Não entro há meses em um shopping, não compro roupa nova há meses – e a vontade sumiu, principalmente com a pandemia. Onde usar roupa nova sem poder sair de casa? Mas dezembro derruba todos os projetos de contenção de gastos. No primeiro emprego com carteira assinada que tive, numa seguradora que era do grande amigo da minha família Mário Magalhães, saí abonada do escritório e fui para a Avenida Afonso Pena, que era o máximo do chique na ocasião: tinha a Sibéria, que vendia até casacos de vison; a Guanabara, que tinha andares e mais andares de produtos à venda; e a Casa Sloper, com as vitrines voltadas para o passeio da avenida, onde era moda fazer o trotoir para ver as lojas cheias de ofertas e as pessoas.
Achei uma verdadeira maravilha ter em mãos uma grana que não fazia parte do salário normal já todo regulado para as despesas do mês e gastar o 13º da maneira que bem quisesse. Já tinha meu projeto em mente: comprei um sapato lindo, salto alto, branco, na Sloper, e um broche que parecia joia antiga para minha mãe.
Guardei esse desvario de fim de ano e tenho rodado daqui e dali para reforçar as comemorações natalinas, que são uma verdadeira religião e programa pelo qual vale tudo. Essa minha doideira me vale caixas e mais caixas de enfeites natalinos que comprei nos Estados Unidos e em outros países por onde passei, numa época em que as viagens eram normais em minha vida. Mas há sempre aquela vontade de ver as novidades e acabo capitulando.
Um dos pontos onde sempre vou é a Embalagens Santa Luzia. Sou atendida com toda simpatia pelas donas, Katia e Patrícia, e saio de lá sempre com muita novidade. Este ano, fui dar uma olhada na loja de Alexandre Maia, sobrinho do meu amigo nova-iorquino Ronaldo Maia, e saí correndo. O lugar está um desafio para quem curte festas natalinas, tudo parece ter chegado da véspera daquele shopping imenso de Nova York, onde fui uma vez com meu amigo BenHur Motta. Estava tão louca e maravilhada que tracei um patuá de inglês com espanhol que ninguém entendia. Mas saí de lá com um carregamento completo, inclusive a coleção de ninhos de palha com codorninhas cobertas de pena que nunca mais vi em canto nenhum.
Então, depois de uma temporada de recessão para resistir aos duros tempos que enfrentamos – “igual ao fim da Segunda Guerra Mundial”, dizem os que gostam de sofrer, de se autoflagelar –, estamos aqui. Como vivi alegremente no fim da Segunda Guerra Mundial, comendo bolo de fubá, quiabo com angu e frango criado no quintal da casa, ganhando de presente natalino um álbum maravilhoso do Príncipe Valente, que tenho até hoje, enveredei pelo caminho consumista do fim de ano. Não esperava encontrar o esvaziamento que tenho enfrentado. Corri lojas e mais lojas em busca de velas vermelhas, que só acabei encontrando naquela fábrica que fica no Mercado Novo.
A proprietária, que conheço há vários anos, me contou que as velas estão difíceis porque ninguém consegue mais comprar parafina – sumiu desde julho. Outro lance difícil são as etiquetas para marcar presentes. Quem não quiser usar cartões tem de esperar aqueles pedacinhos de papel serem impressos, raramente se encontra algum pronto. O dono da papelaria me conta que ninguém estocou, porque não achava que fossem procurados. Tive de esperar um bom tempo para a preparação das etiquetas que queria – aliás, elas não são lá essas coisas.
Outro lance que tem que ser raciocinado com cuidado é manter a programação da ceia com a mesma fartura de outros tempos. Como a maioria dos produtos da época são importados, os preços estão de deixar o consumidor de queixo caído. O presunto cru, espanhol, superou os R$ 200 o quilo. E não sei a razão, por aqui só existem peças com mais de seis quilos. No Mercadão de São Paulo, eles têm peças menores, com cerca de dois quilos, que são perfeitas para uma noite familiar, pode ser toda consumida de uma vez.
É preciso pesquisar o preço das nozes, elas podem ir de pouco mais de R$ 40 até acima de R$ 50. E a castanha portuguesa, que tem o gosto tradicional das festas natalinas, superou R$ 100 o quilo. Quem se anima a comprar tem que pesquisar muito, porque se foram importadas muito tempo antes, estão velhas, inúteis para consumir. Mas como é possível resistir?