Sobrevivente que sou de dois cânceres que matam muita gente – na mama e no intestino –, ambos tratados no Mater Dei, com absoluto sucesso, por Henrique Salvador e Marcus Martins, aproveito ser hoje o Dia Mundial de Combate ao Câncer para abordar o assunto, porque recebi um e-mail da neuropsicóloga Leninha Espirito Santo Wagner que aborda o que sempre achei e professei: quem tem câncer deve falar sem restrições sobre a doença, a saúde mental é tão importante quanto o tratamento. Nas duas vezes em que passei pelo problema, não tive o menor preconceito em abordar minha situação.
Da primeira vez, na mama, fiz radioterapia com Miguel Torres, no Hospital São Francisco – único da cidade que, na época, fazia o tratamento. Saindo da aplicação, vinha direto trabalhar no jornal. Tinha como cuidado cobrir toda a área com muito creme hidratante, para não me queimar. Não tive a menor sequela e passei em branco sobre preocupação mental sobre o câncer.
Passados alguns anos, o danado voltou no intestino. Queria ser operada, mas pedi ao Marcus que se fosse preciso fazer colostomia, deixasse o tumor lá. Não suportaria ficar com aquela bolsa externa, para isso não tinha força mental. Não foi preciso, e ele me recomendou fazer quimioterapia, que era aplicada em minha casa, uma trabalheira só.
Não me dei bem com o tratamento, fui parar no Mater Dei, para não morrer em casa. Não morri, mas também não quis me submeter mais à químio. Preocupado, o doutor Salvador me deu um prazo para recomeçar o tratamento. Não quis mais – e estou aqui falando para quem quiser ouvir sobre minha experiência, que não foi pouco, mas também não foi traumatizante.
Por isso, resolvi transcrever hoje o e-mail da neuropsicóloga, para quem o acompanhamento psicológico pode ajudar a enfrentar os momentos desafiadores do tratamento. O apoio mental é recomendado também a familiares e amigos do paciente.
“O tratamento de uma doença grave, como o câncer, nunca deve ser só físico. Parte da luta pela cura está no apoio psicológico que pacientes e familiares precisam receber para lidar com os desafios do tratamento médico. De acordo com a estimativa do Instituto Nacional de Câncer, o Brasil deve registrar cerca de 625 mil novos casos de câncer em 2021, e, neste 4 de fevereiro, dia em que se comemora o Dia Mundial de Combate ao Câncer, especialistas ressaltam a importância do atendimento psicológico nessa jornada”, afirma Leninha Wagner.
“Sem saúde mental não pode haver saúde alguma. Há quem tenha estrutura mental forte, inabalável, mas há quem tenha estrutura mais fragilizada. Diante da notícia do diagnóstico da doença, ainda que não seja consigo, há pessoas que ficam tão abaladas que se abrem a quadros de doenças mentais”, ressalta a neuropsicóloga.
Para a especialista, além do atendimento ao paciente, pessoas diretamente ligadas à situação também devem buscar ajuda.
“Todo o sistema familiar envolvido e comboio social mais próximo se tornam a rede de apoio para o paciente no processo do diagnóstico, cirurgia, pós-cirúrgico e tratamento. Não raro, a depender da idade, dos vínculos emocionais, do registro da subjetividade ou dos traços de personalidade, o pai, a mãe, o marido ou esposa, um dos filhos ou mesmo um amigo muito próximo ficam mais alterados e precisam de mais apoio que o próprio paciente”, salienta.
A especialista também indica que o tratamento psicológico se inicie junto ao oncológico. “Após o diagnóstico, vêm o tratamento, quimioterapia, radioterapia, exames auxiliares, acompanhamento com o cirurgião e o oncologista. Para todo esse enfrentamento, um profissional da saúde mental pode ser de grande valia, no sentido de acompanhar a demanda mental de cada paciente, trazer novas decisões, executar ações benéficas, retirar comportamentos deletérios e muito mais”, finaliza Leninha Wagner.