Não sei se era muita badalação, mas o certo é que quando Paulo Borges criou o São Paulo Fashion Week, há 25 anos, a maior festa que a moda nacional já promoveu, era realmente um acontecimento. Os desfiles realizados em São Paulo se transformaram em lançamentos que reuniam não só a imprensa nacional e internacional, mas também uma boa fatia da sociedade. Resultado disso é que as criações de grifes pouco conhecidas se tornaram notícia, propiciando um verdadeiro mercado para um segmento industrial com muitos funcionários (na época, só a construção civil tinha mais empregados).
Cresceram os estilos, cresceram os verdadeiros criadores e quem tinha realmente força e talento conseguiu se sobressair. Quem apenas embarcava na badalação sumiu sem deixar rastro. De Minas, um dos nomes mais constantes e que continuou sempre foi o de Ronaldo Fraga, que continua fazendo história e mantendo seu talento em alta. Minas atraía – e de certa forma foram os desfiles do Grupo Mineiro de Moda (GMM) que alertaram Paulo Borges para montar sua semana de moda. O GMM acabou tristemente, mas Borges continua labutando para dar continuidade ao evento.
Foi por isso que, em 12 de março, antes da terrível pandemia fechar o mundo, Paulo Borges reuniu equipe e as principais empresas de moda do país e antecipou-se ao que estava chegando no mundo. Borges decidiu, em sua comunicação, que não haveria a edição de número 50 da São Paulo Fashion Week, prevista para outubro. "Foi a primeira vez em 25 anos que isso aconteceu. Fomos na contramão dos governos municipal, estadual e federal, cancelamos antes de qualquer decreto", falou Borges. Este 2020 havia sido traçado para trazer novidades e celebrar os 25 anos do SPFW. Mas a pandemia inverteu planos e lógicas, brecou o consumo e impôs novas atitudes.
De lá pra cá, todo o planejamento foi revisado, ouvindo o mercado e procurando ajustar de que forma seria possível acolher as marcas e projetar os próximos passos em resposta às novas dinâmicas impostas por esse novo contexto. Em princípio, acreditou-se que seria possível que, até o fim do ano, o cenário seria favorável para a realização de uma nova temporada de lançamentos, de 4 a 8 de novembro. Chegou-se até a se desenhar um formato híbrido, observando todos os protocolos de saúde, com uma estrutura física reduzida e restrição de público. Mas a avaliação final levou à conclusão de que seria inevitável a concentração de inúmeros profissionais que atuam nos bastidores dos desfiles e que, apesar de todos os cuidados, ficariam expostos a riscos.
A saída encontrada foi transferir para 2021 o projeto do Festival SPFW +. A solução, para a data não ficar em branco, foi transferir para a semana de 4 a 8 de novembro a celebração dos 25 anos de história do SPFW. A comemoração será realizada com um evento essencialmente digital, a partir de uma agenda de conteúdos históricos e inéditos, ampliados pelas redes e compartilhados em múltiplas projeções.