental do paciente, causando desde emagrecimento extremo ou obesidade até ansiedade e depressão. No geral, restrição alimentar excessiva, rápida perda de peso, dietas radicais e obsessão com o peso e a forma física são sinais de transtornos alimentares”, explica Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia.
De acordo com a especialista, a causa exata dos transtornos alimentares ainda não é clara, porém, estudiosos acreditam que seja uma combinação entre fatores genéticos, biológicos, psicológicos e, principalmente, sociais. “Sabe-se, por exemplo, que a pressão social para se manter em um certo padrão estético preestabelecido, quando associada à baixa autoestima, pode tornar um indivíduo mais propenso a desenvolver transtornos alimentares. Por esse motivo, essas condições são tão comuns em adolescentes e jovens adultos. O que não quer dizer que apenas essa faixa etária possa sofrer com transtornos alimentares, já que esses podem afetar pessoas de todas as idades, gêneros, raças e pesos”, destaca a médica.
Entre os transtornos alimentares mais comuns estão:
• Anorexia: indivíduos com anorexia enxergam o próprio corpo de maneira distorcida, como se estivessem sempre acima do peso. Por esse motivo, pacientes anoréxicos tendem a adotar dietas restritivas, realizar exercícios físicos excessivamente, evitar refeições em família e fingir se alimentar para evitar ganhar peso. “Logo, indivíduos que sofrem com anorexia perdem uma grande quantidade de peso, chegando a um nível extremo de magreza e desnutrição. Além disso, a condição pode causar também baixa imunidade, enfraquecimento dos músculos e dos ossos, taquicardia e até mesmo convulsões”, alerta a nutróloga.
• Bulimia: é um transtorno alimentar caracterizado por episódios de compulsão alimentar, onde o indivíduo perde o controle sobre a alimentação, seguidos pela indução do vômito ou uso de medicamentos laxativos e diuréticos para evitar ganhar peso. “Diferentemente da anorexia, o indivíduo que sofre com bulimia tende a apresentar um peso adequado. Por isso, é importante prestar atenção a sinais como ingestão exagerada de alimentos, vontade de emagrecer sem necessidade, idas ao banheiro após refeições e sentimentos de angústia e culpa após comer”, destaca Marcella. Entre as complicações da condição estão problemas como constipação intestinal, rouquidão, desidratação, inflamação na garganta, cáries e pancreatite.
• Transtorno da compulsão alimentar periódica: pessoas com transtorno da compulsão alimentar periódica perdem o controle sobre a alimentação, comendo grandes quantidades em um curto período de tempo. Porém, ao contrário da bulimia, na compulsão alimentar periódica o indivíduo não tenta induzir o vômito e também não tem uma preocupação excessiva com o peso e a forma corporal. “Como resultado, pessoas com esse transtorno frequentemente sofrem com sobrepeso e obesidade. Sintomas da condição geralmente incluem incapacidade de parar de comer e a ingestão de alimentos de forma muito rápida e contínua durante todo o dia, mesmo quando sem fome. Esconder alimentos para comer depois em segredo também pode ser um indício do transtorno”, ressalta a especialista. Além disso, segundo a médica, indivíduos que sofrem com transtorno da compulsão alimentar periódica podem a sentir sintomas emocionais como estresse ou tensão, que só são aliviados pelo ato de comer, constrangimento sobre o quanto está comendo e sentimento de culpa após ingerir uma grande quantidade de comida.
• Alotriofagia (pica): caracterizada pela ingestão regular de substâncias que não são alimentos.
• Transtorno da ruminação: quando ocorre regurgitação após o consumo de alimentos.
• Ortorexia: obsessão por ingerir apenas alimentos considerados como saudáveis.
Mas, independentemente do diagnóstico, o tratamento dos transtornos alimentares deve ser feito o quanto antes, pois tais condições podem acarretar no desenvolvimento de outros transtornos mentais, como depressão e ansiedade, levando até mesmo ao suicídio. Além disso, não é incomum que pessoas com transtornos alimentares passem a utilizar drogas. Logo, caso você perceba que alguém próximo apresenta sinais de um possível transtorno alimentar, o mais importante é que você encaminhe o indivíduo para um médico, que poderá realizar um diagnóstico e indicar o tratamento adequado. “Geralmente, o tratamento para transtornos alimentares consiste em uma combinação entre psicoterapia, monitoramento médico, aconselhamento nutricional e uso de medicamentos para ajudar a restaurar o comportamento alimentar do paciente e restabelecer o peso considerado como normal para a idade e a altura do indivíduo”, finaliza Marcella Garcez.