Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Progressos da radioterapia facilitam o tratamento do câncer de mama

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Quando fui operada de câncer de mama por Henrique Salvador, que estava começando sua vida médica, na qual faz tanto sucesso, o Mater Dei ainda não contava com serviço de radioterapia. O resultado é que fui parar no Hospital São Francisco. O tratamento era diário, não respeitava nem sábado e nem domingo. O único cuidado era usar muito hidratante na região, para evitar queimaduras.





Era um tratamento mais do que fácil – saía de lá e vinha para o trabalho sem complicações. Trombei, mesmo, foi com a quimioterapia, que por pouco não me mata se eu não tivesse pulado fora. De lá pra cá, muita coisa mudou na área e as mortes por câncer de mama diminuíram significativamente.

O Centro de Pesquisa do São Camilo Oncologia deu início a um estudo a respeito de pacientes com diagnóstico de câncer de mama em fase inicial submetidas à cirurgia conservadora da mama. O levantamento tem como objetivo verificar a eficácia do tempo de exposição da paciente a sessões de radioterapia.

O estudo exploratório, chamado Lapidary – que traz o significado de lapidação da radioterapia –, vai analisar, além da linha de tratamento com irradiação da mama em 15 sessões (hipofracionada) por três semanas, o experimento de irradiação da mama total em apenas cinco sessões (acelerada) e, ainda, a irradiação parcial da mama em cinco sessões (acelerada parcial), ou seja, apenas no leito tumoral. Nos dois últimos, o tratamento seria feito em apenas uma semana.





As técnicas de simulação e tratamento não se modificam, de acordo com Eduardo Barbieri, médico radio-oncologista do São Camilo Oncologia e idealizador do estudo. O que muda é o volume de tratamento e o número de sessões.

“Existem dados na literatura que indicam resultados favoráveis, com redução de frações de radioterapia e ajustes de doses, permitindo o controle local do tumor e a redução dos eventos adversos tardios. O menor tempo de tratamento traz benefícios como, por exemplo, a redução do número de visitas da paciente ao hospital (de três a quatro semanas para uma semana), sem repercussão no controle local da lesão e/ou impacto no resultado estético pós-radioterapia”, informa.

Além da redução do período de tratamento, o estudo avalia a radioterapia acelerada parcial da mama, que consiste no procedimento apenas no leito tumoral em cinco sessões, preservando a maior parte da mama, com menos efeitos colaterais e melhor resultado estético.





“O racional da radioterapia parcial da mama é baseado na evidência de que mais de 85% das recaídas locais acontecem no leito tumoral inicial”, observa Barbieri. De acordo com ele, a redução do tempo de tratamento tem impacto no acesso à terapia e nos custos do sistema de saúde, pois permite tratar mais mulheres no Brasil, onde a demanda por radioterapia é reprimida, reduzindo a necessidade de deslocamento das pacientes e a quantidade de horas de trabalho. “Um desafio é reduzir a morbidade sem comprometer a capacidade de cura do câncer”, afirma.

A radioterapia pode ser realizada exclusivamente ou associada a outras modalidades terapêuticas. Inicialmente, a radioterapia pós-operatória de mama era realizada com 25 a 30 sessões, cinco vezes por semana, durante cinco a seis semanas. A partir de publicações de seguimento a longo prazo, esse esquema de hipofracionamento em 15 a 20 sessões começou a ser adotado amplamente no Brasil.

“Embora haja maior utilização do regime hipofracionado, não temos dados comparativos sobre o regime ideal de tratamento radioterápico de pacientes com câncer de mama, em estágio inicial, na nossa população. A redução desse tipo de tratamento, com os benefícios associados, é o que pretendemos comprovar”, finaliza Eduardo Barbieri.

audima