Juro por Deus. No dia em que saí da redação aqui do Estado de Minas levada por esta praga que caiu sobre o mundo, achei que, com o avanço da civilização e da ciência, não ficaria em casa nem até o fim do mês. A burrice foi total – minha e de todos que foram na mesma ilusão –, e hoje entramos no oitavo mês de trabalho doméstico. Com isso, todos acabaram criando uma nova forma para espantar o tédio, o estresse e as notícias sinistras que cercam o mundo.
Como a comunicação pessoal praticamente não existe, acabamos nos ligando a jornais da TV com esse formato novo que os seguidores habituais conhecem: abaixo do noticiário presencial passam legendas de fatos cujos detalhes gostaríamos muito mais de saber do que as notícias em destaque.
Na semana passada, a curiosidade foi a notícia sobre um nutrólogo – aquele especialista que trata do que comemos e do que nos faz bem ou mal – que estava abusando sexualmente das clientes. Passei o dia inteiro imaginado que mulher vai ao médico para tratar do que come ou não e acaba sendo “vistoriada” sexualmente por ele. Alguém já imaginou a tolice disso? Ou a burrice total da paciente, que acredita que é preciso examinar o “lá embaixo” para saber como anda sua saúde?
Não sei se o “achismo” que nos atinge diariamente com a mesma força da COVID-19 está espalhando também o vírus da ignorância generalizada. A que tem atacado mais – e isso está todos os dias nos jornais – são os golpes mais primários passados por quem quer ser mais esperto e levar vantagem. Este jornal publica todos os dias um anúncio avisando aos leitores que não tem cobradores autônomos, que não delega a nenhum corretor o direito de fazer cobranças em seu nome. Tenho topado com muita gente viva, inteligente, que cai no golpe com uma confiança total.
Outro golpe muito comum é o que persegue as pessoas que, como eu, trabalham com computador. Nos meses passados, recebíamos semanalmente e-mails de pessoas doentes (quase todas com câncer), moradoras de países longínquos, nos oferecendo dólares e mais dólares de mão beijada. E o escolhido para tanta graça não precisa fazer nada, a não ser enviar ao doador seus dados pessoais.
Já os doleiros estão meio sumidos. O que tem muito, atualmente, são duplicatas “vencidas” em seu nome. Recebo muitas, sempre. Como nunca comprei e nunca – se Deus quiser – vou comprar qualquer coisa pagando com duplicata, só tenho o trabalho de deletar o planejado golpe.
Truque muito comum, nos últimos tempos, é o de empresas que telefonam pedindo dados para enviar pagamentos esquecidos de seguros, ou em nome de gerentes de banco solicitando informações sobre isso ou aquilo. Desde o dia em que caí como uma burra total no golpe do cartão de crédito clonado, despacho logo quem me telefona pedindo qualquer tipo de informação, bancária ou não. Aprendi e passei muitos dias pelejando com o problema, até na polícia tive que ir para dar parte do golpe.
Outra tolice sem nome é o truque da comissão. Alguns vendedores de lojas – principalmente farmácias – que ganham comissão têm sempre a proposta de nos vender mais do que queremos ou remédios com doses maiores, mais caros. Aquela história de levar com 60 comprimidos o remédio que deve ser comprado com 20 não é raridade. A saída para esse tipo de “golpe inocente” é comprar sempre no mesmo local, com vendedores que nos conhecem e, por isso mesmo, respeitam a nossa compra. O golpe é mínimo, quem dá leva apenas alguns trocados – mas que irrita, irrita.
Não sei como é que as coisas andam hoje, mas o golpe do joão sem braço maior é, sem dúvida, aquele passado pelo presidente norte-americano, que paga menos Imposto de Renda do que qualquer um de nós. Por bobeira ou por acreditar que isso passaria sem ninguém notar?