Jornal Estado de Minas

Tive a missão de tornar Stael Abelha Miss Minas Gerais

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A morte de Martha Rocha na semana passada me fez voltar a 1961, quando Stael Abelha foi eleita a primeira Miss Brasil mineira. Naqueles leves tempos, esse tipo de concurso era especialmente atraente, provocava uma série de atrações. Mundo bom aquele, quando eleição de miss se transformava em programa. Acontece que, naquela época, eu trabalhava também com o empresário Múcio Athayde, que estava em plena criação do Pampulha Iate Clube, o PIC de hoje. Múcio ia além de seu tempo, o clube era um acontecimento projetado por Oscar Niemeyer, com belos jardins de Burle Marx com quem eu me encontrava repetidas vezes (ele gostava de almoçar no Hotel Normandy, que, na realidade, tinha uma bela cozinha, principalmente para a época). Como Múcio fazia sempre questão do melhor, não vacilou em convidar Burle Marx para se responsabilizar pelos jardins do clube, uma vez que eram dele todos os jardins da Pampulha, incluindo cassino e orla da lagoa.





Dentro desse tipo de preocupação, escolheu Stael Abelha, uma bonita moça nascida em Caratinga, para ser a figura principal do futuro PIC e de sua carreira como político e empresário de sucesso. Resultado: Stael foi parar nas minhas mãos, cuidei dela, que tinha ainda o perfil de moça bonita do interior, mas precisando de um reforço em seu estilo. O primeiro trabalho foi torná-la Miss Minas Gerais, o que não foi muito difícil, primeiro porque era bonita e tinha um bom corpo e depois porque eu contava com a colaboração de Nicolau Neto, que era meu colega aqui no jornal e cuidava da sociedade do interior. Nicolau era um craque, supersimpático e de relacionamento sem problemas, conseguiu com facilidade fazer a cabeça do júri para escolher Stael como miss. É claro que não foi uma tramoia, porque ela realmente merecia levar a faixa de mais bonita.

Depois que ela foi escolhida, coube a mim não só burilar seu guarda-roupa, porque recebia muitos convites, mas também escolher o traje a rigor que deveria usar no desfile no Rio, onde a escolha final era realizada. A cidade não tinha muita opção, não tinha lojas com roupas importadas e nem tampouco muitas roupas de festa. Então, fui procurar uma costureira muito boa que conhecia, Santinha, e escolhi para a Stael um vestido de acordo com seu tipo físico e sua candura. O vestido longo era de organza com babados e bordados, muito bonito, e que valorizava o tipo físico de nossa miss. Stael aceitou o longo sem criar caso, foi provar, gostou e foi com ele, feliz, para o Rio de Janeiro.

Onde, mais uma vez, foi preciso fazer um serviço de “agenciamento” para sua escolha. Nessa ocasião, era companhada não só pela família como também por Múcio Athayde, um nome já bastante conhecido no meio empresarial. Não fui ao Quitandinha, onde o desfile final era realizado, mas Nicolau foi. E de lá mandou a notícia, por telefone, de que Stael havia sido escolhida Miss Brasil. É claro que comemoramos a vitória e começamos programar sua chegada a BH, com desfile de carro aberto pela Avenida Afonso Pena. Assim foi feito, a avenida estava cheia de gente, ela recebeu muitos aplausos e foi descansar da canseira no Hotel Normandy, que era o máximo da época.





Foi lá que fiquei sabendo que ela e Múcio Athayde estavam de namoro e que ele simplesmente não queria que ela fosse representar o Brasil no concurso final, nos Estados Unidos. Sua negativa não valeu, ela teve que ir para não desmoralizar o Brasil na disputa e voltou de lá sem ser classificada. Mas com seu casamento com Múcio já totalmente programado. 

Casaram-se e ele a levou para morar em Brasília. Aparecendo pouco, porque ele era muito ciumento. Ele morreu, perdi totalmente o contato com ela – mas gosto de lembrar como foi um tempo curioso aquele, de conseguir criar uma Miss Brasil – a primeira mineira até os anos 1960. Não sei se, depois dela, outras mereceram também a faixa de beleza. De um tempo que não volta mais.