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Zuzu Angel, cujos 100 anos são lembrados hoje, valorizou o Brasil

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Hoje é o dia do centenário de nascimento da mineira Zuzu Angel, morta pelo governo brasileiro em 1976, durante a ditadura. Temos que celebrar toda e qualquer data que faça o Brasil se lembrar desta mulher guerreira e sem medo, que desafiou o regime militar cobrando o corpo de seu filho Stuart, torturado e assassinado por agentes da repressão, em 1971.





Para saber mais dessa história, leiam a matéria publicada hoje no primeiro caderno deste jornal, assinada pelo jornalista Gustavo Werneck, sobre as ações planejadas para a comemoração do centenário de Zuzu ao longo deste ano.

Amanhã, no Caderno Feminino & Masculino, publicaremos uma grande matéria, mas não poderíamos deixar de falar dessa mulher que fez moda na contramão do caminho que todos os grandes estilistas brasileiros seguiam. Eles traziam para cá a moda europeia. Zuzu criou moda valorizando materiais nacionais e exportou a nossa brasilidade.

Mineira de Curvelo, ela levou para os Estados Unidos a nossa renda de bilro e o algodão estampado, mas, como escreveu a titular desta coluna em 1986, “uma andorinha só não faz verão também na moda – apesar da sua ideia interessante e pioneira, Zuzu não encontrou seguidores, não fez escola, não firmou tendência”.





Porém, anos depois, ela virou notícia mundial com o primeiro desfile-protesto realizado na casa do cônsul-geral do Brasil em Nova York, exibindo roupa como bandeira da indignação, denunciando a repressão da ditadura e marcando o luto por seu filho.

Ninguém pode negar que a roupa de Zuzu marcou uma época e deu voz para a moda. A jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu, fez uma análise da importância da moda criada por sua mãe, que rompeu barreiras:

“Zuzu Angel significou o ponto fora da curva na moda em nosso país, o ponto da consciência e da virada. Pois foi a primeira a denunciar a colonização mental e cultural de nossos criadores de moda, até mesmo os mais talentosos, que condicionavam suas criações aos padrões importados, sejam de estilo, técnica, cor e até de altura da bainha.

Modelo inspirado em Carmen Miranda

Zuzu foi um norte, uma bússola. Apontou o despropósito de os artistas brasileiros da moda, neste país inspirador, solar, colorido, intenso em sua história, alegrias e dores, festas populares, heróis, mitos, flores, pássaros, matas e minérios, irem buscar inspiração, beleza e regras no Velho Continente cansado de guerra.





Zuzu rompeu com essa ‘prisão cultural’ e voou com os pássaros, se lambuzou com as mangas- carlotinha, admirou matas, cheirou flores, ampliou limites e até ousou denunciar opressão, torturas, a política assassina do Estado brasileiro na ditadura militar, com seus vestidos pueris, singelos, cheirando a quintal varrido das cidades do interior, com suas rendas coloridas balançando no varal, com suas toalhas de mesa de renda do Norte vestindo noivas, com suas contas de jacarandá, os bambus e as conchas bordando vestidos.

Enfim, Zuzu foi o Brasil que era omitido em nossa moda, como se ela se envergonhasse dele, e só vestisse tailleurs, drapées, pied de poule e outros termos franceses, em vez de babado sim, babado não, bordado também, franzidos e fuxicos.

Zuzu foi mineiramente inteira no que produziu e deixou o legado da elegante legitimidade, da franqueza pueril, da moda com sotaque da nossa história.

Isabela Teixeira da Costa/Interina





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