Depois de Maria Lúcia Café, outra autora lança livro sobre sua vida – desta vez junto com o marido, o juiz Sergio Moro, herói do Lava-Jato e ex-ministro da Justiça. Ela não é estreante, já tem mais dois livros publicados.
Muito se especula sobre a vida pessoal do ex-ministro Sergio Moro, um dos principais personagens da história recente do Brasil e responsável pela maior operação anticorrupção do país. Com um estilo reservado e discreto, Moro se tornou uma figura pública que causa alvoroço por onde passa. Com o olhar privilegiado de quem acompanhou de perto os principais momentos da carreira do ex-magistrado, Rosangela Moro compartilha diálogos, percepções e as mudanças na rotina da família em períodos em que o marido esteve no comando da Lava-Jato e foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
O casal se conheceu na década de 1990, na Faculdade de Direito de Curitiba, quando Rosangela era graduanda e Sergio Moro um jovem professor recém-contratado para assumir a cadeira de direito constitucional. A autora narra no livro o início da vida do casal em Cascavel, interior do Paraná, para onde se mudou quando Moro assumiu o posto de juiz federal. Desde então, tentando equilibrar os papéis de mãe de dois filhos, advogada dedicada à prestação de serviços para as Apaes e de esposa, Rosangela acompanha a rotina da família se modificar a cada dia. Em 2007, após o juiz dar ordem de prisão a um traficante de drogas e à sua esposa, a Polícia Federal precisou designar uma equipe de escolta para os Moro. Esse foi o primeiro grande desafio da família.
Em Os dias mais intensos, Rosangela resgata alguns momentos marcantes da Operação Lava-Jato, como o dia em que Lula foi preso e o áudio do telefonema entre o ex-presidente e a então presidenta Dilma que repercutiu país afora. No capítulo Tchau querida, revela que Moro estava jogando basquete com os filhos enquanto o Brasil parava na frente da televisão. "Sergio Moro é assim: quando ultrapassa o momento reflexivo para tomar uma decisão, ele vira a página e espera pelo próximo capítulo, sabendo de todas as consequências que suas escolhas podem surtir. Eu nunca o vi remoendo decisões ou pensando, a posteriori, se poderia ter agido de outra maneira", ela conta no livro.
Sobre a passagem de Moro no Ministério da Justiça, Rosangela cita a esperança sentida no início do mandato de Jair Bolsonaro, a quem se refere como um "outsider que se propunha a mudar os rumos do país", mas revela que, depois das “frituras” de Sergio no governo, começou a ver o cenário com outros olhos. "Meu marido sentia que suas pautas eram órfãs do governo, o que confessava a mim, e seguiu em frente até o limite do que, para ele, seria aceitável. Se fosse subordinado à vontade de alguém, ele não teria condenado pessoas poderosas como fez. Eu não sei dizer o motivo de o Planalto não encampar o que Moro defendia: se era para evitar o protagonismo dele na agenda anticorrupção ou se era porque não queria que a pauta avançasse. O governo se aliou a pessoas que não têm um currículo exemplar e a pauta anticorrupção poderia não ser mais interessante para eles", ela conta.
No livro, Rosangela também critica a posição do governo com relação à pandemia, afirmando tratar-se de uma atitude negacionista com relação à gravidade do problema, com a qual não concorda, e reflete sobre as ofensas intensificadas que a família passou a sofrer após a saída do marido do ministério. De acordo com ela, "antilavajatistas somam-se aos bolsonaristas para criticar a todos nós, como se o culpado de um assassinato fosse quem descobre o cadáver, e não o seu assassino".
Nascida em 28 de maio de 1974, Rosangela Wolff Moro é filha de uma professora e de um mestre de obras que não pouparam esforços para a educação dos filhos em excelentes escolas em Curitiba. Cursou a Faculdade de Direito de Curitiba, especializando-se em direito público, ramo no qual atua até hoje. Casada com Sergio Moro, acompanhou-o em sua trajetória de magistrado pelo interior do Paraná e de Santa Catarina até 2003, quando fixou novamente residência na capital paranaense. Identificou-se com o movimento das Apaes e com as associações de pessoas com doenças raras e vem prestando serviços jurídicos para esse segmento. Publicou dois livros: Regime Jurídico das Organizações da Sociedade Civil, de 2014, e Doenças raras: Entender, acolher e atender, de 2020. Fez pós-graduação em direito tributário na Universidade de Joinville.
"Nada seria possível se essa verdadeira ‘Dama de Ferro’ não estivesse ao meu lado, especialmente nos momentos mais difíceis. A recompensa: família mais unida, dever cumprido e o sentimento de ter feito a coisa certa para a construção de um país melhor", declarou Sergio Moro.