Curiosidade que cerca todos acaba de ser avaliada por empresa paulista. Afinal de contas, o que é que vai acontecer com os muito ricos depois que a pandemia realmente acabar? Em levantamento inédito com consumidores de mercado de luxo no Brasil, a Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, coletou dados que mostram a mudança de hábito desse público. Em tempos de pandemia, o luxo virou consumo não essencial, desfiles e semanas de moda foram cancelados, grifes tiveram de reinventar a forma de se comunicar. "A pergunta que estava no ar era: será que isso mudou para sempre?. A resposta é sim, não em relação à redução do consumo, mas definitivamente nos critérios de escolha e formato de compras, que migrou para o on-line e cada vez mais se consolidará por lá", diz Ligia Mello, coordenadora da pesquisa.
A indústria de luxo movimenta milhões e gera empregos importantes dentro da sociedade, desde a produção dos insumos, design das coleções até as lojas que comercializam suas peças diariamente em lojas de rua ou shoppings por todo o Brasil. "É necessário ter esse olhar sobre qualquer indústria, porque o luxo se baseia em qualidade e estilo e, por isso, vai continuar existindo, mas as marcas agora precisam se engajar com mais proximidade e trazer consigo mais responsabilidade social e ambiental – fatores que os consumidores estão mais de olho" diz Ligia.
Nesse estudo, após cruzamento de algumas pesquisas com proprietárias e análises personalizadas dentro do target de alto padrão, a Hibou levantou um conteúdo baseado na opinião dos entrevistados e na visão de mercado com foco nos negócios e no retorno a uma rotina diferente daquela a que estavam acostumados. A pesquisa foi realizada com mais de 500 consumidores brasileiros de classe social A, sendo 78% mulheres e 22% homens, heavy buyers de roupas e acessórios de alto padrão, em maio de 2020, em formato de questionário digital.
O resultado é que 46% do público consumidor de luxo não teve redução financeira neste período, contra apenas 34% dos brasileiros na amostra geral. Cinquenta e seis por cento definiram claramente o impacto negativo que o não contato pessoal e físico fez na sua rotina; 49% não se identificam com os serviços e negócios do seu bairro e 20% nem sequer tentaram uma nova relação de consumo. Para 72%, a grande preocupação na pandemia foi a saúde da família, portanto, alimentação, saúde mental e outras atividades precisaram ser repensadas.
O lar ganhou novo significado para esse público. A sala de estar (68%) e a cozinha (61%) tomaram novas proporções, onde a família – mesmo sem se desconectar do celular – está mais próxima e interativa. Já pensam em possíveis ajustes de viagens e atividades de final de ano. Já 53% passaram a se preocupar com o próprio bem-estar, ampliando o olhar para o eu e ressignificando relações com pessoas e marcas. A roupa de ficar em casa não é a velha e surrada, ela precisa ser confortável, mas pode ser dentro dos padrões a que estão habituados.
Em relação aos novos hábitos, 64% já têm o hábito digital para muitas aquisições, 58% gostam de ir ao shopping de sua preferência para comprar as suas marcas favoritas, o consumo no bairro já não fazia parte dessa rotina e fica de fora no desenho pós-confinamento. Outros 27% querem manter o hábito antigo de compras nas lojas, mas para isso precisam sentir que estão seguros. Sair menos para locais públicos será uma premissa nos próximos meses, mas se deslocar para ambientes controlados, como casa de amigas ou ambientes de rua que tenham um fluxo menor de pessoas, tende a ser a escolha inicial. Já 71% das pessoas que programavam uma comemoração "externa" no segundo semestre consideram realizá-la para um grupo um pouco menor dentro da sua casa.
"A marca de luxo deve ficar de olho em eventos petit comité na casa dos clientes (sendo eles embaixadores). Isso pode ser um novo modelo para ter o pertencimento com segurança. O ir e vir é fundamental. Claro que lojas de rua, se bem trabalhadas, podem ter uma resposta positiva. Menos fluxo de pessoas, ambiente 100% controlado pela marca", avalia Ligia. A grande herança da quarentena é a distinção clara do que é essencial, do que é prescindível.
Biossegurança é o protocolo da vez. Para 91% delas, ser transparente com os procedimentos de higiene dos espaços – principalmente nos shoppings, peças e cuidado com equipe – fará marcas permanecerem na lista de favoritas ou não. E, claro, responsabilidade social será um fator de desempate entre as marcas preferidas – 74% querem algo das marcas que amam além do "nome", e 64% pretendem optar entre as suas favoritas na que mais colaborou ou colabora gerando empregos e ajudando pessoas em grupo de risco.