Começou ontem a estação mais florida do ano, a primavera. Responsável por deixar as paisagens ainda mais bonitas, a temporada, que se estende até o final de outubro, também esconde um vilão: a proliferação de vírus e bactérias causadores de doenças como roséola, eritema infeccioso, escarlatina e a temida catapora. Grande vilã da temporada, estudos mostram que no Brasil, entre os meses de setembro e outubro, há um aumento no número de casos de varicela, ou catapora, como é popularmente conhecida.
A varicela é causada pelo vírus Varicela-zoster e considerada uma doença da infância. No Brasil, apenas 10% da população com mais de 25 anos de idade não teve a doença. A catapora é olhada, pelos mais velhos, como um acontecimento corriqueiro da infância, mas deixa um rastro que poucas pessoas conhecem.
Como eu, por exemplo. Apareci com uma coceira no rosto, pouca, mas incômoda. Passa creme daqui, experimenta creme dali e nada de o negócio acabar. Resolvi então ir ao dermatologista, Luiz Maurício Almeida, que, craque, bateu o olho e decretou logo: você não está com coceira. Isso é uma pequena amostra de herpes-zóster. Delicado, quis saber se eu, na infância, havia passado por catapora. É claro que sim. “Vacinou depois?”, quis saber. Nada, pois já não tinha passado pela catapora?
Então, ele me contou que a catapora deixa essa sequela através dos anos – e que meu herpes-zóster podia voltar algum tempo depois. Passei os cremes que ele me receitou e aprendi o nome popular da coceira no rosto que ele não me falou: tratava-se do popular cobreiro, que dá a torto e a direito, no rosto ou no corpo, sem controle e, em alguns casos, bem incomodo e dolorido. Passei pela crise de cobreiro, como passei a chamar a coceira, para arrepiar quem perguntava o que era aquilo, e ele por enquanto ainda não voltou. Aprendi, com isso, que catapora só não era problema sério nos tempos áureos, que as doenças infantis eram enfrentadas sem muito alarde (e, por isso mesmo, muitas vezes com tristes resultados).
Então, a doença está aí, e o Ministério da Saúde contabiliza que, de 2012 a 2017, foram notificados 602.136 casos de varicela no país, embora não existam dados consistentes sobre a real incidência da doença, porque apenas os casos graves, internados e óbitos são notificados, mas estima-se que ocorram cerca de 3 milhões de casos, em média, todos os anos.
A varicela costuma apresentar um curso benigno, mas em adultos apresenta um maior potencial de letalidade, o qual pode ser até 40 vezes maior do que em crianças. O número de hospitalizações é maior em crianças, por ser mais frequente na população infantil, mas, proporcionalmente, os adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito.
Geralmente, se manifesta com queixas gerais, como febre, dor de cabeça, mal-estar geral e as características lesões de pele que aparecem como uma mácula avermelhada e evoluem para vesículas. Podem-se observar lesões em diferentes fases em todo o corpo. Pelos padrões atuais, é muito importante procurar atendimento médico já no início dos sintomas para obter as orientações quanto ao isolamento, cuidados gerais e terapêutica, mas também para a detecção precoce de complicações, que possam ocorrer.
Etapa muito importante de cuidado com o paciente é evitar o contágio de outras pessoas, porque a catapora é altamente contagiosa. É imprescindível restringir o paciente de locais públicos, até que todas as lesões estejam cicatrizadas, o que pode persistir por até duas semanas. Roupas, mãos, toalhas, itens de uso pessoal e objetos que possam estar contaminados devem ser higienizados constantemente.
A vacina é a melhor forma de se evitar a catapora. O esquema de vacinação começa aos 12 meses de vida, com duas doses com intervalo de três meses. Em situações de risco, como surto em escolas, creches ou domicílio, deve-se realizar a vacina a partir dos 9 meses de idade, como um bloqueio. Para todas as crianças que fizerem a vacina precocemente, nessas situações de surto, o esquema vacinal aos 12 meses de duas doses deverá ser mantido. Todas as crianças, adolescentes e adultos suscetíveis que não tiveram catapora devem ser vacinados e pode-se também fazer a vacinação pós-exposição, até 72 horas após o primeiro contato com uma pessoa doente.